Um dos temas mais críticos da atualidade é a questão ambiental, associada à qual está a transição energética. A Forbes Women’s Summit Portugal 2023 juntou no mesmo painel duas CEO que, aparentemente, estão em lados opostos da barricada. No entanto, no debate foram bastante mais os pontos que uniram Ana Isabel Trigo de Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, e Sílvia Barata, CEO da BP, do que o que as separaram.
E o que uniu estas duas diretoras gerais foi a convicção de que, nunca como agora, não há espaço para mentiras, falta de transparência e “greenwashing”.
Mesmo que se esteja no lado da barricada politicamente incorreto.
Sílvia Barata assumiu essa postura na Forbes Women’s Summit, reconhecendo perante a plateia que a empresa que representa, a BP, é de um setor “mal visto”. “Não podemos ser hipócritas”, salienta a CEO da BP Portugal.
Todavia, se “somos parte do problema, também teremos de ser parte da solução”, diz Sílvia Barata que considera que, apesar de todas as críticas que podem ser feitas ao setor petrolífero, há que reconhecer também que “muito tem vindo a ser feito”.
“Já vimos tarde, mas não é impossível voltar atrás” e as “decisões de negócios têm de ter isso em conta”, aponta a CEO da BP que considera que essas opções estratégicas têm de ir “muito além do preço e têm de ter por base valores e princípios” que tenham em conta o cuidado com o planeta, mas também com as pessoas.
Sílvia Barata refere que, nesse sentido, a transição energética não pode deixar de lado outra faceta da sustentabilidade, a sustentabilidade das empresas e da economia.
A CEO da BP em Portugal abordou ainda como as gerações mais novas, com a sua consciência ambiental e social, estão a contribuir para levar as empresas a mudar.
“Os jovens obrigam-nos a ter outras perspetivas e a articular as coisas de forma diferente”, diz a responsável da empresa que dá um exemplo de como a própria dinâmica da BP se alterou, em atenção à mentalidade dos mais novos: “Na BP tínhamos a figura de um mentoring, na perspetiva de que o mais jovem tinha um mentor [sénior]. Agora é o contrário. Eu tenho uma jovem de 22 anos, turca, como mentora, com quem tenho aprendido muito. A forma como se posiciona, mais frontal a assumir as suas opiniões, o modo de estar e até de vestir são reveladoras de uma nova visão. E a autenticidade é outra característica fundamental para que as empresas funcionem de forma sustentável. Parecermos alguém que não somos é extenuante. E isso também se aplica ao greenwashing. As empresas têm de falar verdade. Temos pessoas mais informadas [do que no passado], pelo que seremos julgados por aquilo que estamos a fazer”.
As empresas, em especial as grandes, “terão de se reaprender e ser verdadeiras e os relatórios de sustentabilidade visam isso mesmo”.
A presidente da BP Portugal indica ainda que “estamos numa era de colaborar e trabalhar em conjunto. Deixemos de pensar que uma empresa vai dar a volta [aos problemas climáticos]. Não, temos de ter mais parcerias, acordos e joint-ventures. Essa é a grande mais valia trazida por esta transição energética”.
A consciência ambiental das novas gerações
Ana Isabel Trigo de Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, destacou a consciência ambiental que está bem presente nas novas gerações “e como isso se alinha com as políticas que regem a nossa vida”.
“Há uma preocupação que não pode ficar nas redes sociais”, exorta a responsável da Sociedade Ponto Verde.
Ana Isabel Trigo de Morais enaltece o facto das gerações mais novas assumirem de forma mais premente as causas ambientais, não receando em “expressar as suas opiniões”, sendo disso evidente as greves pelo clima.
“Estas novas gerações são exigentes e temos de trazê-las para dentro das empresas. E são exigentes até na escolha dos próprios empregos”.
“Temos de as saber ouvir e trazê-las para a mudança. Ainda vamos a tempo”, diz esta gestora que insiste que “ao falarmos de políticas ESG nas empresas”, temos uma “obrigação acrescida para praticarmos e entendermos a mensagem ambiental das novas gerações”.
“Precisamos de aliados nesta causa”, defende Trigo de Morais que diz que “como decisora, tenho de me lembrar que tem de haver uma estratégia de alinhamento com a sociedade. Não há negócio sem a criação de valor na sociedade. Passamos um tempo em que as empresas pretendiam dar retorno aos acionistas, depois alargámos o horizonte com a integração dos stakeholders. Agora vivemos no propósito. É aqui que entra a sustentabilidade”.
A CEO da Sociedade Ponto Verde também subscreve a opinião de que “não há lugar para o greenwashing. Não vale a pena falar mentira”.
“Precisamos de amigos críticos, critical friends” atendendo às “causas que mobilizam as pessoas” e temos de ser “mais exigentes com quem nos governa e trata a qualidade de vida do nosso país”, conclui Ana Isabel Trigo de Morais.