No vasto universo da busca pelo bem-estar, muitas vezes esquecemos que não existe uma abordagem única que sirva para todos. Cada um de nós é único, com corpos, mentes, histórias de vida e objetivos distintos, exigindo assim estratégias personalizadas. Ao explorar a personalização do bem-estar, é crucial destacar a importância de ouvir e respeitar a intuição e aceitar o seu nível de sensibilidade.
Como saber o seu nível de sensibilidade?
Para saber o seu nível de sensibilidade pode começar por conhecer o trabalho da Dra. Elaine Aron que cunhou o termo Highly Sensitive Person (HSP), ou Pessoa Altamente Sensível (PAS) em português, no seu livro bestseller: The Highly Sensitive Person – Pessoas Altamente Sensíveis, que foi traduzido para 21 línguas e já vendeu mais de um milhão de exemplares.
Na caminhada que cada um traça em busca do seu saudável é comum dar-se os primeiros passos focado em regras e planos alimentares muito genéricos. Contudo, à medida que se evolui nessa caminhada, é comum perceber-se que a verdadeira personalização do bem-estar passa por nos sintonizarmos com a nossa intuição, observar como o corpo reage a diferentes práticas alimentares e não alimentares e interpretar os sinais que ele nos envia. O nosso corpo é o melhor laboratório do mundo, é ele que nos encoraja a confiar na nossa sabedoria interna para determinar o que realmente precisamos.
A sensação instintiva de que algo está certo ou errado é a nossa intuição em acção. A ciência revela-nos que a intuição tem componentes somáticos e neurais, com origem no intestino, onde os neurotransmissores recebem sinais emocionais do mundo exterior. Esta comunicação rápida com o cérebro pode resultar em sensações físicas, como uma “corrente” no intestino (gut feeling), aumento da frequência cardíaca, ou uma sensação de calma. O propósito da intuição é influenciar-nos a tomar decisões que apoiem o nosso bem-estar.
Cultivar a autoconsciência através de práticas como a meditação fortalece essa conexão, capacitando-nos a tomar decisões que promovem a nossa qualidade de vida. Desenvolver a autoconsciência nutre a nossa orientação interior, fortalece a tomada de decisões e desbloqueia o nosso potencial.
A elevada sensibilidade como uma vantagem
A descoberta de que 20% a 30% da população mundial é composta por Pessoas Altamente Sensíveis (PAS) desafia os estigmas associados à sensibilidade. Ser altamente sensível não é uma fraqueza, mas sim uma característica que oferece uma percepção mais profunda do mundo ao nosso redor. É um traço de personalidade preparado para um maior nível de complexidade que, como tal, requer um foco, intensidade e tempo de resposta superior ao dito normal. A compreensão das características, desafios e benefícios das PAS permite-nos abraçar essa singularidade como uma vantagem na busca pelo equilíbrio e bem-estar.
As raízes genéticas e ambientais da sensibilidade
São várias as pesquisas que têm revelado que a sensibilidade tem raízes genéticas e que pode ser potenciada devido às experiências traumáticas da infância. No entanto, é essencial compreender que a sensibilidade não é uma condição, mas uma parte intrínseca da nossa personalidade, influenciada por uma combinação única de fatores genéticos e do ambiente que nos rodeia.
Assumir a elevada sensibilidade não é apenas seguro, mas também libertador. Ao compreendermos que ser altamente sensível não é uma limitação, mas uma expressão única do nosso ser, podemos desfrutar de uma vida mais autêntica. Isso envolve reconhecer os nossos limites, praticar a autoaceitação e honrar a nossa sensibilidade como um dom.
Apesar das muitas vantagens também existem muitos desafios associados a este traço de personalidade. Tem sido demonstrado que as pessoas com um sistema nervoso mais sensível tendem a desenvolver mais uma parte do cérebro. Processam a informação de forma mais cuidadosa e têm grande inclinação para a criatividade. Com este nível de consciência tão refinado as PAS tendem a ser pessoas mais intuitivas, com facilidade para captar as coisas mais subtis e invisíveis.
Como conseguem sentir tudo de forma mais intensa, tanto nos ambientes externos como a nível interno, quando estão rodeados de emoções desagradáveis, barulho, odores intensos, sirenes e atitudes negativas, podem sentir-se muito desgastadas a nível físico, emocional e mentalmente.
Imagine uma pessoa que trabalha num workspace e começa a sentir que os barulhos da colega, com telefones, teclado, arrastar de cadeiras e ansiedade para entregar um trabalho de última hora, estão a afetar a sua concentração e produtividade, não a deixam trabalhar na sua melhor versão. Como pessoa altamente sensível que é, pede aos seus superiores para trabalhar a partir de casa ou para se mudar para um local mais silencioso. Desta forma estará a honrar as necessidades individuais da sua personalidade e alinhada com o que o seu corpo lhe pede para se manter na sua melhor performance profissional.
Definir barreiras e ter um plano de saída para quando o ambiente se torna caótico, pode ser uma boa ideia. Ter o seu meio de transporte é um bom exemplo. Da mesma maneira que não tem problemas em dizer que prefere alimentos sem glúten, também deve sentir-se confiante e leve ao dizer que se vai retirar, mesmo que tenha chegado há pouco tempo.
Na impossibilidade de o fazer e como nem todas as horas e locais são seguros para uma boa sessão de choro é importante definir uma hora mais tarde. Mas evite manter uma emoção bloqueada. Lembre-se que, para uma PAS, tudo é sentido de forma mais intensa. Por isso, quanto mais rápido transformar essa emoção pesada em algo mais leve, melhor se irá sentir. Pode ser através do journaling (registo diário das suas emoções através da forma escrita ou digital), um banho quente em casa, o ginásio ou uma chamada para alguém que ouve sem interromper ou julgar.
Criar momentos para ouvir as suas emoções permite-lhe a grande vantagem de evitar que se acumulem e se expandam de forma prejudicial. Pense nos sentimentos e nas suas emoções como o seu sistema de navegação. Quando o ignora, a certa altura e em dias mais caóticos, já não sabe a quantas anda.
Faça do seu bem-estar uma prioridade
Faça de si e do seu bem-estar a sua prioridade. Pode ser através do sono ou da alimentação. Afinal, uma hora de sono a menos ou saltar uma refeição pode ter um impacto muito superior para quem tem um sistema nervoso altamente sensível.
Assuma este sua elevada sensibilidade perante a família, colegas e amigos, com a mesma franqueza e naturalidade com que assume outros traços da sua personalidade. Desta forma irá neutralizar algum tipo de constrangimento, stress ou confusão sobre o tema.
Priorizar e personalizar o seu bem-estar, cuidando de si primeiro e fazendo disso algo inegociável, fará com que consiga dar o melhor de si aos outros.
Respeite-se a si mesmo e lembre-se que a sua saúde e bem-estar é bem mais importante do que a perceção que alguém tem de si. Ser uma PAS não é bom nem mau. Simplesmente é!
A personalização do bem-estar é mais do que seguir padrões convencionais. Envolve aprofundar a conexão com nossa intuição, reconhecer e valorizar a nossa elevada sensibilidade e honrar as nossas emoções, deixar de as bloquear. Ao fazê-lo, não apenas cultivamos um estilo de vida mais alinhado com nossas necessidades individuais, mas também abrimos portas para uma caminhada de autodescoberta e aceitação. Na busca pela verdadeira personalização do bem-estar, a intuição e a sensibilidade são aliadas muito poderosas. (O conteúdo deste texto não tem a intenção de diagnosticar ou excluir qualquer condição de saúde ou de personalidade).
(Texto escrito pela autora Susete Estrela)