“O Louco de Deus no Fim do Mundo”: romancista anticlerical seguiu o Papa até à Mongólia e regressou com um livro sobre a fé e a dúvida

"Sou ateu. Sou anticlerical. Sou um laicista militante, um racionalista obstinado, um ímpio inveterado. Mas aqui estou, viajando em direção à Mongólia com o velho vigário de Cristo na Terra, disposto a interrogá-lo acerca da ressurreição da carne e da vida eterna. Foi para isso que embarquei neste avião: para perguntar ao Papa Francisco se…
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Um convite inesperado do Vaticano levou um “laicista militante” a viajar com o Papa Francisco à Mongólia. Na bagagem leva a pergunta que o fez aceitar o desafio: “A minha mãe verá o meu pai depois da morte?”. A viagem deu origem a um livro que será lançado em Portugal.
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“Sou ateu. Sou anticlerical. Sou um laicista militante, um racionalista obstinado, um ímpio inveterado. Mas aqui estou, viajando em direção à Mongólia com o velho vigário de Cristo na Terra, disposto a interrogá-lo acerca da ressurreição da carne e da vida eterna. Foi para isso que embarquei neste avião: para perguntar ao Papa Francisco se a minha mãe verá o meu pai depois da morte e para lhe levar a sua resposta. Eis um louco sem Deus perseguindo o louco de Deus até ao fim do mundo”. É assim que começa a mais recente obra de “O Louco de Deus no Fim do Mundo”, do espanhol Javier Cercas que agora chega em português a Portugal pela mão da Porto Editora.

Romancista com obras traduzidas para mais de 30 línguas, Javier Cercas foi convidado a integrar a comitiva papal (no tempo do Papa Francisco) numa viagem à Ásia, realizada de 31 de agosto a 4 de setembro de 2023. Das conversas que teve com funcionários do Vaticano e diferentes membros da Igreja – entre eles o Cardeal Tolentino de Mendonça –, bem como do que viu, tanto em Roma como na Mongólia, nasceu “O Louco de Deus no Fim do Mundo”.

Mais do que a crónica de uma viagem peculiar, esta obra traça um retrato do Papa Francisco e do seu pontificado. Dados biográficos de Jorge Mario Bergoglio entrelaçam-se com reflexões pessoais do autor sobre a fé, a dúvida e a sua relação conturbada com a religião.

Numa apresentação da obra, em abril de 2025, em Itália, o escritor Javier Cercas explicou que a génese da obra surgiu por proposta do Dicastério para a Comunicação: “Este livro é único e louco e eu sinto-me privilegiado. É uma história de investigação porque há um enigma. Há muitos ‘personagens’ no romance”. Entre eles, alguns representantes do Dicastério para a Comunicação que “me propuseram escrever um romance com absoluta liberdade sobre a viagem do Papa à Mongólia. O grande desafio era trabalhar sem preconceitos”. “Para mim – disse o escritor espanhol nesse evento -, tudo foi uma surpresa permanente. E tudo era diferente do que eu esperava. O romance é um livro bem-humorado. O próprio Pontífice afirma ter senso de humor”. “O Papa Francisco – disse ele – sempre foi surpreendente para o mundo inteiro. Ele é um Papa anticlerical, contra o clericalismo, contra a ideia de que o clero está acima dos fiéis. O livro contém a questão essencial do cristianismo: a da vida eterna. Ninguém tinha perguntado isso ao Papa”. “Depois desse livro – explicou Javier Cercas ironicamente durante a apresentação -, não posso dizer se reencontrei a fé, caso contrário não venderei uma cópia do romance… O centro do livro é o louco de Deus, o Papa. Outro protagonista sou eu, o louco sem Deus. A realidade presenteou-me um milagre para o epílogo do romance”.

Já em pré-venda, “O Louco de Deus no Fim do Mundo” chega às livrarias nacionais a 16 de outubro, com a chancela Porto Editora. O livro será apresentado por Paulo Portas no El Corte Inglés de Lisboa, no dia 30 de outubro pelas 19 horas, num evento que contará também com a presença do autor.

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