A época de apresentação de resultados do primeiro trimestre das empresas norte-americanas continua a marcar a atualidade. Desde a última semana de abril foram, entretanto, divulgadas as contas de nomes bem conhecidos como a Coca-Cola, General Electric, Visa, Boeing, Caterpillar, Ford. Até às empresas tecnológicas mais esperadas, como a Microsoft, a Amazon, a Meta (ex-Facebook), a Alphabet (ex-Google) e a Apple entre outras, onde se ficou a conhecer não só os resultados financeiros como as dificuldades que enfrentam e as perspetivas de negócio.
Com base neste cenário, o diretor de investimentos da Sixty Degrees, Nuno Sousa Pereira, realça que “no geral, as empresas têm vindo a apresentar bons resultados”. No entanto alerta que, neste trimestre, “os investidores têm-se mostrado bem mais cautelosos e têm penalizado aquelas que referiram algumas condições adversas – como o abrandamento do crescimento de receitas pelo Youtube, ou o outlook negativo em termos de cash-flow pela General Electric – com reflexo negativo nas respetivas cotações em Bolsa”. Pela positiva, o responsável da gestora de fundos de investimento sublinha que, as empresas que apresentaram boas perspetivas para o restante do ano, como a Microsoft e a Coca-Cola, acabaram por ver as suas ações valorizar.
O diretor de investimentos da Sixty Degrees não deixa de destacar a “perplexidade que assistimos ao desempenho do Facebook, cuja ação recuperou após o anúncio dos resultados que refletem um crescimento saudável ao nível dos utilizadores ativos, mas cujo outlook para o próximo trimestre é muito desafiante, devido à suspensão de serviços na Rússia e à pressão no segmento de anúncios”.
Outra conclusão genérica a retirar da publicação dos resultados, nas palavras da mesma fonte, “prende-se com o aumento da pressão dos custos de matérias-primas, enquanto as preocupações relativamente às cadeias de abastecimento têm sido menores”.
Nuno Sousa Pereira detalha que as empresas mais expostas à subida de preços das matérias-primas, como a Caterpillar e a Boeing, “começam a enfatizar o aumento de custos. Já ao nível das cadeias de logística, os problemas ainda não estão totalmente resolvidos, com a Boeing a enfrentar sérias dificuldades. No entanto, segundo a Amazon, a velocidade de entrega das encomendas estará já perto dos níveis pré-pandemia”. O diretor de investimentos da Sixty Degrees refere ainda que, no próximo trimestre, será “interessante monitorizar o impacto das quarentenas obrigatórias, em vastas regiões da China, sobre as cadeias de logística e abastecimento. O primeiro aviso à navegação, deverá ser observável nos resultados da Apple que mesmo assim viu as vendas aumentarem em todos os segmentos, exceto no de iPads”.
No resto do setor tecnológico, Nuno Sousa Pereira alerta que “a pressão vendedora sobre as cotações mantém-se, sendo visíveis os efeitos de contaminação em curso. É disso bom exemplo, o caso da Rivian que caiu mais de 50% do seu pico até final de março, o que se traduziu numa perda financeira para a Ford de cerca de 5,4 mil milhões de dólares e um impacto de 7,6 mil milhões de dólares na Amazon, suas acionistas”.
A mesma fonte refere que o índice tecnológico Nasdaq “continua a desvalorizar fortemente, o que tem impacto na confiança dos investidores de retalho, para além dos impactos diretos atrás mencionados, muitos dos quais com carteiras muito concentradas neste setor em resultado das boas performances dos últimos anos”. Por isso, acredita que “estas perdas recentes terão também impacto ao nível da avaliação de novas rondas de financiamento ou IPO’s (oferta pública inicial) de empresas tecnológicas ainda em fases mais precoces de desenvolvimento”.