Escolha de Trump para procurador-geral dos EUA gera críticas mesmo de republicanos
A nomeação de Matt Gaetz para procurador-geral dos Estados Unidos está a gerar uma onda de críticas vindas do lado democrata, mas também de republicanos, alguns próximos do Presidente eleito, Donald Trump.
Gaetz – conhecido pela sua lealdade a Trump e por posições políticas polarizadoras – está a ser questionado sobre a adequação para o cargo devido a investigações judiciais de que é alvo e à falta de experiência em funções executivas.
Congressista da Florida, Gaetz esteve sob investigação federal por alegações de tráfico sexual, embora nenhuma acusação tenha sido formalizada, e foi ainda alvo de uma investigação do Comité de Ética da Câmara dos Representantes, que também não resultou em sanções.
As controvérsias levantam preocupações sobre sua aptidão para liderar o Departamento de Justiça.
O ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton disse, numa entrevista televisiva, que a escolha de Gaetz “deve ser a pior nomeação para um secretário de gabinete na história americana”, acusando o futuro procurador-geral de ser “uma pessoa de duvidosa moral”.
Alguns senadores republicanos, incluindo figuras próximas de Trump, já expressaram ceticismo em relação à confirmação de Gaetz.
A senadora Lisa Murkowski, do Alasca, disse mesmo que não olha para Gaetz “como um candidato sério”.
“O presidente é livre para nomear quem desejar. O nosso papel constitucional nas nomeações é fornecer conselhos. (…) Não sei se algum dos meus colegas do Senado aconselha que o nome de Matt Gaetz seja apresentado. (…) O nosso papel é decidir se o devemos consentir”, escreveu Murkowski, nas redes sociais.
Também o senador Kevin Cramer, do Dakota do Norte, comentou que a nomeação “será um teste” e que “será necessário muito capital político para que ele seja confirmado”.
Contudo, também não há congressistas republicanos, começando pelo ‘speaker’ da Câmara de Representantes, que elogiam a escolha de Trump para o Departamento de Justiça, salientando a inteligência e o espírito reformista de Gaetz.
“Ele é um dos mais inteligentes membros do Congresso. (…) E é um reformista de alma e coração. E isso vai ser muito importante para o seu futuro cargo”, reconheceu o líder da maioria republicana na Câmara de Representantes, Mike Johnson.
Também o senador Markwayne Mullin, do Oklahoma, deposita confiança nos critérios que o Presidente eleito terá tido em conta para a escolha.
“Matt Gaetz e eu tivemos muitas divergências. Mas eu confio totalmente no Presidente Trump e na sua capacidade de decisão”, disse este influente senador no Partido Republicano.
Vários analistas políticos sugerem que a nomeação de Gaetz pode sinalizar uma tentativa de Trump de alinhar o Departamento de Justiça com os seus interesses pessoais e diversas figuras de relevo no Partido Republicano não escondem a surpresa e a desaprovação sobre esta nomeação.
O congressista Don Bacon, do Nebraska, alegou que foi “ensinado desde pequeno que, se não temos nada de bom a dizer, o melhor é ficar calado”, para justificar a sua ausência de comentário sobre a nomeação.
O problema para Trump é que a confirmação de Matt Gaetz como procurador-geral depende de audiências no Senado, onde enfrentará uma barragem de perguntas sobre o seu passado e sobre as suas qualificações.
Trump escolhe advogado Todd Blanche como adjunto do Departamento de Justiça
O presidente eleito dos Estados Unidos propôs Todd Blanche, advogado que liderou a defesa de Donald Trump no julgamento em Nova Iorque pelo pagamento irregular a uma atriz pornográfica, como número dois no Departamento de Justiça.
O republicano nomeou Blanche como procurador-geral adjunto e um dia depois de anunciar a proposta do polémico congressista da Florida Matt Gaetz como procurador-geral dos Estados Unidos.
As duas propostas devem ser ratificadas pelo Senado, que, na próxima sessão, conta já com maioria republicana.
Em comunicado, Trump destacou a experiência de Blanche à frente da procuradoria federal do distrito sul de Nova Iorque e referiu que a liderança deste vai ser crucial para corrigir “um sistema judicial quebrado há demasiado tempo”.
Natural do Colorado, Blanche juntou-se à equipa jurídica do ex-presidente em 2023 e liderou a defesa no julgamento de Nova Iorque, pelo qual, em maio deste ano, o republicano foi considerado culpado das 34 acusações de que era alvo, aguardando a sentença.
Participou também nos dois julgamentos de Trump conduzidos pelo procurador especial Jack Smith por interferência eleitoral, num tribunal federal de Washington, e pelo manuseamento indevido de documentos confidenciais na residência privada em Palm Beach, na Florida.
O presidente eleito também anunciou na quinta-feira a nomeação de Emil Bove, outro dos advogados que o representou, para o gabinete do procurador-geral e que vai ser responsável pela gestão do Departamento de Justiça até Blanche ser confirmado pela câmara alta do Congresso dos EUA.
Outra das novidades avançadas no mesmo dia é a nomeação do governador do estado Dakota do Norte, Doug Burgum, para liderar o Departamento do Interior. O anúncio foi feito informalmente durante uma gala em Palm Beach.
“Na verdade, ele vai dirigir o Departamento do Interior”, disse Trump a uma multidão, de acordo com a agência de notícias Associated Press.
O anúncio aconteceu pouco depois de Burgum se recusar a falar sobre o futuro na nova administração.
“Nada é verdade até que se leia na Truth Social”, disse Burgum aos jornalistas antes de Trump subir ao palco e referindo-se à rede social fundada pelo ex-presidente.
Ativista antivacinas Robert Kennedy Jr. para secretário da Saúde
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou também que vai nomear Robert F. Kennedy Jr., ex-candidato presidencial conhecido pelas suas teorias da conspiração sobre as vacinas, como o novo secretário da Saúde.
“Durante demasiado tempo, os americanos foram esmagados pela indústria alimentar e pelas empresas farmacêuticas que se envolveram em enganos e desinformação quando se trata de saúde pública”, frisou Trump, através da sua rede social Truth Social.
O magnata republicano prometeu que o Departamento da Saúde desempenhará um papel importante para garantir que a população está protegida “de produtos químicos nocivos, poluentes, pesticidas, produtos farmacêuticos e aditivos alimentares que contribuíram para a esmagadora crise sanitária” no país.
De acordo com Trump, Kennedy Jr. irá garantir que estas agências voltem a cumprir os mandatos da ciência “para acabar com a epidemia de doenças crónicas e tornar a América grande e saudável novamente”.
Num comício em Nova Iorque no final da campanha eleitoral, Trump já tinha avançado que se derrotasse a vice-presidente e candidata democrata, Kamala Harris, nas presidenciais de 05 de novembro, iria permitir que Kennedy Jr. assumisse a pasta da saúde.
O filho do ex-procurador-geral dos EUA Robert F. Kennedy e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, ambos assassinados na década de 1960, é, na opinião de Trump, “um sujeito fantástico” e com bons conhecimentos sobre pesticidas e meio ambiente.
Antes de dar o seu apoio a Trump, Kennedy Jr. tinha iniciado a sua candidatura mal sucedida à presidência pelo lado democrata.
Em abril do ano passado apresentou-se como alternativa ao Presidente Joe Biden e anunciou as suas aspirações a ser o candidato daquele partido, mas em outubro divulgou que ia abandonar aquele partido, para concorrer como independente, algo que acabou por suspender também.
Grande parte do clã Kennedy virou-lhe as costas por causa das teorias da conspiração que começou a espalhar durante a pandemia de covid-19 sobre as vacinas, como a de que este vírus tinha como objetivo atacar caucasianos e negros e que as pessoas mais imunes são os chineses e os judeus asquenazes.
Kennedy Jr. relacionou ainda os tiroteios em massa nas escolas com antidepressivos como o Prozac, denunciou que os democratas recebem muito mais dinheiro das empresas farmacêuticas do que os republicanos e está convencido de que as vacinas causam autismo.
Trump tinha-lhe garantido que teria um cargo relacionado com a Saúde no seu futuro executivo: “Promessa cumprida”, frisou na rede social X Donald Trump Jr., filho mais velho do ex-presidente (2017-2021) e magnata nova-iorquino.
A nomeação de Kennedy Jr. junta-se à polémica lista com que Trump prepara o seu segundo mandato, que inclui como procurador-geral o congressista conhecido por posições políticas polarizadoras Matt Gaetz, acusado de tráfico sexual de menores, o proprietário da X, Elon Musk, como responsável pela eficiência governamental, ou o apresentador da Fox News, Pete Hegseth, como chefe do Pentágono (Departamento de Defesa).
Nomeado de Trump para a Defesa assinalado por tatuagem associada a supremacistas brancos e acusado de agressão sexual em 2017
O veterano do exército dos EUA nomeado por Donald Trump para liderar o Departamento de Defesa, Pete Hegseth, foi assinalado por um ex-colega como possível “ameaça interna” por ter uma tatuagem associada a grupos de supremacia branca.
Pete Hegseth, que desvalorizou o papel dos militares e veteranos no ataque de 06 de janeiro de 2021 ao Capitólio, na sequência da derrota de Trump nas presidenciais de 2020, e criticou os esforços subsequentes do Pentágono para enfrentar o extremismo nas fileiras, disse que foi afastado pela sua unidade de servir como guarda de Joe Biden durante a sua tomada de posse como Presidente em janeiro de 2021.
Segundo assegurou, o seu afastamento, pela Guarda Nacional do Exército do Distrito de Columbia, foi decidido por uma “injusta identificação como extremista” com base numa tatuagem em forma de cruz que tem no peito.
Esta semana, no entanto, um colega da Guarda Nacional, que era, na altura, gestor de segurança da unidade e fazia parte de uma equipa antiterrorismo, afirmou, em declarações à agência Associated Press, ter enviado um e-mail aos responsáveis da unidade dando conta de uma tatuagem diferente, com um desenho que tem sido utilizado por supremacistas brancos e referindo que se trata de um indício de uma “ameaça interna”.
Segundo DeRicko Gaither, o aviso foi dado depois de ter recebido um e-mail com uma captura de ecrã de uma publicação de redes sociais que incluía duas fotos mostrando várias tatuagens de Hegseth.
Gaither garantiu ter pesquisado as tatuagens – incluindo uma de uma cruz de Jerusalém acompanhada das palavras (“Deus Vult” “Deus Quer” em latim) no seu bíceps – e determinou que era, suficientemente associadas a grupos extremistas para levar o e-mail aos seus comandantes.
Várias das tatuagens de Hegseth estão associadas a uma expressão de fé religiosa, de acordo com Heidi Beirich, do Projeto Global Contra o Ódio e o Extremismo, mas também foram adotadas por alguns grupos de extrema-direita e extremistas violentos.
“O seu significado depende do contexto”, disse, em declarações à Associated Press (AP).
Nem Hegseth nem a equipa de transição para a presidência de Donald Trump fizeram quaisquer comentários sobre a situação.
Uma investigação publicada em outubro pela AP indica que mais de 480 norte-americanos com antecedentes militares foram acusados de crimes extremistas com motivação ideológica entre 2017 e 2023, incluindo os mais de 230 detidos no âmbito da insurreição de 06 de janeiro de 2021.
Os números, recolhidos e analisados pelo Consórcio Nacional para o Estudo do Terrorismo e Respostas ao Terrorismo (START), da Universidade de Maryland, constituem apenas uma pequena fração daqueles que serviram nas Forças Armadas dos Estados Unidos, mas, segundo a investigação da AP, as conspirações que envolvem ex-militares têm maior probabilidade de acabar com um grande número de vítimas.
Hegseth, tal como muitos apoiantes de Trump, tem desvalorizado tanto a gravidade do motim no Capitólio – quando a 06 de janeiro de 2021 e incitados pelo ainda Presidente Trump, centenas de partidários se reuniram para protestar contra o resultado da eleição presidencial de 2020, justamente na data em que as duas casas legislativas iam ratificar a vitória de seu oponente, Joe Biden – como o papel de pessoas com formação militar.
O agora nomeado para o Departamento de Defesa, que é apresentador do canal de televisão Fox desde 2017, adotou uma abordagem diferente relativamente à condenação generalizada que se fez sentir no dia a seguir ao ataque.
Num painel na Fox News, Hegseth retratou a multidão como patriotas que “amam a liberdade” e o país e que tinham “despertado novamente para a realidade do que a esquerda fez” aos Estados Unidos.
Das 14 pessoas condenadas no ataque ao Capitólio por conspiração sediciosa, oito tinham servido nas Forças Armadas. Embora a maioria das pessoas com antecedentes militares detidas na sequência do 06 de janeiro já não estivessem no ativo, mais de 20 continuavam no exército aquando do ataque, de acordo com o START.
Hegseth escreveu no seu livro “A guerra contra os guerreiros: por detrás da traição dos homens que nos mantêm livres”, publicado no início deste ano, que apenas “um punhado” de soldados e reservistas estiveram no Capitólio nesse dia e defendeu que o Pentágono reagiu de forma exagerada ao tomar medidas para enfrentar o extremismo.
O perfil de Hegseth elaborado pela AP refere ainda que este no exército durante quase 20 anos e foi destacado para o Iraque, Afeganistão e Baía de Guantánamo, tendo recebido duas medalhas.
Durante esse período, tomou medidas para apoiar os criminosos de guerra condenados e disse recentemente ter ordenado ao seu pelotão que ignorasse as diretivas que limitam a possibilidade de disparar.
Numa entrevista em ‘podcast’ divulgada no início deste mês, disse estar orgulhoso do seu papel na obtenção de indultos dados por Trump em 2019 a um ex-comando do exército dos EUA que será julgado pelo homicídio de um alegado fabricante de bombas afegão, e a um ex-tenente do exército condenado por homicídio por ordenar aos seus homens que disparassem contra três afegãos, matando dois.
A pedido de Hegseth, Trump ordenou ainda uma promoção de Eddie Gallagher, um SEAL da Marinha condenado por posar com um prisioneiro morto do Estado Islâmico no Iraque.
Mas há ainda mais sombras sobre Hegseth.
O apresentador da Fox News nomeado por Donald Trump para liderar o Departamento de Defesa do futuro governo norte-americano, Pete Hegseth, foi acusado de agressão sexual em 2017, num evento de mulheres republicanas na Califórnia, revelaram hoje as autoridades.
Segundo as autoridades da cidade de Monterey, em resposta a perguntas da comunicação social, o incidente aconteceu de 07 de outubro para 08 de outubro de 2017 e a pessoa que denunciou a agressão – cujo nome, idade e sexo não foram divulgados – possuía nódoas negras na coxa direita. A alegada vítima comunicou à polícia que não houve qualquer tipo de armas envolvidas no caso.
As autoridades da cidade recusaram-se a divulgar um relatório policial que documente as acusações feitas e, em vez disso, emitiram uma curta declaração que refere que a polícia de Monterey foi contactada para investigar a alegada agressão sexual que, presumivelmente, ocorreu no Hyatt Regency Hotel em Monterey e envolveu Pete Hegseth.
O advogado de Hegseth, Timothy Parlatore, disse à Associated Press que as alegações eram “completamente falsas”. “Isto foi investigado pela polícia na altura e não encontraram provas”, acrescentou.
As autoridades da cidade de Monterey adiantaram que estavam a investigar mais pormenores, com base no relatório da polícia.
Pete Hegseth estava na cidade na altura para discursar no jantar da convenção da Federação das Mulheres Republicanas da Califórnia, de acordo com publicações nas redes sociais e materiais promocionais.
Steven Cheung, porta-voz da transição de Donald Trump, afirmou que o presidente eleito está “a nomear candidatos de alto calibre e extremamente qualificados para servir na sua Administração”. “Hegseth negou vigorosamente todas e quaisquer acusações e não foi apresentada qualquer queixa” afirmou Cheung.
Hegseth foi escolhido por Trump esta semana para servir o cargo de secretário da Defesa.
com Lusa