Opinião

O Mundo está em suspenso

Bruna Encarnação

O Mundo está em suspenso. Até há bem pouco tempo vivíamos uma nova realidade, uns em estado de calamidade, outros em estado de emergência, outros sem estado algum e outros gradualmente a tentar regressar ao novo normal, sempre com a expectativa de que consigamos ultrapassar esta pandemia e de que os mercados comecem a responder à retoma.

Continuamos a viver uma realidade que muitos de nós nunca conhecera, retomar o normal dia-a-dia sem as práticas calorosas que tanto caracterizam os povos latinos. Por agora, suspendemos os cumprimentos afetuosos em prol da proteção de toda uma sociedade.

Mas se para nós, enquanto indivíduos, é relativamente fácil identificar que comportamentos adotar em prol desta proteção, para as empresas o cenário é diferente, existem muitas delas que se debatem pela sua sobrevivência.

Este cenário de pandemia e confinamento afetou muitos setores de atividades e permitiu a tantos outros reinventarem-se. Foram criadas algumas medidas de apoio, que permitiram aos gestores uma reorganização da sua estrutura financeira e operacional.

Com a publicação do decreto-lei nº 10-J/2020 de 26 março, referente à moratória prevista para as instituições de crédito e sociedades financeiras, as empresas poderiam começar a reestruturar a sua divida, direcionando o seu income para as obrigações prementes e que não podiam ser adiadas.

O garantir os postos de trabalho dos seus colaboradores foi certamente uma das grandes preocupações dos gestores, mesmo que o volume de faturação não correspondesse aos valores de outrora, além disso tiveram de reajustar os gastos operacionais à nova realidade e puderam beneficiar do pagamento repartido de impostos. Estas foram algumas medidas que permitiram criar um balão de oxigénio no que à liquidez da sua empresa diz respeito.

É claro que estas medidas indicadas foram apenas uma gotinha no meio do oceano, desengane-se quem pensa que apenas com estas medidas as empresas conseguiriam ultrapassar esta crise financeira gerada, sem que tivessem que fazer outro tipo de reformas.

Apesar da crise instalada, continuamos a ter que ser competitivos, continuamos a ter que publicitar o consumo do produto nacional e continuamos a precisar de investir e, apesar das moratórias concedidas pelas instituições financeiras, houve outras que, não tendo a mesma obrigação imposta pelo Decreto-lei, sentiram ser o seu dever moral e cívico ajudar os seus clientes nesta luta pela sobrevivência, concedendo também eles uma prorrogação no pagamento das obrigações dos seus clientes.

Ainda somos uma sociedade que investe muito na compra de bens, existe ainda muito aquele sentimento de posse, do endividamento financeiro para poder ser competitivo, descapitalizando a própria empresa e tornando-a mais vulnerável em situações como esta que se vive.

Existe uma alternativa no mercado muito conhecida e utilizada nas frotas automóveis, mas que na hora do investimento muitos gestores a descuram, falo-vos do renting tecnológico, que nos permite usufruir de toda a tecnologia disponível e necessária a cada atividade setorial, permitindo libertar liquidez para outras operações sem alternativas no mercado.

A dependência financeira e de subsídios ainda é, nos dias que correm, um mecanismo que, apesar de ter como intuito ajudar o tecido empresarial, acaba por estrangular muitas empresas, dado que não conhecem ou não concebem outra realidade, somos demasiado dependentes e quando uma crise como esta rebenta, se não houver boa vontade e criatividade não conseguimos ser sustentáveis.

Claro que cada empresa é uma empresa e cada gestor é um gestor, mas é certo que a sobrevivência de cada empresa depende da sua autonomia, da sua sustentabilidade e, mais importante, da forma eficiente com que se gerem todos os seus recursos.

O Mundo avançou, mas deixou sequelas, é nas adversidades que percebemos o verdadeiro impacto das decisões menos acertadas e colhemos os frutos das mais acertadas e nunca o ser eficiente fez tanto sentido.

Bruna Encarnação, managing director administration da GRENKE Portugal

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