A Porsche parece pouco interessada na diversificação do género para o 911. Na apresentação à imprensa da oitava geração, a marca falou de um “veículo com aspecto muito masculino” – a recepção dos jornalistas foi feita na boxe do circuito valenciano Ricardo Tomo, numa man cave (gruta masculina) simulada, entre peças usadas de automóveis, estantes de estilo rude, chão de cimento e madeira, paredes de tijolo refractário e sofás e cadeirões de pele.
Um quadro convidativo para quem torne 151 mil euros num carro novo para a sua garagem. Este conjunto tosco casa com a mística do 911, mas destoa da evolução tecnológica que abrange um sistema de detecção de pessoas e animais em ambiente escuro, e que inclusive alerta o peão atirando-lhe com as luzes de máximos, “disparadas” pelos faróis de LED.
Com 4,52 metros de comprimento e 1,85 metros de largura, o 911 fica bem em qualquer posição. Até quando o olhamos de cima e o vemos com o seu ar de sapo sentado e “olhos” esbugalhados.
As mesmas têm uma função automática que não só desliga perante um carro em sentido contrário, como também na passagem por sinais de trânsito, evitando o encandeamento do condutor.
Enquanto esperamos a nossa vez para entrar na pista de Valência onde deliramos com a imagem de Miguel Oliveira a levantar o troféu de campeão do Moto GP no próximo dia 17 de Novembro, passa fulgurante na recta um 911 GT3 RS com mais dois 911 Carrera S (4S, se tiver tracção integral) na perseguição. O primeiro ainda é da sétima geração e é uma das versões históricas do modelo.
Os segundos são conservadores nas cores, mais modestos no som, mas não perdem em aura, menos esfuziante, porém mais moderna. Estes são já da geração de 2019 do coupé quase sexagenário e que nunca deixou de ter motor e tracção traseiros, conta-rotações ao centro da instrumentação com ponteiro analógico, duas portas e 2+2 lugares.
Numa óptica das novas energias, o engenheiro diz-nos que a caixa de velocidades já foi desenhada a pensar nos elementos mecânicos de futuras versões híbrida ou até eléctrica, mas para já o 911 é, com os seus 450 cv alimentados a gasolina, músculo puro, disparado sem quebra de ímpeto até para lá dos 200 km/h – onde chega em 12,1 segundos – e repleto de sonoridade quando seleccionamos a função de escapes desportivos. Para activar esta opção há que percorrer passos no ecrã central Full HD, já que a Porsche decidiu prescindir dos botões físicos de atalho na consola central.
O mesmo acontece com o botão (agora inexistente) de gestão do sistema que desliga e liga o motor em paragens momentâneas, o start-stop. Mas este está agora mais “inteligente”, conjugando-se com o cruise control adaptativo, que gere a distância para o carro da frente (trava e acelera mediante este impeça a passagem) e faz o “pára-arranca” citadino de forma automática.
De encher o olho
Adaptado ao estilo de coupé desportivo, mas longe dos cânones de um condutor “entradote” (talvez o público alvo do 911), está o conforto, tanto em mau piso, como quando, a partir do exterior, “caímos” para os bancos, posicionados num plano baixo num carro que ele próprio já é baixo, com apenas 1,3 metros de altura. A dificuldade na entrada e saída é particularmente evidente quando estacionamos em espinha num espaço exíguo.
Com 4,52 metros de comprimento e 1,85 metros de largura, o 911 fica bem em qualquer posição. Até quando o olhamos de cima e o vemos com o seu ar de sapo sentado e “olhos” esbugalhados. Onde antevemos maior polémica entre os indefectíveis é nos faróis posteriores à maneira do Panamera, unidos por uma faixa de LED a toda a largura da traseira.
Sobre estas, as luzes auxiliares de travagem brilham agora ao alto, sobre a asa traseira aerodinâmica, a qual se mostra somente sob determinadas condições, designadamente a velocidade e a existência de chuva.
De repente lembramo-nos das discussões em torno da geração 996, que há 22 anos apareceu com faróis a dar ares de Boxster – o então mal-amado roadster da Porsche que o tempo acabaria por tornar numa bóia de salvação financeira para o construtor.
Esse mesmo 911 provou ser um sucesso, com vendas anuais como nunca até aí a marca tinha alcançado. Imóvel na man cave que a Porsche construiu dentro das boxes da pista de Valência está o Cabrio desta oitava geração, alternativa a partir dos 167 mil euros (a tracção integral exige mais 11 mil euros).
Também ele já nos concessionários, fica apenas a faltar o Targa para completar a tradicional gama de carroçarias no 911. Além dos cocktails “explosivos” para os connoisseurs, como o GT3 RS, um puro sem turbo mas ainda mais potência.