No ano passado, Portugal foi o local escolhido pela Nordea Asset Management (AM) para sediar o seu terceiro hub internacional. Desde então, a equipa da gestora de ativos cresceu mais de 100% e conta já com mais de 90 colaboradores, número que deverá continuar a ser reforçado nos próximos tempos.
A vinda da Nordea AM para solo português resulta do facto de Portugal preencher muitos dos requisitos ao nível da retenção de talento, como o elevado nível de conhecimento da língua inglesa, universidades de renome, um ecossistema fintech em crescimento e uma localização geográfica estratégica.
À FORBES, Laura Donzella, Diretora Regional da Nordea Asset Management para a Península Ibérica, LatAM e Ásia, fala do crescimento da Nordea AM em Portugal, as razões para se consolidarem no nosso país e as perspetivas de longo prazo em termos de negócio.
Quais foram os principais fatores que levaram a Nordea AM a escolher Portugal como sede do seu hub internacional?
Laura Donzella (LD): A escolha de Portugal, e de Lisboa em particular, é o resultado de uma série de desafios da nossa crescente presença global. O acesso e a retenção de talento têm sido uma prioridade para nós, e descobrimos que Portugal preenche muitos dos requisitos a este nível: oferece um elevado nível de competências na língua inglesa, universidades de renome, um ecossistema fintech em crescimento e fácil acesso a partir de outros locais europeus importantes, por exemplo.
Lisboa é um importante centro internacional para a nossa atividade, sendo também um ponto de referência e uma localização estratégica para servirmos os nossos clientes no sul da Europa e na América Latina. A proximidade geográfica de Lisboa é inestimável para os nossos clientes que servem os mercados português e latino-americano. Para além da sua função global, o nosso escritório de Lisboa permite-nos servir melhor os nossos clientes portugueses e espanhóis devido à nossa presença próxima.
“Lisboa é um importante centro internacional para a nossa atividade”
O que fazem aqui que não poderiam ter feito num dos países nórdicos, Finlândia, Suécia, Noruega ou Dinamarca?
A NAM é uma gestora de ativos global com operações espalhadas por todo o mundo em 18 locais diferentes na Europa, América Latina, Ásia e Américas. O nosso ADN é nórdico e isso fará sempre parte da nossa identidade, mas as nossas operações de gestão de ativos têm presença em todo o mundo.
Estar perto dos nossos clientes neste mercado tem um valor incontornável – esforçamo-nos por fazer parte da comunidade e dos ecossistemas locais e por desenvolver soluções em cooperação com os atores financeiros.
No contexto global da Nordea AM, para além do hub português e da sede em Helsínquia, que outros hubs têm?
Efetivamente, não temos um hub em Helsínquia – as nossas operações bancárias estão lá, mas os nossos hubs de gestão de ativos estão em Copenhaga, Luxemburgo e Portugal.
Um ano depois o que é que os desapontou neste investimento que realizaram em Portugal?
Não estamos desiludidos com o nosso investimento em Portugal, muito pelo contrário. Embora as nossas equipas de vendas e de serviço ao cliente em Portugal trabalhem em colaboração com os nossos outros centros no Luxemburgo e em Copenhaga, a proximidade geográfica de Lisboa faz uma diferença significativa na oferta de um melhor serviço aos nossos clientes, nos mercados português e latino-americano, em particular o mercado brasileiro.
Como foi a resposta do mercado e dos clientes aos serviços prestados pelo hub em Portugal?
Na nossa perspetiva, o típico investidor português mantém-se conservador e, por vezes, opta por estratégias mais defensivas, em que a maior parte da carteira se concentra no longo prazo e não em ganhos a curto prazo. No entanto, mais recentemente temos observado uma exposição ligeira a outro tipo de soluções. Por exemplo, temos observado um interesse no universo dos investimentos crossover. O Nordea 1 – European Cross Credit Fund explora oportunidades de investimento naquilo a que chamamos 6B’s: Categorias de rating BBB, BB e B. A estratégia procura explorar os spreads de crédito/variações de avaliação entre as diferentes categorias de rating, revelando os melhores retornos ajustados ao risco. Consequentemente, o gestor de carteira seleciona os créditos com os fundamentos mais sólidos dentro deste universo específico a uma avaliação relativa atrativa.
“O típico investidor português mantém-se conservador, mas mais recentemente temos observado uma exposição ligeira a outro tipo de soluções”
Muitos investidores estão também a optar por numerário, depósitos ou títulos soberanos devido às elevadas taxas de juro. Em resposta a esta tendência, a NAM lançou classes de ações M-share (classes de ações de distribuição mensal) para 8 dos nossos fundos (como por exemplo, o Nordea 1 – Stable Return Fund). Os investidores que procuram fluxos de caixa regulares dos seus investimentos podem recorrer a estas classes de ações de distribuição mensal para beneficiarem de um fluxo de rendimento, mantendo a sua exposição às oportunidades de retorno total oferecidas por outras soluções de rendimento fixo, ações ou multiativos.
Na NAM, adotamos uma abordagem de seleção de ações “bottom-up” que resulta numa carteira conservadora de elevada convicção.
Quantos elementos da equipa da Nordea AM estão em Portugal e quais o tipo de qualificações?
A NAM presta serviços a clientes há muitos anos no mercado português e estabeleceu um escritório local em 2022. Desde então, a nossa equipa local cresceu para mais de 90 pessoas que apoiam as nossas atividades em todo o mundo.
Durante o último ano, aproveitámos com sucesso o hub de Portugal em toda a cadeia de valor de apoio. Temos uma equipa de apoio completa com capacidades em RFP, ESG, Marketing, Fund Reporting e Client Servicing. Dispomos também de análises comerciais, vendas, apoio jurídico e informático, bem como de capacidades em matéria de relatórios regulamentares, operações S&FX e liquidação. A nossa decisão de abrir um hub em Portugal revelou-se acertada e estamos empenhados em reforçar a nossa presença neste país a longo prazo.
“A nossa decisão de abrir um hub em Portugal revelou-se acertada e estamos empenhados em reforçar a nossa presença neste país a longo prazo”
Podemos esperar uma expansão futura do escritório em Portugal? Quais são os planos para consolidar a presença da Nordea AM no país?
Continuaremos a reforçar a nossa equipa em Portugal, conforme necessário. Para já, o foco será na expansão do atual espaço para albergarmos futuras contratações. Estamos comprometidos com o hub de Lisboa, que ao longo deste ano provou ser uma excelente base operacional para a NAM. Desta forma e sendo uma gestora de ativos internacional, manteremos os nossos hubs nas outras localizações e, simultaneamente, continuaremos a expandir o nosso negócio em Portugal.
“Estamos comprometidos com o hub de Lisboa, que ao longo deste ano provou ser uma excelente base operacional para a Nordea AM”
A Nordea AM está direcionada para apoiar as economias nórdicas. Ainda assim, e atendendo a que estão em Portugal, dos fundos e dos investimentos que gerem há capital direcionado para apoiar empresas portuguesas?
O nosso foco não é apenas na economia nórdica, pois tendo uma presença global, procuramos também apoiar outras economias como Portugal, América do Norte, Ásia e América-Latina, entre outras. No caso de Portugal, por exemplo, investimos na EDP através dos nossos fundos, como é o caso do Global Stable Equity Fund. Por outro lado, também gerimos fundos que estão disponíveis junto de outros parceiros do setor da banca, como é o caso do Banco Santander Totta (Nordea 1 – European Covered Bond Fund); Caixa Económica Montepio (Nordea 1 – Low Duration European Covered Bond Fund) e o Novo Banco (Nordea 1 – European Financial Debt Fund).
Quais são as perspetivas de longo prazo da Nordea AM em Portugal em termos de negócios e crescimento?
Apesar de não podermos adiantar números, a nossa visão para Portugal é a longo-prazo. No futuro, vamo-nos concentrar em reforçar a nossa relevância no país e continuaremos a apostar no acesso ao talento português através do fortalecimento da relação com intervenientes-chave, como as universidades locais.