Um estudo realizado pelo Mastercard Economics Institute revela que os gastos dos portugueses com viagens de curta distância registaram um aumento de 60% em agosto, comparativamente com agosto de 2019, substancialmente acima do aumento dos gastos com viagens de longo curso (16%).
As reservas de voos registadas a nível global neste verão (maio-agosto) ficaram 15% acima dos níveis de 2019, apesar dos desafios logísticos e das pressões de preços existente, com os voos de curta distância a impulsionar a maior parte deste crescimento global de gastos com viagens (representando +20% face aos de longo curso).
O estudo “Shifting Wallets” recorreu a uma análise de dados económicos públicos e anonimizados com o objetivo de oferecer uma visão global sobre a forma como as recentes alterações económicas estão a impactar as escolhas que os consumidores estão a fazer relativamente ao que gastam, onde e quando.
Segundo esta análise, os preços mais altos estão a pressionar os consumidores a nivelarem os seus gastos diários e com bens essenciais, apesar dos gastos com refeições fora de casa manterem-se como prioridades.
Gastos com restaurantes subiram mais do que gastos com mercearias
De acordo com a Mastercard, os gastos em restaurantes aumentaram 25% este ano, em comparação com o mesmo período de 2021, acima dos gastos com mercearias (14%), os quais foram, em grande parte, ditados pela inflação.
Uma análise das tendências de longo prazo mostra que a pandemia impulsionou a mudança para o digital e a preferência por uma maior conveniência – os gastos com alimentação on-line cresceram 70% face ao período pré-pandemia, enquanto os gastos com compras em lojas físicas cresceram menos: 25% .
Serviços online dos pequenos negócios crescem impulsionados pela aceleração da digitalização verificada durante a pandemia
Segundo a Mastercard, os serviços online de pequenas empresas – como contabilidade ou aulas particulares – estão a crescer 1,5 a 2 vezes mais rápido do que as grandes empresas de serviços online, algo que tem estado a acontecer de forma expressiva em países como a Bélgica, o Brasil, Canadá, Itália e Singapura.
Em Portugal, o crescimento destes serviços foi de 36% no caso das pequenas empresas e negativo (-20%) nas grandes empresas, indica o relatório “Shifting Wallets”.
Consequências no retalho
No setor do retalho, as vendas de online nas grandes empresas cresceram 66% contra 27% para pequenas empresas em agosto comparativamente com 2019. Em Portugal, a tendência foi inversa, com as pequenas empresas a registarem um aumento de 16%, substancialmente acima do crescimento registado nas grandes empresas (6,6%). No caso das compras nas lojas físicas, o crescimento foi superior com as pequenas empresas a registarem um aumento de 36% e as grandes empresas a apresentarem aumentos de 25%.
O teletrabalho alterou os dias em que tipicamente eram feitos os maiores gastos, revela a análise da Mastercard.
Dado curioso assinalado pela Mastercard é que o teletrabalho e a mudança para o digital implicaram alterações ao nível dos dias em que são feitos os gastos, com impactos significativos na cadeia de abastecimento para retalhistas, restaurantes e outras empresas e na composição de equipas de trabalho.
Os gastos com bens e experiências mudam, assim, para os dias da semana. “Globalmente, cerca de 5% do total de gastos de fim de semana em grandes armazéns foi transferido para os dias da semana, representando cerca de 22,3 mil milhões de dólares (23 mil milhões de Euros) em vendas globais”, aponta a empresa.
Nos Estados Unidos, a tendência é de uma clara mudança e de transferência dos gastos em cinemas de fim de semana para os dia de semana, onde 3 pontos percentuais foram transferidos dos sábados e domingos para os dias da semana – principalmente às quintas e, em menor grau, às segundas-feiras também.
“As mudanças nas preferências de gastos ocorrem à medida que os consumidores se adaptam a um novo ritmo”, diz Bricklin Dwyer, economista-chefe da Mastercard.
“Apesar do aumento dos preços, das taxas de juros e da crescente incerteza económica, os consumidores continuam a avaliar os seus hábitos de consumo de acordo com o que faz sentido para as suas vidas”, conclui Bricklin Dwyer, economista-chefe da Mastercard e chefe do Mastercard Economics Institute.