Numa altura em que as questões da sustentabilidade e de economia circular estão, mais do que nunca e cada vez mais, na ordem do dia, o cofundador da Apple, Steve Wozniak, veio colocar-se ao lado de todos aqueles que se batem contra uma sociedade baseada no consumo descartável.
Numa aparição vídeo gravada por Louis Rossman, YouTuber e ativista do “Right to Repair” para a plataforma Cameo, Wozniak reconheceu que “não teríamos a Apple se eu não tivesse crescido num mundo de tecnologia muito aberta”.

Este executivo histórico, que deixou a Apple em fevereiro de 1985, nove anos após ter fundado a companhia ao lado de Steve Jobs, refere ter lido “muitos artigos sobre o problema do direito de reparar”, assumindo-se apoiante da causa: “Sou um apoiante total [do direito à reparação, n.d.r.] e penso que as pessoas que estão por detrás disso estão certas”.
Wozniak recordou os tempos de juventude em que construía e arranjava os seus próprios aparelhos de rádio, juntando circuitos e transmissores e beneficiando do facto dos desenhos técnicos estarem livremente disponíveis, na altura.
“É hora de reconhecer o direito de reparar de forma mais completa”, afirma Wozniak.
Wozniak explicou que cresceu a mexer em televisores e o processo permitiu-lhe aprender o básico da engenharia eletrónica. Fruto desse ambiente de código aberto, “alguém com habilidade poderia abrir os aparelhos e alterar algo para consertar rádios estragados ou televisores para melhorá-los ou até mesmo substituí-los”, destaca o empreendedor.
“É hora de reconhecer o direito de reparar de forma mais completa”, afirma Wozniak. “Acredito que as empresas inibem esse direito porque lhes dá poder, controle sobre tudo. Na cabeça de muitas pessoas, o poder sobre os outros equivale a dinheiro e lucros”, denuncia Wozniak que lembra que foi em parte a natureza aberta do computador Apple II que permitiu o sucesso inicial da tecnológica com o símbolo da maça mordida. “O Apple II foi enviado com esquemas completos, designs e listagens de código de software totalmente aberto”.
O exemplo do Apple II
Perto de fazer 71 anos, esta figura pioneira que se bateu por colocar computadores disponíveis para o consumidor comum, declara que “o Apple II era modificável e extensível. Este produto foi a única fonte de lucros para a Apple nos primeiros dez anos da empresa. Este não foi um produto menor. De que forma foi, então, a Apple prejudicada pela abertura do Apple II?”, pergunta de forma retórica.
“Às vezes, quando as empresas cooperam entre si, elas podem realmente ter negócios melhores do que se fossem totalmente protetoras e monopolistas”, sublinha.
Segundo o inquérito Eurobarómetro, publicado em março do ano passado, 77% dos cidadãos da UE preferem reparar os seus dispositivos a substituí-los e 79% considera que os fabricantes deveriam ser juridicamente obrigados a facilitar a reparação dos dispositivos digitais ou a substituição das suas peças individuais.
Numa resolução aprovada por 395 votos a favor, 94 votos contra e 207 abstenções, o Parlamento Europeu defendeu, no ano passado, o incentivo à reutilização, reparação e o combate às práticas que reduzem o tempo de vida útil dos produtos.