O trânsito de turistas entre os EUA e Portugal vive um clima de grande entusiasmo, com vários indicadores em máximos históricos.
Os dados foram revelados na conferência “Turismo & Imobiliário no âmbito das relações Portugal / EUA”, organizada pelo Pestana Hotel Group e Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham) e moderada por José Roquette, Board Member & Chief Development Officer do maior grupo hoteleiro português.
De facto, o peso dos EUA na formação do PIB português é crescente, designadamente à conta do turismo. Os norte-americanos foram mesmo os turistas estrangeiros cujas deslocações para Portugal mais cresceram em 2022, relativamente a 2019.
“Foi a origem de turistas que mais cresceu”, esclareceu António Martins da Costa, presidente da AmCham, desvendando ainda que os turistas dos EUA aumentaram os seus gastos em Portugal em 52%, crescimento superior ao de qualquer outra das nacionalidades acolhidas no país.
Do total de hóspedes de mercados internacionais em Portugal, cerca de 10% provêm dos EUA, um ganho de quota resultante do crescimento de 25,3% face ao ano pré-pandémico.
Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, um dos oradores, deu conta de que o número de dormidas de norte-americanos em Portugal em janeiro e fevereiro de 2023 cresceu mais de 65% face ao período homólogo e mais de 100%, comparado com os dois primeiros meses de 2019.
Ligações aéreas são determinantes
Na visão de Luís Araújo, para estes números tem contribuído a conectividade aérea entre EUA e Portugal, dado que atualmente há cinco companhias aéreas a voar para Portugal, tendo o nosso país quatro aeroportos com ligações diretas aos EUA. Apenas o Algarve não tem voos diretos para os EUA.
Este responsável do turismo acrescenta ainda que, em termos de voos de longo curso (o que exclui os países europeus), os EUA são a origem nº1 dos turistas que nos visitam. O restante ranking é ocupado por Brasil (2º), Canadá (3º), Israel (4º) e Austrália (5º).
“As ligações aéreas são o principal pilar desta equação”, realça o presidente do Turismo de Portugal que lembra que “Portugal está tão próximo de Nova Iorque quanto a costa leste daquele país”.
Em termos de lugares disponíveis nos aviões por ano com destino aos EUA, Luís Araujo exibiu dados que mostram que em 2016 tínhamos um milhão de lugares e em 2022 passamos para os dois milhões.
Todavia, Araújo insiste na importância da continuação do reforço das ligações aéreas com os EUA para posicionar melhor o país.
O presidente da entidade que gere o turismo entre nós declara, igualmente, que “a capacidade de Portugal de atrair públicos diferentes é o segundo pilar” que justifica esta relevância que o mercado dos EUA vem a ganhar, com os cidadãos norte-americanos a evidenciarem “uma estima em relação a Portugal”, considera o presidente do Turismo de Portugal.
“Portugal oferece uma boa proposta de valor para os americanos, enquanto país”, não tem qualquer dúvidas Luís Araújo.
Anfitrião da conferência que se realizou no Pestana Palace, José Roquette entende que, apesar deste boom, as relações comerciais e turísticas entre Portugal e os EUA “nem mostraram um terço do que podem valer. Com o trabalho de casa certo pode valer mais”.
José Roquette diz que o grupo hoteleiro que dirige “sente também a força do turismo norte-americano que [no caso do Grupo Pestana] triplicou em quatro anos e é o dobro do espanhol”.
Por seu lado, Sofia Lufinha, Chief Strategy Officer da TAP, indica que os voos semanais entre os EUA e Portugal cresceram 40% entre 2019 e 2022, de uma forma geral, e 60% em termos exclusivamente de TAP.
Entre as cinco companhias com voos diretos dos EUA para Portugal, contam-se agora mais de 100 frequências semanais diretas, das quais 62 são asseguradas pela TAP.
A administradora da TAP sublinha que, para a TAP e em termos de passagens dos EUA para Portugal, entre o 1º trimestre de 2019 e o de 2023, o número de passageiros mais que duplicou e a receita triplicou.
Refere Sofia Lufinha que muito deste volume se deve a voos de conexão para outros destinos. “Portugal está a aproveitar a condição de hub em Lisboa”, comenta a responsável da TAP presente nesta conferência.
Para a responsável da TAP, mesmo entre os passageiros em trânsito (aproveitando Lisboa enquanto hub de ligação à Europa, África e Israel), o país está a ganhar com o programa Stopover, promotor de curtas estadias sem pagamento adicional de voo. “Tivemos um crescimento enorme no primeiro trimestre de 2023, mais de 12 mil passageiros que vinham em connecting e pararam em Portugal”.
“Os americanos têm muito poder de compra, estão mais disponíveis para pagar opções com mais atributos, serviços e flexibilidade”, lembra Sofia Lufinha.
Miguel Mota, Sales Manager para Portugal da Air France KLM & Delta Air Lines, também marcou presença neste debate, informando que no caso destas três companhias aéreas, da aliança SkyTeam, houve um incremento do turismo de lazer de Portugal para os EUA na ordem dos 10% em relação a 2019. Já nos primeiros meses de 2023, esse reforço eleva-se para 30%, face ao período homólogo de 2019. Para o verão de 2023 antevê-se mais 35% de voos diretos a partir de Portugal. “Havendo procura, haverá oferta”, sublinha Miguel Mota.
De forma unânine, todos os participantes na conferência lamentaram o facto de o aeroporto internacional de Lisboa estar há muiuto limitado e criticaram o facto de o processo de estudo e escolha de uma nova localização continuar a arrastar-se, com muitos prejuízos para o crescimento do turismo e para a economia no seu todo.
No sentido inverso, de portugueses a viajar para os EUA, tem havido também um acréscimo, mas a dimensão deste fluxo em nada se assemelha às viagens no sentido EUA/Portugal.
Ana Paula Vila, Commercial Specialist da Embaixada dos EUA em Portugal, deu a saber que em 2019, no ano antes da pandemia, viajaram 15 mil portugueses para os EUA. No ano 2020, em que o mundo todo parou viajaram apenas para os EUA 449 turistas. Em 2021, já houve sete mil portugueses a rumarem de avião para os EUA, com essa número a elevar-se para os 14 mil no ano 2022. Até fevereiro (apenas em dois meses de 2023, portanto), o número de portugueses que rumaram aos EUA foi de quase 10 mil. Isto é, 2023 vai ser também um ano de recorde em termos de portugueses que escolhem os EUA como destino da sua viagem de turismo.