Miguel Ribeiro, fundador, analisa o seu percurso, de pequena imobiliária da zona da Grande Lisboa a rede de agências e utilizadora de inteligência artificial. Miguel Ribeiro estava destinado a trabalhar com imobiliário. O pai está ligado à construção há 60 anos, e Miguel foi acompanhando a área ao longo da vida. Foram crescendo juntos e, mesmo quando estudou Direito, mantinha o olho na forma como as cidades crescem. Especializou-se em Direito do Ordenamento do Território, Urbanismo e Ambiente e trabalhou nesta área até criar, em 2004, a Predimed, uma marca imobiliária presente atualmente em todo o país.
A nova fronteira para este negócio parece ser a inteligência artificial. Enquanto nas cidades inteligentes é usada para recolher dados e usá-los na gestão do espaço comum – trânsito, recolhas do lixo, qualidade do ar –, no negócio imobiliário aproxima o potencial comprador do imóvel ideal. Em Cascais, uma das smart cities portuguesas, Miguel Ribeiro falou-nos sobre a relação entre tecnologia e imobiliário e o papel das consultoras no desenvolvimento das cidades.
Como nasceu a Predimed?
Em 2004, surgiu a oportunidade de, com outra pessoa que já não me acompanha, montarmos uma imobiliária tradicional, em Odivelas. A perspetiva inicial não era ser uma marca nacional, mas rapidamente percebi que havia essa dupla componente de negócio: a mediação imobiliária em si (angariar e vender imóveis), e depois a possibilidade de replicar ou fazer crescer um modelo de sucesso – este segmento de negócio que é a marca. Este acabou por ser o meu caminho.
Em oposição a essa ideia de imobiliária tradicional, o que é hoje a Predimed?
É uma rede. Não tem agências próprias, são todas elas dos consultores imobiliários que depois as abrem e gerem. O que nós temos é a gestão da marca e dessa rede, através de um conjunto de regras, procedimentos, ferramentas de trabalho que disponibilizamos aos consultores e que nos permitem melhorar a qualidade do serviço que damos ao cliente final.
“Eu sentia que a Predimed tinha de ser uma rede, uma marca forte sem estar restrita a uma região. Hoje temos 1500 pessoas a colaborar connosco”
O que o levou a tomar este caminho?
Foi um processo. Por causa do crescimento orgânico que tivemos no primeiro ano, comecei a olhar para o negócio da marca, comecei a pensar que uma coisa é gerir uma agência imobiliária, uma loja, onde as decisões acabam por ser tomadas na hora; outra é gerir várias equipas espalhadas por lojas diferentes.
O maior número de pessoas na empresa e a presença em mercados diferentes permitiram-me perceber que é este negócio que quero desenvolver e não tanto a intervenção direta na mediação do dia a dia. De facto, isso resultou, em 2008, numa separação dos sócios fundadores. Eu sentia que a Predimed tinha de ser uma rede, uma marca forte sem estar restrita a uma região. Hoje temos 1500 pessoas a colaborar connosco, estamos entre as maiores marcas de mediação imobiliária do país e, dentro das maiores, somos a maior 100% portuguesa.
Introduziram a inteligência artificial no vosso trabalho: como está na prática no vosso trabalho?
Fomos pioneiros em Portugal no lançamento de uma ferramenta de metasearch, ou seja, levantamento de informação sobre imóveis disponíveis e o cruzamento dessa informação com o nosso CRM [ferramenta digital que organiza os clientes que procuram e vendem imóveis]. Mais recentemente também na produção de conteúdos e imagens para o nosso CRM, para redes sociais e para a exposição do seu trabalho. Trabalhamos há muitos anos com parceiros tecnológicos que nos dão a oportunidade de sermos beta testers dessas soluções.
4 aspetos que distinguem as cidades do futuro, para Miguel Ribeiro
→ Planeamento urbanístico com o contributo de todos os agentes
→ Mobilidade planeada a par do crescimento imobiliário
→ Proteção do ar dentro das cidades
→ Acesso à natureza dentro da cidade
Como vê evoluir esta relação entre a inteligência artificial e a mediação imobiliária?
Sempre que há saltos tecnológicos quantitativos na mediação imobiliária, há quem diga que qualquer dia já não são precisas as pessoas, como quando apareceram os portais, a substituir os anúncios de jornal, por exemplo. Foi precisamente o contrário: os portais trouxeram uma uniformização de informação muito melhor para o mercado, e a mediação cresceu ao longo destes anos. Os CRM, as ferramentas de metasearch, tudo isto poderia levar o cliente a pensar “por que raio é que eu preciso de uma pessoa entre mim e o proprietário?”.
O que tem o mediador a acrescentar?
No imobiliário o fator humano é essencial. É um negócio comercial, mas o objeto do negócio são imóveis, para a maior parte, é o bem mais importante que têm, o negócio mais importante da vida. As pessoas sentem-se melhor estando acompanhadas por um profissional que defenda os seus interesses. A mediação profissionalizou-se ao ponto de as pessoas obterem ganhos na negociação, na legalidade e no acompanhamento.
Todas as cidades portuguesas têm tido uma evolução grande fruto de um fator novo: o investimento estrangeiro. Há 20 anos não era assunto. A entrada, na procura, desses clientes e capital estrangeiros permitiu uma reabilitação urbana muito importante
E que papel tem a mediação imobiliária nesta transformação das cidades?
Há 20 anos nenhum promotor imobiliário chamava alguém da mediação para dar uma opinião sobre um projeto. Hoje, cada vez mais, na fase inicial de desenvolvimento, somos chamados a dar o nosso contributo. O que interessa é chegar ao cliente, e nós lidamos todos os dias com os clientes finais, sabemos o que são as tendências. Há um exemplo muito tosco, mas que ajuda a perceber isto: os promotores imobiliários perceberam que não é importante colocar bidés nas casas de banho graças à mediação imobiliária. As pessoas diziam-nos sempre nas visitas que aquilo só roubava espaço.
Numa visão mais macro, a mediação imobiliária tem um dever para com as cidades?
Aí mexe com poderes públicos. Num país com um ordenamento jurídico como o nosso, não há urbanizações sem aprovação de câmaras municipais. Ainda está a faltar reconhecimento dos poderes públicos para que a mediação imobiliária seja chamada de forma oficial a dar o seu contributo no desenvolvimento de projetos que vão transformando as cidades