“Ainda me lembro da primeira visão que tive de Lisboa diretamente do avião que sobrevoava a cidade. Era tão elegante, com telhados vermelhos sobre edifícios coloridos na cidade antiga. No meu primeiro dia dei um passeio pelo centro com um guarda-chuva, sob a chuva amena de janeiro. E lembro-me de dizer a mim mesma que poderia viver aqui”. E assim aconteceu. Qinglei Dai está em Portugal desde que terminou os estudos de doutoramento em Oslo, na Noruega e começou a pesquisar escolas de gestão de negócios para um futuro emprego.
A Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa foi uma delas. Mas a sua experiência profissional não começou aqui. Passou pelo Shanghai Pudong Development Bank como oficial de crédito, foi bolseira internacional na MIT Sloan Business School e pesquisadora no Banco de Portugal.
“Trabalhava como professora de Finanças na Nova School of Business and Economics, quando em 2014 um grupo de empresários de Xangai decidiu investir em Portugal, no meio da onda de aquisições de algumas grandes entidades portuguesas por empresas chinesas. Fui convidada por estes investidores a ajudar a estabelecer e gerir a sua empresa de investimentos imobiliários em Lisboa, nomeadamente a Level Constellation Lda. Desde então, sou co-fundadora e vice-presidente da empresa”.
“O mundo dos negócios não tem género, e nem tampouco os cargos de gestão”, nota Qinglei Dai.
“Doing Business with China” foi o primeiro curso que lecionou na Nova. “Era um curso muito popular entre os alunos de mestrado. Versava sobre as filosofias tradicionais chinesas, como o confucionismo, o taoísmo e o budismo, e como eles moldaram as mentes chinesas modernas e também sobre as abordagens a ter para se comunicar com as pessoas sem o risco de se ficar ‘perdido na tradução’. A ideia básica é que, por meio da compreensão das mentalidades subjacentes e da aceitação das diferenças, podemos alcançar pessoas de diferentes origens de uma maneira muito mais eficaz”. E por isso a gestora acrescenta que “o mundo dos negócios não tem género, e nem tampouco os cargos de gestão. A meu ver, as variações individuais são muito mais significativas do que as diferenças entre os géneros masculino e feminino. Portanto, é razoável supor que os gestores devem posicionar-se de acordo com as suas capacidades e habilidades pessoais, independentemente do fator género”.
“Não tenha medo de ser infantil. Na verdade, as crianças podem ser os nossos melhores professores do mundo”, refere fruto de dez anos de ensino onde “pude aprender muitas ideias brilhantes com os meus alunos”.
Sobre as empreendedoras chinesas e europeias Qinglei é muito perentória. “Em vez de procurar diferenças, eu prefiro focar-me nas características comuns de mulheres empreendedoras bem-sucedidas de diferentes origens culturais que conheço: compaixão pelas pessoas, paciência com o tempo e paixão pelo trabalho”. Três notas importantes às quais acrescenta mais uma para se ser verdadeiramente disruptivo: “manter um olhar de aprendiz com os mais jovens e tentar estudar o mundo com um novo olhar. Não tenha medo de ser infantil. Na verdade, as crianças podem ser os nossos melhores professores do mundo”, refere fruto de dez anos de ensino onde “pude aprender muitas ideias brilhantes com os meus alunos”.