Como é que surgiu o nome “Cheffes”?
“Cheffes” é a grafia feminina inclusiva de “chef” de cozinha, no plural porque somos um grupo de 15 mulheres. “We Cheffes” pega o tradicional “Oui, chef” entoado nas cozinhas francesas e de outros lugares, onde o chef e a brigada são maioritariamente homens, e transforma o “Oui” para “We” (nós), representando a comunidade. E “cheffes” para as mulheres de todas as idades e origens sociais e culturais que a compõem.
Descrevem-se como “mulheres do mundo”, que culturas é que se cruzam neste negócio?
Somos mulheres dos quatro cantos do mundo, da Ásia, África, América Latina, Europa e Médio Oriente. Sahida do Bangladesh, Fatou do Senegal, Polly do Brasil, Sozgin da Turquia, Lina de Cabo Verde, Luz do Peru, Ploy da Tailândia, Tika da Indonésia, Niyanta da Índia, Tetyana da Ucrânia, Carmen de Angola, Wadad do Líbano, Minna de Hong Kong, Mona da Tunísia e Yeyeh de Taiwan. As fundadoras [Olivia e Mafalda], de França e de Portugal.
As diferenças culturais são muitas vezes vistas como uma barreira, um problema, nos dias de hoje, mas na nossa empresa são a nossa força e a nossa marca. Quando as Cheffes chegam a algum lugar, elas distinguem-se pela sua presença, pela alegria, pelo conforto que transmitem e pela sua generosidade e vontade de partilhar.
Quais são os pratos mais procurados?
É muito difícil responder a essa pergunta. Depende muito. Algumas cozinhas são mais populares em Portugal devido à história e imigração, como a brasileira ou a angolana. Mas eu diria que todas as Cheffes fazem sucesso.
Também procuramos recomendar viagens gastronómicas diferentes aos nossos clientes, para que possam descobrir algo novo e autêntico que não teriam provado num restaurante, e definitivamente não numa mesa de catering num evento. Promover a igualdade entre as Cheffes também faz parte do nosso ADN, para que todas possam trabalhar e ganhar dinheiro com o seu talento.
Agora, se me perguntam qual é o meu prato favorito, seria o curry laksa mee vegano da nossa Cheffe da Malásia, Evita. Ela voltou para a Malásia, por isso desta forma evito ciúmes. É um caril picante à base de coco, com pele de tofu, tofu puffs, pedaços de soja, feijão verde e noodles, com um toque de sumo de lima. Uma explosão de sabores.
O objetivo passa por permanecer apenas em Lisboa ou expandir?
Por agora, o nosso objetivo é que todas as nossas Cheffes possam viver unicamente da sua paixão e da sua atividade. O próximo passo é desenvolver um programa de formação abrangente, em parceria com outras associações e escolas de cozinha, disponível para capacitar e empoderar mais mulheres imigrantes a se tornarem empreendedoras na área da alimentação. Estamos à procura de parceiros que possam fornecer recursos e expertise para o desenvolvimento e implementação do programa. Também estamos interessadas em colaborar com outras organizações que partilham a nossa missão de promover a diversidade culinária e a inclusão social. Assim que a nossa metodologia estiver estabelecida e a funcionar, poderemos pensar em expandir para outras cidades.
A mulher chefe de cozinha recebe o reconhecimento devido em Portugal?
As mulheres cozinheiras de todo o mundo não recebem o reconhecimento merecido. Globalmente, as mulheres cozinham em casa o dobro do que os homens. No entanto, em Portugal, não há nenhuma mulher cheffe com estrela Michelin, e elas representam apenas 6% dos chefs estrelados em toda a Europa. A primeira mulher negra a receber uma estrela na Europa foi Adejoké Bakare, no Reino Unido, e foi este ano. É interessante notar que a maioria dos chefs, quando questionados, mencionam que se inspiraram nas suas mães, avós ou tias. Portanto, onde estão as mulheres chefs? Essa disparidade deve-se a diversas barreiras. A pressão extrema das cozinhas profissionais, uma certa hierarquia patriarcal ainda presente em alguns estabelecimentos, discriminações, e a dificuldade de conciliar obrigações familiares que ainda recaem principalmente na mulher com o ritmo exigente do setor. Por isso, a flexibilidade é um aspeto fundamental da nossa atividade na We Cheffes. Queremos que as mulheres e os seus talentos possam integrar a indústria gastronómica nos seus próprios termos.