Dezembro é, por excelência, o mês dos balanços e a Livraria Lello alinhou numa revista do ano diferente: quais os livros que, ao longo de 2025, a equipa da “livraria mais bonita do mundo”, como a Lello gosta de se auto designar, mais recomenda, tanto pela força das histórias como pela pertinência das ideias que transportam.
Esta seleção reflete o olhar de quem vive a literatura todos os dias. Dos livreiros que aconselham leitores de todas as partes do mundo aos criativos que pensam a livraria como espaço cultural e simbólico, as escolhas revelam uma inclinação para a ficção.
A lista dá especial destaque a autoras e autores portugueses, com obras que exploram novas formas de contar histórias, questionam o presente e convidam à reflexão sobre temas tão atuais como a liberdade criativa e o risco da censura literária. No final, há ainda espaço para uma sugestão transversal, pensada para todas as idades, que acompanhou o espírito da Livraria Lello ao longo do ano.
Num top 10 — com alguns bónus à mistura — estas são as leituras que conquistaram o selo de qualidade Livraria Lello em 2025:
Ficção
1) O Fim dos Estados Unidos da América, de Gonçalo M. Tavares

Para a Livraria Lello, trata-se de um livro que “rompe com a narrativa tradicional” e desafia ativamente o leitor. A obra impressiona pela originalidade, pela coragem formal e pela capacidade de provocar desconforto e reflexão sobre poder, queda e fragilidade humana. “Não se esgota numa única interpretação” e confirma que a literatura pode — e deve — ser “surpreendente, inquietante e necessária”.
2) O Último Avô, de Afonso Reis Cabral

A Livraria Lello destaca este romance pela forma como parte de uma premissa simples para construir uma narrativa de grande complexidade emocional. Entre memória, trauma, herança familiar e criação literária, o livro surpreende continuamente o leitor. “Faltava um romance assim nas prateleiras”, capaz de conjugar uma escrita aparentemente simples com mecanismos narrativos sofisticados e profundamente humanos.
3) Filho do Pai, de Hugo Gonçalves

Embora classificado como ficção, este livro é visto pela Livraria Lello como um híbrido de rara qualidade. A escrita conjuga registo diarístico e ritmo romanesco para explorar a experiência simultânea de ser filho e pai. Destaca-se a perícia do autor em decidir “o que mostrar e o que deixar por dizer”, num exercício sensível, terno e surpreendentemente divertido.
4) Ainda Estou Aqui, de Marcelo Rubens Paiva

Este livro é descrito como “um comovente testemunho” sobre a ditadura militar brasileira, contado a partir de uma história familiar marcada pela perda e pela luta pela memória. Para a Livraria Lello, é um “verdadeiro hino ao amor e à liberdade”, cuja atualidade se impõe num mundo de extremos, reafirmando a importância de não esquecer o passado.
5) O Vício dos Livros II, de Afonso Cruz

Para a equipa da Livraria Lello, este é um livro que se “sente” tanto quanto se lê. A continuação aprofunda a dimensão íntima e luminosa da relação com os livros, despertando memórias e vontades de leitura. É uma celebração do “vício mais bonito”: procurar sentido nas palavras, consolo nas histórias e abrigo no papel.
6) Educação da Tristeza, de Valter Hugo Mãe

A Livraria Lello sublinha a intensidade serena desta obra, que não explica a tristeza, mas “ensina-a a existir”. Com textos breves e linguagem de clareza poética, o livro convida à escuta e à aceitação da fragilidade emocional. Não é uma leitura confortável, mas é “honesta”, transformadora e profundamente humana.
7) Nem Todas as Árvores Morrem de Pé, de Luísa Sobral

Este romance marcou a Livraria Lello pela delicadeza e pela sensibilidade com que aborda a fragilidade humana. A escrita poética e contida desconstrói a ideia de resistência absoluta, validando a tristeza como lugar de passagem. “É um sussurro”, inspirado numa história real, que prova a maturidade literária de Luísa Sobral.
8) A Biblioteca do Censor de Livros, de Bothayna Al-Essa

Para a Livraria Lello, este romance cruza distopia e metaliteratura numa reflexão urgente sobre censura e liberdade. Através da figura de um censor que aprende a imaginar, o livro torna-se uma ode aos livros e ao pensamento crítico. Num tempo de restrições crescentes, “é uma leitura particularmente importante”.
9) Como Animais, de Violaine Bérot

A Livraria Lello destaca este livro pela forma subtil e poderosa como questiona exclusão, abuso e julgamento moral. Através de múltiplas vozes e uma narrativa aparentemente simples, a autora constrói um retrato perturbador da marginalidade. Não é uma leitura leve, mas é “francamente comovente” e profundamente necessária.
Não ficção
1) Lampedusa – Ir e não chegar, de Ana França

Para a Livraria Lello, este é “jornalismo puro e duro”. A partir de um dos naufrágios mais trágicos do Mediterrâneo, Ana França constrói um retrato rigoroso e humano da crise migratória europeia. Um livro duríssimo, essencial para compreender o tema e para “voltar a entusiasmar os leitores pelo Jornalismo”.
2) Algoritmocracia, de Adolfo Mesquita Nunes

A Livraria Lello valoriza a clareza com que o autor aborda o poder dos algoritmos no quotidiano. Sem alarmismo, o livro mostra como estas ferramentas influenciam escolhas culturais, sociais e políticas, afetando a qualidade da democracia. É uma leitura recomendada a quem procura compreender o mundo digital com “lucidez e responsabilidade cívica”.
Leituras adicionais: outros títulos que também marcaram 2025
como um ano de leituras não cabe num top 10, a Livraria Lello destaca ainda alguns títulos que, apesar de terem ficado fora da lista principal, merecem ser descobertos pelos leitores pela sua qualidade literária, originalidade e impacto. Aqui fica essa listagem:
• A Chuva que Lança a Areia do Saara, de Ana Margarida de Carvalho

Para a Livraria Lello, este é “um romance desafiante e complexo” que reflete sobre diferentes formas de exaustão contemporânea. A escrita intensa culmina num desfecho de tom “bíblico e fundacional”, confirmando o regresso fulgurante da autora à ficção.
• Pés de Barro, de Nuno Duarte

Vencedor do Prémio LeYa 2024, este romance de estreia encantou a Livraria Lello pela sua ambição narrativa e ecos saramaguianos. Situado nas margens do Tejo, revela “atrevimento literário bem-sucedido” e deixa clara a vontade de ler mais do autor.
• Lobos, de Tânia Ganho

No regresso da autora à ficção, a Livraria Lello destaca a forma como o romance articula múltiplos temas — da guerra à privacidade digital — sem perder coerência narrativa. “Todos os temas têm desenvolvimento”, num livro denso, atual e envolvente.
• Livro de Caligrafia, de Nuno Júdice

Na poesia, a Livraria Lello sublinha a importância deste inédito encontrado no espólio do autor. A edição, que inclui o fac-símile do original, é vista como “um contributo valioso” para a leitura e preservação da obra de Nuno Júdice.
• O Caminho de Volta, de António Jorge Gonçalves

Para os leitores de novela gráfica, a Livraria Lello recomenda esta obra como “uma cartografia emocional de uma cidade”, observada a partir da relação mãe-filho. Um livro visualmente marcante e narrativamente íntimo.
• Na Medida do Impossível, de Tiago Rodrigues

No teatro, a Livraria Lello destaca este texto construído a partir de entrevistas com profissionais humanitários. A peça interroga “o que leva alguém a arriscar a vida pelos outros” e ganha nova força na passagem para o formato livro.




