A morte esta sexta-feira de Jorge Sampaio, aos 81 anos, gerou uma vasta onda de homenagens ao antigo Presidente da República português.
Inúmeras personalidades de todos os quadrantes da sociedade, da política ao desporto, passando pela advocacia e mundo empresarial, têm elogiado a figura de Sampaio, ele que foi a mais alta figura do Estado português entre 1996 e 2006 quando ocupou o Palácio de Belém.
De Lisboa para mundo
Homem de esquerda e advogado de formação, Sampaio notabilizou-se por defender antes do 25 de abril vários presos políticos durante a ditadura, no Tribunal Plenário de Lisboa.
Eleito líder do Partido Socialista em 1989, Sampaio teve diferentes posições de liderança nas funções que foi assumindo ao longo da vida, entre as quais se conta o cargo de Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (em 1989 vencendo as eleições com uma coligação entre o PS e o PCP, derrotando o candidato do centro-direita Marcelo Rebelo de Sousa; e depois reeleito em 1993).
Sampaio destacou-se ainda pela forma como acompanhou a transição de Macau e o processo da independência de Timor-Leste, sendo agraciado com o Grande Colar da “Ordem de Timor-Leste”, em “profundo reconhecimento” pela “solidariedade e apoio ativo” na luta pela independência do povo timorense.
Em 2006, foi nomeado pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas como enviado especial para a Luta contra a Tuberculose e entre 2007 e 2013 foi Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações, no mandato do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Atualmente presidia à Plataforma Global para os Estudantes Sírios, uma organização fundada por si há oito anos com o propósito de contribuir para ajudar os milhares de jovens sírios sem acesso à educação devido ao conflito na Síria.
Ao longo da via, Sampaio recebeu vários doutoramentos honoris causa pelas universidades de Aveiro, Coimbra, de Lisboa e do Porto.
Pela liberdade e democracia
Reagindo ao desaparecimento do ex-chefe de Estado, António Costa, primeiro-ministro de Portugal, “curva-se na memória de alguém que foi um lutador pela liberdade, pela democracia e que tanto prestigiou com a sua verticalidade ética a nossa vida política”.
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, afirma que Sampaio “nasceu e formou-se para ser um lutador e a causa da sua luta foi a liberdade da igualdade”, lembrando “as intervenções decisivas desse furacão ruivo na Alameda da Universidade de Lisboa, em 1962”.
O atual Presidente português destacou a “sensibilidade” de Sampaio “porque provou que se pode nascer privilegiado e converter a vida na batalha pelos não privilegiados”.
Além-fronteiras, a morte de Sampaio motivou múltiplas reações também.
João Lourenço, atual Presidente de Angola, lamentou a morte do estadista português: “Foi com um profundo sentimento de pesar que tomei conhecimento do falecimento, por doença, de Jorge Sampaio, personalidade de grande relevo na vida democrática portuguesa”, escreveu Lourenço em nota oficial.
O atual Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca. juntou-se às homenagens públicas: “Perde-se um grande democrata, estadista, amigo de Cabo Verde e do mundo da língua portuguesa”, declarou o chefe de Estado cabo-verdiano.
Por seu lado, o secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) considera que Jorge Sampaio, “foi um incondicional militante das causas dos povos e dos valores” do espaço lusófono.
O timorense Zacarias da Costa, que tomou posse no cargo em julho, destaca “o papel desempenhado por Jorge Sampaio na cimeira fundadora da CPLP, em 1996, enquanto Presidente da República Portuguesa, bem como na defesa da Liberdade e da Democracia, do Desenvolvimento e do diálogo intercultural global em diversas plataformas”.
António Guterres, secretário-geral da ONU, sublinhou a figura “central” da democracia de abril que foi Jorge Sampaio, considerando-o um “incomparável homem de Estado” que deixou uma marca “decisiva” na luta pela paz e no diálogo entre civilizações. Guterres acrescentou ainda que Sampaio, seu amigo e que em julho de 2015, recebeu o Prémio Nelson Mandela, foi igualmente “um companheiro de luta em tantos momentos decisivos para a vida do nosso país”.
Luto de três dias
Jorge Fernando Branco de Sampaio nasceu em Lisboa, em 18 de setembro de 1939 e faleceu esta sexta-feira, 10 de setembro, no Hospital de Santa Cruz, Carnaxide, na sequência de dificuldades respiratórias.
O Conselho de Ministros vai decretar luto nacional de três dias a partir de amanhã, sábado, 11 de setembro, até segunda-feira.
Velório e funeral
O velório vai realizar-se este sábado, no antigo Picadeiro Real, em Belém, a partir das 11h e decorre até às 23h. O funeral realiza-se no domingo.
O corpo sai às 10h com escolta a cavalo para os claustros do Mosteiro dos Jerónimos para uma cerimónia não religiosa, às 11h, pontuada com discursos da família e das três mais altas figuras do Estado.
Às 13h, segue para o cemitério do Alto de São João, onde vai ficar no jazigo da família, numa cerimónia privada.