No painel “The Leader’s Experience – Lusofonia”, realizado no âmbito da Forbes Anual Summit 2024, três oradores discutiram o papel estratégico da lusofonia no mundo dos negócios e da diplomacia económica: Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil; Luís Teles, CEO do Standard Bank Angola; e Francisco Rocha Gonçalves, Vice-presidente da Câmara Municipal de Oeiras.
Em debate esteve a necessidade de Portugal abraçar o seu papel como ponto de convergência entre os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), mas também o continente americano e outras regiões, explorando as oportunidades de negócio e os desafios que persistem.
“Temos uma relação umbilical com todos os PALOP. Essa relação é fundamental para Portugal, pois permite que empresas portuguesas expandam as suas atividades, contribuindo também para o desenvolvimento desses mercados”, destacou Luís Teles. O CEO do Standard Bank Angola sublinhou ainda a importância de um “mindset” empresarial mais arrojado, que priorize não apenas a exportação, mas também a instalação de estruturas locais de produção nos países africanos. “Fico estupefacto ao ver investidores estrangeiros aproveitando essas oportunidades enquanto muitos portugueses continuam céticos”, acrescentou.
“Portugal é o denominador comum entre África e América Latina”
Carlos Mota Santos reforçou essa perspetiva, destacando que a lusofonia é uma plataforma que transcende África, abrangendo também as Américas. Segundo ele, “Portugal é o denominador comum entre África e América Latina, uma ponte natural para as empresas se expandirem nestes mercados”. Referiu também a importância de iniciativas multilaterais como o acordo entre a União Europeia e o Mercosul, que poderiam alavancar as relações comerciais, e o papel de Portugal como membro convidado da Aliança do Pacífico.
No entanto, o painel não deixou de abordar os desafios estruturais que dificultam o pleno aproveitamento do potencial lusófono. Francisco Rocha Gonçalves, por exemplo, sublinhou a falta de diversificação económica em Angola e os déficits no setor educacional como entraves ao crescimento do país. “Angola é um colosso adormecido, mas o seu papel como potência regional depende de investimentos estruturados e de uma aposta séria na educação”, afirmou.
“Angola é um colosso adormecido, mas o seu papel como potência regional depende de investimentos estruturados e de uma aposta séria na educação”
O munícipe afirma que a Câmara de Oeiras tem procurado mitigar esses desafios através de parcerias institucionais e iniciativas de diplomacia económica, segundo destacou Rocha Gonçalves. “Não se trata apenas de oferecer apoio, mas de construir vínculos institucionais que promovam o desenvolvimento conjunto”, explicou o autarca, acrescentando também o exemplo de cidades geminadas nos PALOP e missões empresariais conjuntas.
Para todos os intervenientes, o futuro da lusofonia passa por investimentos sustentáveis e de longo prazo, que sejam capazes de atravessar ciclos económicos positivos e negativos. “Não é apenas uma ambição; é algo perfeitamente alcançável”, concluiu Mota Santos.
Em remate, o painel frisou a mensagem de que a lusofonia é uma plataforma estratégica para impulsionar negócios e criar pontes entre mercados globais. Resta agora saber se as empresas e as instituições estão prontas para navegar por esses mares já desbravados, mas ainda repletos de oportunidades inexploradas.