A jovem pintora portuguesa, Rita Andrade, tem conquistado renome através das suas obras de arte que em muito se destacam pela visível sensibilidade da artista a causas humanitárias contemporâneas. Com apenas 26 anos, Rita já conta com uma formação sólida e internacional no mundo das artes, com um número significativo de exposições de sucesso. Foi na nossa capital que concluiu a sua licenciatura, na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, e, em Londres, que completou o seu mestrado em Arte e Política na aclamada Goldsmiths, University of London. Concluiu a sua tese com distinção e regressou a Lisboa, onde atualmente divulga e expõe o seu trabalho.
Com um percurso artístico que até então é inegavelmente marcado pela sua dedicação a temas de justiça social e resistência não-violenta, Rita desde cedo que usa a sua arte como plataforma para dar voz aos mais oprimidos, várias vezes inspirada por experiências pessoais. Em 2019, por exemplo, visitou Belém e Jericó, dois territórios administrados pela Autoridade Nacional Palestiniana, após os Acordos de Oslo de 1993. Este ano, e fruto do que lá observou, inaugurou várias exposições, entre elas, a mediática NonViolent Resistance. A exposição, que vai além de uma simples mostra de arte, foi um manifesto de solidariedade com o povo palestiniano, e metade das receitas das vendas foram doadas para ajudar uma família a sair de Gaza.
Além disso, e tendo participado em exposições solidárias em apoio à Ucrânia e Uganda, é de destacar o trabalho de campo de Rita por várias cidades hondurenhas, de onde nasceu a mostra que intitulou de Hope in the Shadows. Exposição esta que passou pelas Honduras e Espanha, neste caso em Madrid. Uma internacionalização de monta.
A FORBES esteve à conversa com Rita Andrade, que nos explicou, em detalhe, o percurso pessoal e profissional que até hoje tem tido. Com um currículo impressionante e um compromisso inabalável com as causas que defende, Rita continua a inspirar e a mobilizar pessoas através das suas obras. Mas mais do que uma mera expressão estética, a arte de Rita Andrade visa desencadear mudanças sociais e desafiar aqueles que desconhecem os detalhes do que se passa para lá das nossas fronteiras. O estúdio da artista está aberto ao público por marcação e quem quiser pode ir conhecer o seu trabalho ao vivo.
No dia 20 de Dezembro 2024, Rita vai inaugurar a sua sexta e última exposição deste ano, na Galeria António Prates, no conceituado Centro Português de Serigrafia.
Rita, antes de mais, como é que surgiu este teu interesse pela pintura?
Rita Andrade: Diria que o meu gosto por desenhar começou muito cedo, tinha eu por volta de 4 anos, quando acompanhava o meu pai aos seus jogos de futebol semanais com os amigos. O jogo pouco ou nada me interessava, mas ao lado do campo existia uma escola de equitação que sempre me fascinou. Assim que chegava a casa, agarrava no que podia e começava a desenhar os cavalos no primeiro papel que encontrasse! Nessa altura, nasceram as minhas duas grandes paixões: cavalos e pintura.
Assim que chegava a casa, agarrava no que podia e começava a desenhar.
Decidiste logo que ias estudar arte?
Na verdade, nunca tinha pensado bem no que realmente queria ser. Foi só quando comecei o secundário que percebi que não tinha outra escolha senão a de escolher uma área. Decidi estudar Artes, no Colégio do Amor de Deus, mas mesmo assim a pintura não era a primeira coisa que me veio à cabeça quando tomei essa decisão. Estava mais inclinada a seguir arquitetura ou design de moda – talvez por me parecerem caminhos mais fáceis… ou menos difíceis!
E o que te fez decidir apostar na pintura?
Foi quando comecei a pensar no que ia estudar na faculdade que dei por mim a refletir mais sobre que o realmente me iria fazer feliz. Para mim a pintura sempre foi um passatempo, não a via como profissão e sabia que não ia ser fácil; mas tive o apoio total da minha família em seguir este meu inevitável percurso.
Claro. E começar o pensar num passatempo como profissão deve ter suscitado imensas e enredadas dúvidas. Um efeito dominó, quase, suponho.
Exatamente! Assim que me decidi pelo curso de Pintura e comecei a estudar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, veio-me logo outra questão à cabeça: que tipo de artista sou eu? Lembro-me perfeitamente que nos primeiros dois de quatro anos, durante os quais não sabia muito bem o que andava a fazer e não me agradava o tipo de trabalhos que estava a produzir. Cheguei a pensar em desistir. Sentia que estava a tentar ser uma pessoa que não eu, à procura de agradar os meus professores, e não a fazer algo que me motivasse realmente.
O que mudou? A exposição a novas influências artísticas?
Curiosamente, sim. Em 2018, quando estava prestes a terminar o segundo ano da minha licenciatura, fui ao concerto de um ex-membro dos Pink Floyd, o Roger Waters. Foi um evento que me transformou como artista por ter percebido como podem ser abordadas várias questões políticas através da arte. Apresso-me a dizer que não subscrevo, de todo, as declarações políticas de Waters, nem tão pouco ao apoio que tem demonstrado à Rússia nas Nações Unidas (e não só), mas sei ver e reconhecer aquele dia como um grande catalisador desta minha mudança.
Aprendeste a não estar comfortably numb?
Completamente. Arrisco dizer que foi através da música e poesia dele, da sua arte, que me encontrei como artista. Tocou-me no coração. Além disso, no concerto falou-se muito sobre o povo palestiniano o que despertou em mim uma enorme curiosidade em ir, por mim própria, descobrir mais sobre a Terra Santa. Mas mais do que isso, fez-me querer ser uma artista que usa a arte para transmitir mensagens que tenho como importantes, relacionadas com direitos humanos e sociedades justas. Estou eternamente grata por me ter apercebido da existência do trajeto pelo qual hoje caminho. Acho que sempre tive um quê de revolucionária, que nasci com isso dentro de mim. Olhando para trás, o quarto – e último – ano do meu curso foi completamente diferente do resto. Quanto mais não seja, claro, por tê-lo passado em confinamento.
O concerto fez-me querer ser uma artista que usa a arte para transmitir mensagens importantes, relacionadas com direitos humanos e a sociedade.
Nunca tinhas pensado em usar a tua arte como um manifesto de solidariedade, em prol da mudança?
Só mesmo depois de me tocar o espírito do concerto e das pesquisas que se seguiram depois daquele dia. A coragem dos artistas que o fazem despertou em mim essa vontade. Sou uma pessoa que lida muito mal com injustiças e desigualdades, por isso acho que estava destinada a tornar-me numa “artivista”. Claro que a minha abordagem é muito pacífica e construtiva, não envolve violência nem visa causar danos a ninguém; mas desencadeia diálogo e debate.
Aliás, ao longo da história a arte é tida – e frequentemente utilizada – como um meio de expressão política e revolta social. Do Picasso e Munch aos Pink Floyd e aos Beatles, o discurso público é inevitavelmente “moldado” pelas questões e evidente revolta dos artistas às circunstâncias em que se encontravam…
É verdade. A arte é política, logo não é nada de novo. Na altura dos artistas que mencionas, a tarefa não era mais fácil do que hoje está. Existia mais censura, sim, apesar de hoje também ser difícil fazê-lo. Sinto que a sociedade se ofende muito facilmente e são muito rápidos a julgar quem se manifesta seja como for. Mas o manifesto através da arte tem um impacto, acredito, diferente nas pessoas. A arte diferencia-se por ser uma forma de protesto pacífica. Sou contra manifestações violentas e ditos ‘ativistas’ que apenas praticam vandalismo. Acho que prejudicam aqueles que querem fortalecer a cultura de participação democrática na sociedade.
A arte diferencia-se por ser uma forma de protesto pacífica.
Eu tento fazê-lo da melhor maneira que posso, convidando o meu público a refletir sobre os mais variados temas. A arte é o veículo através da qual eu passo a minha mensagem ao mundo; é o meu convite à reflexão. As pessoas cada vez mais evitam exercícios de reflexão. Mas esta é a música que faço chegar a quem a quer ouvir. E, pelo feedback que tenho recebido, o meu trabalho tem chegado a muitas pessoas.
A arte é o veículo através da qual eu passo a minha mensagem ao mundo; é o meu convite à reflexão.
E foi neste rumo à descoberta do teu papel como artista que decidiste visitar territórios palestinianos, certo? Sabemos hoje que a tua ida a Belém e Jericó teve um enorme impacto no teu trabalho, mas de que outras formas é que te “moldou”?
Certo. A viagem foi em Agosto de 2019 e ensinou-me várias lições e quero apenas destacar uma delas: a importância da pesquisa de campo, quando queremos abordar temas que envolvem o povo de um país, mesmo que neste caso ainda esteja pendente o seu reconhecimento internacional. São temas sensíveis e não quis cometer o erro de falar com base em possíveis fake news. Fui de mente aberta e sem ideias pré-concebidas. Aprendi a olhar mais para o outro, a ser menos egoísta, e a dar mais valor ao que tenho. Ter lá estado foi essencial para sentir as coisas de uma forma diferente.
É através da observação, e da recolha e análise de informação, que conseguimos uma compreensão aprofundada e contextualizada do tema. É algo muito importante para um artista e a mim moldou-me. Nem o Roger Waters me ‘formatou’: apenas capturou a minha atenção e despertou a minha curiosidade e, paradoxalmente, me levou a pensar. O resto aconteceu por si.
Pouco tempo depois, seguiste rumo às Honduras, para fazeres outro trabalho de campo.
É verdade. Foi em Junho de 2022, como parte da preparação para a minha tese de final de curso. Estava no Reino Unido a fazer o mestrado em Art and Politics na Goldsmiths, Universidade de Londres. Foi um curso desafiante e, com o Brexit, os vistos de estudantes passaram a ser de apenas para um ano. Tive de acabar o meu mestrado de dois anos em metade do tempo.
E porquê as Honduras?
Durante o meu curso falámos muito de África, do Médio Oriente, ou da Ásia, mas a América Central continuava a ser-me completamente desconhecida. Tive a oportunidade de fazer uma tese com uma componente prática e a Universidade chegou a disponibilizar-me um estúdio para que lá trabalhasse. Decidi-me pelas Honduras, porque quis recolher informação e focar-me no tema do tráfico de drogas e de crianças. O meu objetivo era o de criar uma série de obras e expô-las em várias cidades hondurenhas.
A viagem à América Central foi para mim um choque enorme. Nunca tinha visto tanta miséria, criminalidade, tensão social, ou ouvido sons de tiros! Visitei escolas, orfanatos, e instituições, para conhecer a realidade das crianças naquele país. Parece indiferente, mas estar nesse ambiente e, ao mesmo tempo, numa altura em que tempestades são imensas, torna tudo mais pesado. Chovia quase todos os dias e assisti a cheias inesperadas e trovoadas fortíssimas. Felizmente tive o apoio da Educate., uma ONG local, que me ajudou a organizar a viagem, e do meu grande amigo Adonay, que nos deu teto, e nos albergou durantes 15 dias. Saí de lá com muitos amigos, cheia de inspiração, e com uma vontade gigante de trabalhar.
Viagem esta que resultou na tua série de exposições, Hope in the Shadows. Como aliás, já nos tinhas dito que era o teu objetivo.
Exatamente. Através da pintura, o projeto visa consciencializar para a importância da educação – particularmente num país com imensa população jovem – para tirar crianças da rua e dos seus perigos inerentes. As minhas exposições seguiram-se à entrega da minha tese, intitulada How Art and Education Can Make a Change in Honduran Children’s Lives: Artistic and Fieldwork Research. A tese contou e assentou com o meu diário de viagem, no qual anotei os pontos altos de cada dia, juntei fotografias dos mesmos, uma reflexão sobre o artista enquanto filantropo, e na qual expliquei o processo e objetivos das minhas obras. Foi um sucesso, apesar do caminho turbulento porque passei. São obras que agora estão em Portugal, mas que também já foram expostas em Madrid, estando agora à procura de uma casa.
Voltando aqui a Londres, como é que viver no que muitos consideram a capital da Europa, influenciou a tua abordagem artística?
O curso foi excelente, mas também pesado. Algumas cadeiras despertavam muito o meu lado emocional. Estudámos muitas guerras e pós-guerras, debruçando-nos muitas vezes sobre traumas. Apreendi imenso no que toca a abordar temas relacionados com a política de uma forma mais profunda e produtiva. Londres é uma cidade fantástica, mas mais do que a cidade em si, o que influenciou mesmo a minha abordagem artística foi o curso na Goldsmiths. Viver em Londres não foi tanto como imaginei, talvez por passar a maior parte do tempo a estudar e a organizar-me. Tive pouco espaço meu para socializar e guardava-o para quando me visitavam. Senti que as pessoas se fechavam nas suas comunidades, com pouca abertura para terceiros. Aprendi a ser mais reservada, sem nunca ser fria! Comecei a gerir melhor o meu tempo e hoje só estou mesmo onde quero estar. Amadureci muito e isso reflete-se no meu trabalho.
Só estou mesmo onde quero estar. Amadureci muito e isso reflete-se no meu trabalho.
O que é importantíssimo e faz parte dessas nossas experiências. Aliás, como artista, e sendo tu tão nova, momentos como os de viajar para outros países ou tomar a decisão consciente de partir para aventuras, fazem parte do teu desenvolvimento pessoal e profissional. Dirias que começas por identificar inicialmente uma causa a defender?
Temas específicos, como o da Palestina e o das Honduras, surgiram pelos motivos de que falámos. Mas ultimamente, tenho procurado caminhos mais abrangentes, focados na sociedade como um todo e não num país ou povo em concreto. Este ano tive uma exposição, intitulada Reflect, na Sestante Art Gallery. Pintei em espelhos, não os cobrindo completamente, com o propósito de criar uma ambivalência no projeto. Por um lado, o público pode ver-se a si mesmo – a sua imagem está refletida, claro. Mas por outro lado, estabelece-se o desafio de refletir no que lá está para além da sua imagem. O espectador é como que questionado sobre o seu papel na sociedade, seja em casa ou no Mundo, provocado intelectualmente, e forçado a sair da sua zona de conforto. Escolhi os espelhos como superfície por ser possível vermo-nos ao lado do que está representado/pintado.
Introspeção essa que, noutra superfície, iria depender mais numa identificação pessoal com o tema.
Sim, a tela fá-lo de outra maneira. É preciso identificarmo-nos com o que lá está para refletir sobre o tema. Com espelhos, acabamos por fazer “parte” da obra e somos manualmente inseridos no tópico, lado a lado, frente a frente. É nesta vertente mais global em que me tenho focado mais. Claro que a Palestina e as Honduras continuam a ser temas que abordo com frequência, porque são temas sem fim. Uma vez que nos tocam, levamo-los connosco para sempre.
Também faço questão de utilizar vários materiais diferentes, mas aquele que mais gosto é o pastel de óleo. Permite-me entrar nos detalhes que quero e dá-me uma liberdade enorme na mistura de cores para atingir o que procuro.
É desafiante manter o equilíbrio entre o artístico e o teu ativismo? Digo isto, porque acho que há uma harmonia evidente no teu trabalho: consegues produzir obras que são simultaneamente ‘arte’, no sentido mais estético e simples da palavra, e, ao mesmo tempo, transparecer um apelo à justiça?
Numas obras mais que outras! Tenho peças que, talvez, sejam consideradas demasiado ativistas na medida em que são muito diretas, quase como cartazes políticos. Outras são mais subtis. Há gostos para tudo, mas as menos diretas são as que mais agradam o público. De um modo geral, gosto esteticamente do meu trabalho, mesmo que às vezes me surjam dúvidas. Tenho alguns quadros que prefiro, mas sou capaz de preferir outros na semana depois.
Mesmo quando terminadas, parece que as obras têm os seus momentos, os seus dias. Sou capaz de ficar obcecada com transmitir certas mensagens exatamente como as quero, o que é um desafio quando tento soltar-me e deixar que a mão me guie em vez da minha cabeça.
Mesmo quando terminadas, parece que as obras têm os seus momentos, os seus dias.
Estar, como estou, em constante funcionamento, faz-me ver a arte como uma maneira de ser e estar mais do que como uma terapia a que recorro. Mesmo quando não estou a desenhar ou pintar, a minha cabeça não para. As minhas melhores ideias aparecem quando não estou a fazer nada de especial e quando menos espero. Seja no banho, quando estou a comer ou em sonhos.
Percebo, especialmente porque a arte que produzes reflete partes do que dizes ser a tua personalidade. São partes que ‘não dormem’. Como é que descreverias a resposta do público às tuas exposições, em particular às que se cosem por causas humanitárias (salvaguardando a integridade de Israel e a dos palestinianos inocentes e não associados a grupos terroristas), visto que te vês tão refletida nas tuas obras?
A resposta tende a ser positiva e dá-me força para continuar. Não me assusta. Geralmente dão-me os parabéns pela coragem e por ser tão jovem e preocupada com o correr do mundo. Seguem-se muitas perguntas sobre as obras e gostam de saber o que está por trás de cada uma – mas às vezes é segredo! O meu projeto sobre o povo palestiniano é o mais divulgado pelos canais de comunicação e capta muito a atenção por ser um tema muito agudo e atual.
Desde a minha primeira exposição sobre o tema, em 2021, que tenho vindo a notar o seu impacto. Intitulada I Can’t Breathe Since 1948, o tópico da exposição era pouco falado na altura. Ou até mesmo desconhecido. Sinto que consegui que algumas pessoas quisessem saber mais e, melhor ainda, consegui que os meus seguidores palestinianos ganhassem alguma esperança. Por ser um tema que não deve ter cores políticas, é crucial que seja falado na Europa e no resto do mundo.
E notaste alguma alteração no feedback à medida que o assunto se foi tornando mais público?
Completamente. De repente, todos se tornaram experts sobre o conflito, muitas vezes com chavões, mas esqueceram-se do que considero mais importante: as questões humanitárias. O meu objetivo não é o de entrar em debates de Geopolítica, é apenas o de sublinhar que há milhares de civis inocentes a morrer e isso não nos pode deixar indiferentes. Fico feliz de ver muitos colegas artistas a mencionar o conflito, e a fazê-lo cada vez mais.
Quanto ao tema das Honduras, foi uma série que apenas expus fora do país, nas Honduras e em Espanha. Decidi levar o meu trabalho a Madrid porque queria sentir a opinião daquele público, que sente mais de perto o tema por ter uma comunidade enorme hondurenha.
O projeto Reflect foi o que recebeu melhor feedback. Recebi muitas mensagens depois da inauguração em que me diziam que ainda pensavam no que tinham visto. Era esse mesmo o objetivo. É o que me faz sentir realizada.
A tua mais recente exposição, NonViolent Resistance, tem uma mensagem muito clara para o público.
Sim. Essa exposição acabou em Julho, depois de dois meses na Fábrica Braço de Prata. Foi a terceira exposição individual em apoio aos direitos dos palestinianos, e a primeira desde os ataques do Hamas, a 7 de Outubro. O objetivo foi mais do que apenas consciencializar o público: doei 50% das receitas a uma família de Gaza para os ajudar a fugir da guerra e a reconstruir as suas vidas. E isto só foi possível porque a Fábrica Braço de Prata não pede qualquer comissão aos artistas que alberga.
Conheces a família a quem doaste as tuas receitas?
Eu conheço um dos membros da família, a Ranan Jouda, que sustenta a sua família em Gaza. Trabalha para uma empresa internacional, a Hult Prize, com uma outra amiga minha, a Joana Bacelar, que colaborou comigo nesta exposição. Conheci-a através da Joana. O contrato de trabalho que a Ranan tem facilita a vinda dela para Portugal ou para outro país que queira.
E foi uma exposição com enorme sucesso e apoio de várias figuras públicas de diferentes cores políticas.
É verdade. Foi um dos grandes momentos desta exposição ter tido o apoio da esquerda à direita: do Pedro Passos Coelho a Paulo Raimundo e Catarina Martins. Contámos ainda com nomes como Miguel Sousa Tavares, Nuno Morais Sarmento, Miguel Relvas, Joana Seixas, Sérgio Sousa Pinto, entre outros. A exposição serviu de wake up call para lembrar que as questões humanitárias não têm, ou não deviam ter, cores políticas. Foi para mim muito importante contar com eles!
A exposição serviu de wake up call para lembrar que as questões humanitárias não têm, ou não deviam ter, cores políticas.
A inauguração foi um sucesso e tivemos um painel de discussão, moderado pela Joana Bacelar, em que participaram a July Neves, do Centro Português pela Paz e Cooperação, o Amro Fatayer, um jovem palestiniano a estudar em Portugal, e eu própria. Continuo com quadros dessa exposição disponíveis.
Por fim, que próximos projetos tens em mãos? Pelo que podem esperar os nossos leitores no futuro?
Este ano já fiz cinco exposições e vou ter a minha próxima já no dia 20 de dezembro, na Galeria António Prates. Contudo, o meu estúdio está aberto ao público por marcação e quem quiser poder vir conhecer o meu trabalho.
O meu estúdio está aberto ao público por marcação e quem quiser poder vir conhecer o meu trabalho.
Já em 2025, conto começar com uma nova exposição dos espelhos, mas a data ainda está por confirmar. Até lá vou continuar a criar mais obras, sem parar. Podem, também, contar com que irei continuar a falar pelos direitos humanos do povo palestiniano, pelos direitos das crianças das Honduras, e por tudo aquilo que me fizer comichão!