Em conversa com a Forbes, Nuno Inácio, responsável de Ride-hailing da Bolt em Portugal, refere que a empresa, que atua no setor dos TVDE, duplicou o número de viagens e tem o dobro dos utilizadores registados na aplicação quando comparado a 2019.
Para Nuno Inácio, o setor pode crescer ainda mais e ser alternativa aos veículos particulares também.
Os TVDE entraram, definitivamente, no cenário das soluções de mobilidade, passada a polémica fase inicial. Como está a decorrer o negócio de ride-hailing da Bolt neste momento, tendo também presente o período pré-pandémico?
Nuno Inácio (NI): Tendo em conta o período complicado que passámos com os confinamentos e a pandemia, esta área de negócio está já para lá da recuperação em relação ao período pré-pandémico: podemos dizer que estamos a registar mesmo um crescimento na procura pelo nosso serviço de TVDE.
Temos consciência do enorme desafio que a pandemia representou para muitos setores, sendo que o da mobilidade foi um dos afetados. O isolamento que este período provocou fez com as pessoas deixassem de sair de casa e, por isso, de recorrer a serviços de transporte TVDE. Hoje podemos dizer, como mencionado antes, que o setor está mesmo a crescer em relação ao ritmo pré-pandemia e, nesse sentido, temos desenvolvido algumas iniciativas para incentivar e motivar os motoristas parceiros da Bolt, para, de certa forma, os compensar pelos dois anos menos positivos.
“Esta área de negócio está já para lá da recuperação em relação ao período pré-pandémico”
Tentamos promover, continuamente, ações de comunicação junto dos parceiros, com o objetivo de proporcionar o máximo de lucro possível aos motoristas e o menor custo aos utilizadores. Além disso, a nossa equipa de desenvolvimento trabalha diariamente para melhorar o algoritmo de cálculo dos preços e criar opções mais sustentáveis e económicas.
No caso dos TVDE da Bolt, face a 2019, último ano completo antes da pandemia surgir, quais os valores em número de viagens e número de utilizadores?
NI: Comparativamente a esse espaço de tempo imediatamente precedente à pandemia por COVID-19, registamos agora uma duplicação no volume de viagens; em termos de utilizadores, podemos constatar que a nossa aplicação conta também com mais do dobro dos registados, quando comparado com 2019.
Esse crescimento significativo começou a sentir-se este ano ou vem já de 2021?
NI: Este crescimento varia consoante o setor de negócio da Bolt que se queira abranger. Por exemplo, a nossa aplicação que engloba o ride-hailing, ou transporte de passageiros (TVDE), registou um aumento síncrono com o aligeirar das medidas de confinamento.
Quais são as vossas perspetivas em termos de números e crescimento para 2022 e para 2023?
NI: Apesar de não ser possível ter previsões concretas, gostaríamos que este ritmo de crescimento se mantivesse: seria um bom sinal não só para nós, mas também para todo o setor. Refletiria a crescente importância que as soluções de mobilidade partilhada, como é o caso dos TVDE, tem vindo a assumir no quotidiano dos portugueses.
Entendem que ainda há capacidade para o mercado TVDE crescer mais? Ou atingimos já um pico?
NI: Com base na nossa experiência, consideramos que o setor tem um enorme potencial de crescimento e, nesse sentido, o nosso esforço é diário para ajudar a que este desenvolvimento aconteça da forma mais eficiente e sustentável possível, começando por tentar perceber quais as necessidades prementes do setor e tentando criar e implementar medidas para ir ao encontro dos nossos objetivos, bem como aos de todos os parceiros envolvidos na operação.
Em termos do número de operadores, no vosso entender, o mercado está preenchido ou também aqui pode haver espaço para vermos aparecer novos players?
NI: A concorrência é sempre um impulsionador de crescimento, portanto, desde que venham contribuir para o desenvolvimento do setor no país, os novos players no mercado são bem-vindos. A Bolt continuará a trabalhar junto de todos os intervenientes no setor para garantir o progresso do mesmo.
O número de condutores Bolt tem vindo a aumentar: quais os números atuais e que acréscimo de motoristas houve relativamente a 2019?
NI: Atualmente, não é possível detalhar o número exato de motoristas que temos inscritos na nossa plataforma, mas o crescimento atual ronda os 30% quando comparado com o início da pandemia. No entanto, temos parcerias com vários gestores de frotas, onde estão presentes motoristas que trabalham com a Bolt e que nos ajudam a prestar um serviço de excelência aos nossos utilizadores.
Mantemos também contacto frequente com os motoristas para perceber como os podemos apoiar e contribuir para o seu bem-estar. Parece-nos que só desta forma podemos ter motoristas motivados e empenhados em representar a Bolt e a fornecer este serviço aos nossos utilizadores.
“O crescimento atual do número de motoristas ronda os 30% quando comparado com o início da pandemia”
Neste momento, qualquer condutor que pretenda ser colaborador TVDE da Bolt consegue? Ou, neste momento, as “vagas” estão encerradas?
NI: Quem quiser colaborar connosco é sempre bem-vindo. Temos um portal próprio para todos os interessados.
Têm nalgumas zonas do país lista de espera de condutores que pretendem entrar no negócio dos TVDE da Bolt? Que números nos pode apresentar e como gerem essa questão?
NI: Notamos sobretudo alguma lista de espera nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Trabalhamos de perto com os gestores de frotas, que geralmente têm essas listas, bem como com as marcas de automóveis. Enquanto operadora, temos tentado estabelecer parcerias para permitir um acesso mais célere a carros nas quantidades e condições financeiras necessárias.
Que rentabilidade pode, atualmente, conseguir um condutor TVDE da Bolt? Desse ponto de vista, houve um ganho ao longo dos anos ou a rentabilidade tem-se mantido estável?
NI: A pandemia afetou muito o setor, mas o aumento no número de utilizadores da plataforma tem-se refletido num acompanhamento dos ganhos para os motoristas que trabalham connosco. Atualmente, é possível ganhar até 15€ por hora a trabalhar com a Bolt, valor esse que tem vindo a crescer significativamente nas últimas semanas e que se prevê que continue a crescer com o início da época alta de verão.
Com um aumento de viagens aumenta também a probabilidade de crescerem o número de clientes insatisfeitos. Qual o grau de satisfação que assinalam?
NI: O aumento do número de clientes não implica necessariamente uma diminuição na qualidade de serviço, até porque depende da eficácia de acompanhamento da procura que existe. Somos uma prova concreta disso, com um rating médio por parte dos nossos utilizadores de 4,84 em 5.
Monitorizam a qualidade do atendimento e do serviço que os colaboradores da Bolt prestam?
NI: Monitorizamos através dos inquéritos no fim de cada viagem, onde os utilizadores podem deixar também os seus comentários de forma anónima. Toda essa informação é tratada e a qualidade de serviço dos motoristas é avaliada consoante esse feedback. Temos, inclusive, uma espécie de treinos regulares para aqueles que possam estar com uma performance um pouco abaixo da média de avaliação, por forma a mantermos os padrões de excelência que queremos refletir no nosso serviço.
“Temos uma espécie de treinos regulares para aqueles motoristas que possam estar com uma performance um pouco abaixo da média de avaliação”
Os TVDE começaram por ser alternativas aos táxis e aos transportes públicos. Neste momento, estão já, igualmente, a afirmar-se como uma opção aos carros particulares?
NI: Mais do que acreditar na nossa missão de construir cidades para as pessoas e não para os carros, temos na rápida recuperação registada, não só por nós, mas também pelos nossos concorrentes, a prova de que cada vez mais pessoas olham para o setor como uma alternativa sólida e fiável para as suas deslocações diárias, podendo atuar como uma solução ao uso constante do carro particular. Dando um exemplo concreto: dados do INE apontam para que, entre 2011 e 2021, o número de jovens de 18 e 19 anos com carta de condução desceu de 134.231 para 89.346, uma queda de mais de 30%. Este é apenas mais um indicador sobre como as mais novas gerações começam a deixar de ver o veículo próprio como uma prioridade – e é aí que os TVDE se têm vindo a impor como uma das melhores alternativas.
“As mais novas gerações começam a deixar de ver o veículo próprio como uma prioridade – e é aí que os TVDE se têm vindo a impor como uma das melhores alternativas”.
Que medidas estão as operadoras a implementar para motivar os condutores particulares numa altura em que os preços dos combustíveis continuam muito altos?
NI: Enquanto operadora, os nossos motoristas são uma peça fundamental para a nossa visão de um futuro sustentável nas cidades. Aqui, a Bolt procura apoiar os motoristas, não só através de campanhas de motivação e apoio aos mesmos, mas também, sendo uma voz ativa junto dos órgãos tomadores de decisões e nos processos de avaliação da lei. Quando a escalada dos combustíveis começou, implementámos incentivos: fomos a única plataforma no mercado que introduziu uma compensação para recolhas com distâncias longas. A acrescentar, para premiar os que prestam melhor serviço ao cliente e educar para a possibilidade do constante melhoramento no mesmo, implementámos uma iniciativa chamada de Copa Bolt. Esta funciona como um torneio de futebol entre os motoristas, onde vão passando as eliminatórias os que têm um maior número de viagens, obedecendo obviamente a critérios rigorosos – e onde os vencedores de cada edição podem receber até €3300.
Em termos de frotas dos TVDE da Bolt, qual é a idade média do parque e qual a idade máxima que impõem aos vossos carros?
NI: Como em toda a nossa operação, tudo o que fazemos é estritamente dentro do que está legislado e regulado. Assim sendo, neste momento, o limite continua nos 7 anos de idade máxima para os veículos dos nossos motoristas.
As viaturas elétricas representam que percentagem no total dos TVDE da Bolt?
NI: De momento, constatamos que já supera os 10% da nossa frota total. Destaco que Portugal é dos países da União Europeia, na operação da Bolt, onde este número é dos mais elevados – portanto, podemos dizer que estamos melhor comparativamente a um cenário global.
Quota de viaturas 100% elétricas já supera os 10% da frota total da Bolt.
Têm algum tipo de incentivo para os vossos condutores/colaboradores optarem por veículos elétricos ou híbridos plug-in?
NI: No início do mês de março, anunciámos a redução de 75% nas comissões cobradas aos condutores que utilizem a categoria Gama Elétrica, durante um ano. Estas passaram dos habituais 20% para apenas 5%, oferecendo aos motoristas parceiros a possibilidade de aumentarem o seu retorno a trabalhar com a plataforma.
Atendendo à necessidade de reduzir emissões poluentes, a Bolt tem algum tipo de plano para aumentar a quota elétrica?
NI: Os nossos motoristas são uma peça fundamental para a nossa visão de um futuro sustentável nas cidades. Com a escalada do preço dos combustíveis, decidimos apoiá-los com uma iniciativa que procura ajudar na transição para veículos elétricos – permitindo maior retorno ao colaborar connosco na categoria Gama Elétrica. Esta redução das comissões é, a nosso ver, um passo em conjunto e em frente na direção certa.
Qual é o grande desafio que se coloca ao setor TVDE, neste momento?
NI: O futuro dos TVDE traz certamente a sua panóplia de desafios, sobretudo aos níveis legislativo e de sustentabilidade. A oferta continua ainda a superar a procura, e esse é também um dos nossos focos de momento. Ainda assim, acredito que estamos a trilhar bem estes caminhos; é sempre possível fazer mais e melhor para tornar a operação mais rentável para os nossos parceiros, satisfatória para os nossos clientes e eficiente, sobretudo para o ambiente.