A NASA está a procurar apoio internacional e até financiamento privado para manter ativas duas missões essenciais no estudo do clima, depois de a proposta de orçamento da Administração Trump para 2026 ter deixado de fora os Observatórios de Carbono em Órbita.
Face à perspetiva de fim de financiamento público, a agência espacial norte-americana anunciou que aceitará propostas externas até 29 de agosto, numa tentativa de evitar o encerramento das missões que monitorizam as emissões globais de dióxido de carbono e o estado da vegetação. A comunidade científica internacional já está a ser mobilizada, com contactos em curso com parceiros na Europa e no Japão, bem como com fundações e potenciais doadores privados.
“Estamos a contactar multimilionários. Estamos a contactar fundações”, afirmou David Crisp, cientista da NASA reformado e líder das duas missões, citado pela Associated Press (AP). Ainda assim, sublinha: “É uma péssima ideia tentar empurrar isto para a indústria privada, para os indivíduos ou para os doadores privados. Simplesmente não faz sentido.”
Face à perspetiva de fim de financiamento público, a agência espacial norte-americana anunciou que aceitará propostas externas até 29 de agosto. “Estamos a contactar multimilionários. Estamos a contactar fundações”.
A proposta de orçamento para 2026 — que o Presidente Donald Trump apelidou de “grande e bela lei” — não contempla qualquer verba para manter os dois observatórios em operação. Trata-se de um satélite de voo livre, lançado em 2014, e de um instrumento instalado na Estação Espacial Internacional desde 2019, com tecnologia semelhante à do Telescópio Espacial Hubble.
Em comunicado, a NASA justificou que estas missões estão “além da sua missão principal” e que o eventual cancelamento serviria para alinhar com “a agenda e as prioridades orçamentais do presidente”.
No entanto, investigadores alertam para o impacto negativo de tal decisão. Os observatórios permitem detetar com elevada precisão onde o dióxido de carbono está a ser emitido ou absorvido e contribuem para compreender fenómenos críticos como a fotossíntese das plantas, secas e o risco de escassez alimentar.
“Estamos a aprender muito sobre este planeta em rápida transformação”, frisou David Crisp. Entre as descobertas já proporcionadas pelas missões está o facto de a floresta amazónica emitir mais CO₂ do que absorve, ao contrário das florestas boreais do Canadá e da Rússia, que funcionam como sumidouros de carbono.
Estão em risco duas missões consideradas cruciais no monitorização global das emissões de carbono e da saúde das florestas.
Os dados recolhidos são considerados vitais não só para a investigação científica, mas também para decisores políticos e agricultores em todo o mundo. Jonathan Overpeck, especialista em alterações climáticas da Universidade de Michigan, classificou o possível fim das missões como “extremamente míope”. “As observações fornecidas por estes satélites são cruciais para gerir os crescentes impactos das alterações climáticas em todo o planeta, incluindo nos Estados Unidos”, disse à AP.
Neste momento, os fundos estão garantidos apenas até 30 de setembro. Um projeto de lei aprovado na Câmara dos Representantes prevê o encerramento das missões, em linha com o plano da Casa Branca, enquanto a versão do Senado procura manter o financiamento. As negociações no Congresso continuam, mas as probabilidades de reverter o corte são reduzidas.
Caso não se encontrem fontes de financiamento alternativas, o satélite autónomo poderá ser abatido e incinerado na reentrada na atmosfera. Já o instrumento acoplado à estação espacial pode ainda ser salvo com o apoio de parceiros internacionais.
com Lusa