Como é que a responsabilidade social entrou na sua vida?
O meu acordar para a realidade da Responsabilidade Social não aconteceu por acaso, pois desde cedo tive apetência por esta área, não da forma estruturada como hoje funciona, mas através da manifestação de interesse e boa vontade em ajudar quem mais necessita.
Transpor algo inscrito no meu ADN pessoal para a realidade profissional foi apenas uma evolução natural de todo este processo, o qual se iniciou há cerca de 10 anos, quando em Portugal ainda se falava muito pouco de Responsabilidade Social Corporativa. Por outro lado, trabalhar junto de um líder com sensibilidade para esta área, facilita e faz com que hoje me orgulhe também de dizer que a Responsabilidade Social Corporativa faz parte integrante da Empresa onde trabalho. A GrandVision Portugal passou a apadrinhar uma série de Instituições tais como a Helpo ONG, a Cáritas Portuguesa, a Associação Jorge Pina, entre tantas outras com as quais já desenvolvemos várias iniciativas nesta área a nível nacional e também a nível internacional com uma missão humanitária em Moçambique. Perdi a conta a quantos donativos de óculos graduados, bens alimentares, computadores, remodelações de espaços, roupas, brinquedos, eletrodomésticos e tantas outras coisas doámos nos últimos anos.
A amizade, os sorrisos genuínos e o legado humano deste tipo de projetos ficam registados para sempre na minha memória e dão-me motivação, força e energia para continuar.
Falou em Moçambique…
Confesso que desde há muito que ambicionava participar numa Missão Humanitária em África e em outubro do ano passado, o meu sonho concretizou-se com a Missão “Olhar por Moçambique” inserida no âmbito do Dia Mundial da Visão. Durante esta Missão, realizámos cerca de 1000 rastreios visuais e doámos 600 óculos graduados. A experiência adquirida, a vivência diária, os amigos que fiz, as aprendizagens de uma vida, o aprender a desvalorizar umas coisas e a valorizar fizeram com que eu tivesse a consciência de ter aproveitado a oportunidade de subir um patamar acima na minha própria humanidade.
Aprendi que se consegue sorrir genuinamente quando se tem fome, que é possível ser bom aluno sem ter as mínimas condições para estudar, que é possível ser feliz quando a nossa família nos abandonou e que é possível estar de bem com a vida quando nos falta tudo… As próprias crianças conseguem ser felizes sem sequer terem um brinquedo para brincar, pois acreditem que em Moçambique até um simples balão pode ser algo mágico. Hoje, qualquer noticia sobre Moçambique desperta novamente em mim a preocupação e a saudade. Sei que vou voltar um dia… só não sei ainda quando!!
Acredita que, com a pandemia, a responsabilidade da ‘responsabilidade social’ aumentou?
Esta pandemia mudou completamente a vida de todos nós! A saúde pública, o confinamento, as novas regras e o distanciamento social mudaram brutalmente a nossa própria vida e humanidade como um todo.
Os encerramentos de empresas, os despedimentos e o lay-off vieram tornar todo este processo ainda mais complicado para as famílias vítimas de despedimento e de cortes salariais. A pobreza e fome já existente agravou-se. A solidão de quem vive sozinho, os idosos que não têm a quem recorrer, as crianças e jovens sem acesso a computadores para continuar com as suas aulas online, deixaram a descoberto uma sociedade altamente vulnerável e a gritar por ajuda. No entanto, quase que em simultâneo com tudo isto, surge uma sociedade mais virada para a cooperação do que para a competição e assistimos à explosão de uma gigantesca onda de solidariedade social. A sociedade em geral e as empresas através da sua Responsabilidade Social Corporativa foram chamadas a intervir, a ajudar o Estado tão sobrecarregado com tantos pedidos de ajuda para as mais diferentes áreas, revelando a imensa característica de solidariedade do povo português.
Neste contexto, qual foi o posicionamento da GrandVision?
No caso específico da GrandVision Portugal, nem a Pandemia nos parou! Muito pelo contrário, nesta altura e enquanto as pessoas e as empresas se retraiam, estivemos sempre presentes com vários tipos de iniciativas, tais como: donativos em géneros e em dinheiro à Cáritas Portuguesa, donativo de computadores a crianças e jovens durante o período de aulas online, donativo de 500 viseiras à Ordem dos Médicos, donativo de óculos graduados, bens alimentares e kits de higiene individual aos Sem Abrigo de Lisboa referenciados pela Comunidade Vida e Paz, etc. Internamente, desenvolvemos o Projeto “Família Solidária” para ajudar os nossos próprios colaboradores, também muitos deles a passar por momentos difíceis.
A Responsabilidade Social é agora uma realidade transversal a todos nós! Todos juntos, profissionais de saúde, Estado, Empresas e o comum cidadão no combate a um vírus com a capacidade tripartida de infetar e matar de pessoas, de asfixiar a vida destas e minar a economia. O desafio é grande para todos e não podemos ceder ao colapso da saúde, da economia e da nossa própria humanidade…
A sustentabilidade também faz parte do seu ADN. São escolhas difíceis e compatíveis nos dias que correm?
A Sustentabilidade já não é uma escolha, é uma prioridade! Não podemos adiar mais o futuro da Humanidade, temos de assumir os nossos erros e tomar medidas urgentes para os corrigir. O Estado, as Empresas e todos nós temos um papel a desempenhar nesta matéria. Um pequeno gesto hoje terá certamente consequências amanhã, e só todos juntos podemos fazer a diferença.
A Sustentabilidade também é parte integrante da Responsabilidade Social, porque não faz sentido ajudar os que mais necessitam, permitindo-lhe um futuro melhor, se não houver um planeta com futuro. Recentemente lançámos na GrandVision Portugal o nosso projeto de Sustentabilidade Interna, o qual partiu de um princípio de Gamification envolvendo todos os colaboradores e franquiados. Este é um projeto transversal a toda a organização, o qual é alimentado com uma Newsletter quinzenal onde são divulgadas boas práticas, partilhadas ideias e divulgados os vencedores dos nossos concursos de Sustentabilidade. Apesar da situação económica menos favorável que atravessamos, a verdade é que a Sustentabilidade continua a ser olhada de lado, porque muitas vezes é associada a escolhas mais onerosas. Mas ser sustentável é muito mais do que isso, pois nem sempre implica custos acrescidos, muito pelo contrário, ser sustentável é reutilizar e reciclar, não é comprar novo. Este é o mindset que todos nós temos de interiorizar se queremos salvar o nosso planeta.
Segundo relatório da ONU sobre desenvolvimento sustentável, ocupamos o 26.º lugar de um total de 162 países avaliados Isso significa que até somos uma referência em termos ambientais?
Infelizmente Portugal ainda não é uma referência em termos ambientais, pois ainda há um longo caminho a percorrer. Na realidade, dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável decretados pela ONU, Portugal destaca-se principalmente na área das energias renováveis, acessíveis e sustentáveis. No entanto, o nosso país ainda tem um longo caminho pela frente na área da erradicação da pobreza, ação climática e produção e consumo sustentáveis. É urgente desenvolver projetos de Sustentabilidade transversais a todas as áreas da economia e da sociedade. Temos de melhorar a nossa postura face ao tema e levá-lo realmente a sério, colocando a Sustentabilidade na agenda do dia.
Do seu ponto de vista, os orçamentos para a responsabilidade social ficam muito aquém das expectativas?
Os orçamentos para a Responsabilidade Social são sempre curtos, pois infelizmente há sempre muitas Instituições e pessoas para ajudar. No entanto, mais importante do que nos recrimináramos por isto, é encontrar alternativas possíveis para nos ajudar a ultrapassar esta questão, tais como conseguir parceiros para atuar nesta área, patrocinadores, envolver os nossos colaboradores e clientes em ações de recolha de bens, etc. Temos de reinventar os nossos projetos em função das necessidades e da forma como respondemos às mesmas. O importante mesmo é não deixar de atuar nesta área, nem que tenhamos por vezes de desenvolver projetos autossuficientes, ligando a Responsabilidade Social à Sustentabilidade, através da reutilização e da reciclagem. Este é o exemplo a seguir.
Projetos para 2021…
É difícil fazer projetos no meio de uma Pandemia, mas uma coisa é certa, continuarei a trabalhar nestas 2 áreas que tanto gosto, reinventado cada projeto de acordo com a realidade do momento. Não vou cruzar os braços!! Enquanto tivermos uma Política de Responsabilidade Social ativa e enquanto lutarmos por um planeta mais sustentável estamos a deixar sementes que certamente um dia vão dar fruto, mesmo no meio de uma realidade pandémica…