Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos: ternura, pelo que é, e respeito pelo que pode vir a ser.” A frase é da autoria de Luis Pasteur, mas podia ser de um qualquer pai ou mãe.
O futuro dos filhos é sempre uma preocupação que os progenitores carregam até ao fim das suas vidas. O seu bem-estar, a saúde, a vida pessoal e, em particular, a profissional. Alguns serão futebolistas. Quem sabe um Ronaldo, outros serão médicos, arquitectos, economistas, cientistas, empreendedores. Não se sabe. A sorte e o engenho encarregar-se-ão de lhes definir os destinos, mas a família terá sempre uma palavra a dizer através da educação e do empurrão financeiro que lhes puder dar para a concretização dos seus sonhos. Sim, nos tempos que correm é importante preparar o futuro financeiro dos mais novos. Uma pós-graduação ou um mestrado numa universidade estrangeira que lhe permita vingar no mercado de trabalho, uma casa que o abrigue nos primeiros anos fora do ninho ou um carro para o transportar para o sucesso são despesas pesadas que devem ser calculadas com antecedência. No entanto, prepare-se, porque tal como os filhos, não há soluções perfeitas.
Contas de pouco rendimento
As contas poupança direccionadas para jovens e crianças não têm custos e pedem reduzidos montantes para iniciar ou reforçar o “pé-de-meia”, mas pecam no fundamental. Devido à actual conjuntura de baixas taxas de juro, algumas nem são remuneradas, como é caso da ABConta, do Banco BPI.
A um ano, o melhor que se consegue arranjar é uma remuneração anual líquida de 0,43% nas contas “Montepio Mini Super Poupança” e “Montepio Especial Jovem Esperança”. A três anos, consegue-se 0,58% líquidos anuais no depósito a prazo “Eu Poupo”, do Banco Popular, e a dez anos, um prazo descabido para fixar a taxa de juro de um depósito, a Caixa de Crédito Agrícola paga 0,43% líquidos na conta “Poupança Cristas”. Porém, se se tiver em conta os 0,5% previstos pelo Banco de Portugal para a taxa de inflação em 2016, só a solução do Banco Popular consegue gerar um ligeiro ganho real.
Dentro dos produtos de perfil conservador, os melhores mealheiros estão à venda nos balcões dos CTT e não é a Conta Júnior do recente banco, pois também não é remunerada, são sim as soluções de aforro do Estado. Em Maio, a taxa anual bruta de 0,75% – 0,54% líquida – definida para aplicações em Certificados de Aforro (CA) era a opção mais rentável do mercado em prazos até um ano. Mas para quem tenha mais tempo e capacidade de investimento, os Certificados do Tesouro Poupança Mais (CTPM) são mais interessantes, pois além de terem uma remuneração inicial superior logo no primeiro ano – 0,9% líquidos -, têm uma estrutura de remuneração crescente que, no quarto e quinto ano, pode ser acrescida de um prémio em função do crescimento do produto interno bruto nacional.
Sair da zona de conforto
Para conseguir taxas de rendibilidade mais elevadas, os pais têm de sair da zona de conforto oferecida pelas “soluções financeiras infantis” e entrar no universo do investimento. A melhor forma de o fazer é através dos fundos de investimento mistos: além de permitirem subscrições iniciais e reforços de baixo valor, não cobram comissões à entrada e à saída, apenas cobram uma comissão de gestão, mas em alguns compensa. O fundo misto moderado Nordea – 1 Stable Return Fund E é um bom exemplo. Apesar das crises que assolaram os mercados financeiros na última década, a equipa de gestão conseguiu um ganho anual líquido de 3,3% para os subscritores durante esse período, investindo, em média, 60% da carteira em acções. São poucas as alternativas com um currículo tão longo e um histórico tão interessante, mas quem não se sentir confortável com os resultados passados, pode recorrer a um Plano poupança-reforma (PPR). Sim, pode parecer estranho, mas poupar para o futuro das crianças quando este está a 20 ou 25 anos de distância é semelhante a poupar para a reforma – e alguns destes produtos têm vantagens que não se podem descartar.
O recurso aos fundos mistos tradicionais obriga à gestão temporal do risco por parte dos progenitores, ou seja, à medida que o prazo do investimento se aproxima do final, o “encarregado da gestão” deve diminuir a exposição do capital aos activos de risco (acções) e canalizá-lo para aplicações mais conservadoras. No entanto, para os progenitores mais passivos, a opção pode passar por um fundo ciclo de vida. Nesta sub-categoria, os fundos têm um prazo de liquidação definido e a alocação de activos torna-se mais conservadora à medida que o prazo do investimento se aproxima. Ou seja, começam como fundos de acções e terminam como fundos de obrigações. Por exemplo, o Fidelity Target 2035 tem 97% do portefólio aplicado em acções, enquanto o parente com maturidade em 2020, tem apenas 47% do portefólio investido nestes activos de risco. Estes fundos são comercializados pelo Banco Best, Banco Big e Deutsche Bank e têm prazos até 2040. O único problema é que exigem mil euros para começar ou reforçar o investimento, o que pode obrigar à constituição de mealheiro paralelo para acumular o montante necessário.