Portugal não está entre os países mais caros para estudar, mas perante um Estado social sujeito a uma restrição orçamental que o impede de chegar a todos, o financiamento a estudantes começa a surgir como oportunidade de negócio. Esta é, pelo menos, a ideia da start-up portuguesa Studentfinance, que quer implementar no país uma solução de financiamento conhecida por income share agreements.
Já implementada em vários países, esta solução assenta num empréstimo que o aluno começa a pagar quando entra no mercado de trabalho, mas apenas se auferir um salário superior a um valor previamente definido, e em parcelas que não levem uma “fatia de leão” da remuneração. Por cá, os income share agreements são implementados pelos parceiros da Academia do Código para financiar os alunos dos cursos de programação ministrados por esta start-up. Assim escrito, a Studentfinance soa mais a projecto social do que a negócio, devido ao elevado risco envolvido, mas consegue ser ambos. Pelo menos é nisso que acredita Marta Palmeiro.
“A nossa missão é altamente social. É algo que é preciso no mercado. Vamos ajudar pessoas sem escravizá-las a uma dívida imensa”, diz a co-fundadora da start-up nacional à FORBES. “Se a pessoa não arranjar trabalho depois da formação, nós não recebemos esse dinheiro de volta e a pessoa não entra em incumprimento do contrato. Há um foco total no resultado”, sublinha. Pelo resultado, leia-se “impacto social”, este é um novo conceito que está a começar a vingar entre uma nova geração de fundos de capital de risco para empresas do sector social. Um desses participantes é oMustard Seed Maze, que já investiu na Studentfinance.
António Miguel, co-fundador e director geral da start-up de impacto social Maze, explica à FORBES que “vamos investir em empresas em que o impacto e o retorno estão intrinsecamente ligados. Ou seja, se se tirar o impacto deixa-se de ter o negócio”, esclarece em entrevista na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. A fundação é a grande promotora desta nova abordagem filantrópica e a “progenitora” da Maze, cujo objectivo é colocar em prática programas e ferramentas financeiras de fomento às empresas do chamado sector social em âmbitos como a formação de quadros, incubação de empresas e monitorização de Títulos de Impacto Social (TIS). A Maze quer ser um dos principais actores deste novo modelo de gestão do sector social, através do estímulo de projectos que procurem resolver problemas sociais mas que sejam, ao mesmo tempo, empresas. Ou seja, que consigam ganhar dinheiro a resolver esses problemas sociais, originando o chamado investimento de impacto.
O sector social está a mudar. O modelo caritativo e a doação a fundo perdido estão a cair em desuso e as regras típicas da gestão com fins lucrativos estão a começar a ser aplicadas aos financiamentos de projectos sociais. Saiba como na edição de Abril/Maio da FORBES, nas bancas.