Milhares, muitos milhares de pessoas saíram hoje à rua para comemorar os 50 anos do 25 de Abril, no parlamento a direita atacou o Presidente por causa da herança colonial e Marcelo fez a defesa da democracia.
Desde manhã cedo, com a cerimónia militar na Praça do Comércio, em Lisboa, onde desfilaram, em viaturas da época, militares que fizeram o golpe do Movimento das Forças Armadas (MFA que derrubou a ditadura em 1974, milhares de pessoas passaram também no Largo do Carmo e, à tarde, encheram a avenida da Liberdade, na capital, como há muitos anos não se via. Manifestações e desfiles repetiram-se no Porto, Coimbra, Faro e noutras cidades.
Depois do desfile militar, as cerimónias oficiais passaram para dentro da Assembleia da República, para os tradicionais discursos políticos, marcados pelas críticas do CDS-PP, Iniciativa Liberal e o Chega, que acusou Marcelo de traição aos portugueses por ter reconhecido a responsabilidades de Portugal por crimes cometidos durante a era colonial, sugerindo o pagamento de reparações pelos erros do passado.
“Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto”, afirmou Marcelo, citado pela agência Reuters, na terça-feira, num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal.
A frase foi gatilho para um ataque por parte da direita, a começar por Paulo Núncio, líder parlamentar do CDS, que rejeitou “revisitar heranças coloniais” e “deveres de reparação”: “Não queremos controvérsias históricas nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos fora do quadro lusófono.”
Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal (IL), considerou que, quem declara ser obrigação de Portugal “indemnizar terceiros” pelo passado, está a atentar “contra os interesses do país” e disse a Marcelo: “E não, senhor Presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência.”
O mais violento nas críticas foi André Ventura, do Chega. “O senhor Presidente da República traiu os portugueses quando diz que temos de ser culpados e responsabilizados pela nossa História, que temos de indemnizar outros países pela História que temos connosco”, criticou.
Pelos partidos de esquerda, a questão foi secundarizada, nos discursos e nas declarações após o discurso de Marcelo, embora Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, tenha dito ser importante que Portugal, tal como acontece noutros países, faça um debate sobre o seu passado colonial e rejeitou a narrativa da direita que “culpa a democracia por tudo o que de mal aconteceu”.
O PS, através de Alexandra Leitão, líder parlamentar, sublinhou que o discurso do Presidente foi de “união em torno destes 50 anos”, concordando que “por mais imperfeita que seja a democracia é sempre melhor do que qualquer ditadura”.
Marcelo, disse, fez um discurso de “um percurso histórico, de forma analítica destes 50 anos, referindo personalidades de vários quadrantes políticos” e “nesse sentido foi um discurso de união”.
E o que o Chefe do Estado defendeu foi isso mesmo, depois de revisitar as origens, os acontecimentos do 25 de Abril. Sem responder à polémica que o envolve, afirmou: “Tenhamos a humildade e a inteligência de preferir sempre a democracia, mesmo imperfeita, à ditadura.”
Para Marcelo, “são democracias, mesmo inacabadas, as sociedades mais fortes e criativas do mundo, como são as humanamente melhores, como são as ambientalmente mais avançadas, como são as mais livres, mais plurais, mais abertas, menos repressivas, menos persecutórias, menos intolerantes, menos avessas à diferença”.
Dos discursos ficam a defesa da democracia, e com balanços diferentes dos últimos 50 anos. Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, prometeu defender a democracia política, social e cultural “dos ataques dos novos e velhos inimigos”, considerando que Abril é uma vitória dos portugueses cujos problemas “não se resolvem com o populismo”.
Pelo PSD, a deputada independente Ana Gabriela Cabilhas alertou que “os políticos estão ao serviço do povo” e devem trabalhar para resolver os seus problemas, criticando os que querem “dividir o país”.
Ainda à esquerda, Maria Mortágua, do BE, criticou as “carpideiras do salazarismo”, avisou que “os saudosistas são perigosos porque vivem para a mentira” e pediu um “manifesto pelo futuro” com alertas sobre o capitalismo.
Já Rui Tavares, do Livre, improvisou, lembrou o 25 de Abril como a “mais bela revolução do século XX”, uma data única, apelando a um país “cheio de desejos de objeto político” contra os inimigos da revolução.
Pelo PCP, o novo secretário-geral, Paulo Raimundo, criticou uma minoria “que tudo fez e faz para destruir conquistas e recuperar o poder perdido”, procurando “falsificar e reescrever a história”, e pediu que se retome “a esperança em Abril”.
A deputada do PAN Inês Corte Real alertou que os direitos humanos estão a ser postos em causa e defendeu que é hora de o país se “erguer contra aqueles que procuram silenciar a voz de Abril”.
Lusa