A diretora do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), Maria de Jesus Monge, espera a reabertura do museu para o segundo semestre de 2026, com os Painéis de São Vicente restaurados “na sua melhor forma”, para serem apreciados pelo público.
O MNAA, localizado na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa, vai encerrar ao público no próximo dia 29, para a realização de obras no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), sem previsão de data exata de reabertura, mas com o calendário europeu por referência.
“Nós estamos dependentes dos prazos do PRR, ao contrário do que é habitual, em que a data de fim [de obras] escorrega um pouco. Aqui, não vai ser possível, porque as datas de conclusão são definidas por Bruxelas, e temos de cumprir esses calendários”, comentou Maria de Jesus Monge, em entrevista à agência Lusa, referindo-se à data limite de 31 de junho de 2026.
As obras do MNAA – que envolvem a renovação e requalificação do telhado e das fachadas do edifício – deveriam ter começado há cerca de um ano, “o que não chegou a acontecer”, tendo a anterior direção encerrado em março deste ano a Galeria de Pintura Europeia para esse efeito.
Em conjunto com Joaquim Caetano, anterior diretor e atual conservador da área da pintura, Maria de Jesus Monge, que assumiu o cargo em 01 de março, chegaram à conclusão de “que não havia ainda no horizonte data de início de obra”.
“Aproximava-se o verão, os visitantes reclamavam, com toda a justiça, para ver obras de referência” da coleção. “Por essa razão resolvemos reabrir parcialmente a Galeria de Pintura Europeia em junho, com um novo rearranjo efetuado nessas salas, e que ainda pode ser visto pelo público esta semana, antes do encerramento”, apontou a historiadora e museóloga.
Sobre o atraso do projeto, a diretora esclareceu: “Por razões várias, que são públicas, o arranque das obras não aconteceu. Os concursos foram ficando vazios, e houve dificuldade em conseguir pôr de pé este projeto. Finalmente, na semana passada, tivemos a boa notícia de que vai acontecer, e tendo em conta os prazos PRR, terão de ser realizadas a um ritmo bastante acelerado.
“A equipa [do museu] está muito motivada e isso dá alento a todo o enorme trabalho que nos espera. É sempre mais fácil desmontar, do que voltar a montar, mas vai ser um grande esforço que vamos cumprir com muito gosto”, disse a museóloga, que foi vogal da empresa pública Museus e Monumentos de Portugal (MMP) entre outubro de 2023, até à substituição da administração pelo Governo, em maio de 2024.
Quanto à reabertura daquele que é considerado o museu mais importante do país, pela sua coleção de arte antiga e pelo número de “tesouros nacionais” no seu acervo, Maria de Jesus Monge disse: “Com certeza que será no segundo semestre de 2026, mas não sabemos, porque estamos dependentes dos calendários do PRR”.
Durante as obras, as equipas do museu vão continuar a trabalhar, porque “estarão reunidas as condições de segurança e conservação” para prosseguir restauros de obras, nomeadamente dos Painéis de São Vicente, obra icónica de pintura de Nuno Gonçalves com mais de 500 anos, retrato coletivo simbólico da História e cultura portuguesas da época.
Os painéis são alvo de restauro desde 2020, no âmbito de um projeto internacional com o apoio da Fundação Millennium BCP.
“Temos tido visitas dos especialistas que acompanham o projeto desta obra icónica, e espero que no segundo semestre do próximo ano esteja também concluído. Essa é a minha convicção, e espero que se cumpra, que estejam restaurados e na sua melhor forma para voltarem a ser apreciados pelo público”, comentou a historiadora.
Quando o MNAA estiver na posse de todos os estudos que estão a ser realizados sobre os painéis, com pesquisas aprofundadas de várias áreas, será feita uma publicação dos resultados, acrescentou a responsável, que foi conservadora do Museu-Biblioteca da Casa de Bragança desde 1996, assumindo a direção daquele equipamento em 2000.
Relativamente às obras que serão iniciadas em 29 de setembro, a diretora ressalvou que já está em curso o restauro das Capela das Albertas, incorporada no edifício do museu, “com uma intervenção de conservação de património integrado, essencialmente talha, azulejo e escultura”.
Duas campanhas de obra serão iniciadas dentro de uma semana, “e são mais importantes porque são estruturantes”.
“Uma delas no telhado, o elemento que permite viver com qualidade – e esta casa há muito que pedia uma intervenção de fundo, fundamental, sem a qual o museu não poderia continuar a cumprir a sua missão”.
Outra nas fachadas do edifício, que serão requalificadas: “Qualquer pessoa que passe na Rua das Janelas Verdes vê, e é difícil acreditar que o Museu Nacional de Arte Antiga se abriga por detrás daquela parede decrépita”, comentou a diretora à Lusa.
De acordo com a informação mais recente do portal Mais Transparência, no âmbito do PRR foi atribuído um financiamento de 6,57 milhões de euros para intervenções no MNAA, dos quais já foram pagos 1,32 milhões, tendo como prazo de conclusão 30 de junho de 2026.
Do ponto de vista museográfico “haverá uma importante intervenção” no piso intermédio, onde estão expostas as artes decorativas – ourivesaria, cerâmicas, artes orientais e a Expansão Portuguesa – que “praticamente não era requalificada desde Lisboa’94” Capital Europeia da Cultura, lembrou.
“Além da intervenção nas vitrinas, alcatifas e outros materiais, também a equipa do museu considerou necessária uma renovação do discurso, no sentido de ‘fazer falar’ as obras de forma diferente”, apontou a museóloga sobre o museu criado em 1884, que reúne atualmente um acervo de cerca de 40 mil peças.
Estas obras do PRR serão também “uma oportunidade para renovar peças nas outras áreas, e melhorar alguns dos elementos que ajudam o público a apreender a coleção, nomeadamente a iluminação, tabelas, e a comunicação de uma forma geral”, especificou.
Depois de ter sido decidida, pelo anterior Governo, em janeiro de 2024, a compra de dois imóveis e um terreno na Avenida 24 de julho para a expansão do MNAA, o novo Governo, no início do ano, voltou a aprovar a medida em Conselho de Ministros, num montante de 10,2 milhões de euros, por ter sido “impossível fazer a aquisição no prazo previsto” pela primeira resolução.
Questionada sobre esta matéria, Maria de Jesus Monge disse: “Tenho indicações que o processo está praticamente concluído e podemos começar a pensar em avançar. Mas é uma situação que me ultrapassa, e espero ter em breve notícias mais concretas sobre a situação”.
“Há praticamente 80 anos que os diretores desta casa têm alertado para a necessidade de expansão devido à dimensão das coleções e das obrigações que este museu tem para com o público”, sustentou.
O PRR é um programa europeu, com um período de execução até 2026, que visa implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado, após a pandemia.
Ana Goulão/Agência Lusa