As autoridades moçambicanas anunciaram o aumento da produção e exportação do Café da Gorongosa, com a expansão de áreas de cultivo após o enceramento das últimas bases dos antigos guerrilheiros da Renamo.
“O café é uma cultura que vai crescendo ano após ano. De 2019 para 2022, após o enceramento das primeiras bases da Renamo, no âmbito do DDR [Desarmamento, Desmobilização e Reintegração], teve um acréscimo de 150 toneladas e ainda esperamos mais”, disse Edna Catondo, coordenadora da área de controlo de qualidade na fábrica do Café da Gorongosa.
Edna Catondo falava aos jornalistas após a visita da secretária do Estado de Sofala e avançou que desde que o projeto do Café da Gorongosa iniciou em 2013 já foram colhidas 370 toneladas, processadas e exportadas para os mercados do Reino Unido da África do Sul.
“O que significa que a produção está a aumentar, como também a renda para os produtores locais, com vista ao aumento da assistência familiar”, refere a responsável.
O processo de DDR, iniciado em 2018, abrange 5.221 antigos guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), maior partido da oposição moçambicana, dos quais 257 mulheres, e terminou em junho último, com o encerramento da base de Vunduzi, a última da Renamo, localizada no distrito de Gorongosa, província central de Sofala.
Edna Catondo explicou que desde janeiro já foram colhidas 120 toneladas de café numa área de 309 hectares, contra 105 no mesmo período do ano passado. Arescentou que nesta cultura estão atualmente envolvidos 915 produtores ao nível do distrito da Gorongosa.
Segundo Cecília Chamutota, secretária de Estado na província de Sofala, muitos produtores locais estão a colaborar com o projeto, o que tem permitido não só a sua aprendizagem e envolvimento na plantação do café e das árvores nativas de sombreamento, com a obtenção de rendimento para as suas famílias.
A governante acrescentou que a plantação de café faz com que cada produtor obtenha 150 mil meticais de rendimento (2.200 euros) anual naquela circunscrição territorial.
“É visível o impacto deste ganho na vida das famílias produtoras, porque começam a ter casas melhoradas, bem como compras de motorizadas para o serviço de táxi, entre outros negócios para o seu sustento”, afirmou.
“É um empreendimento que impacta diretamente na vida das comunidades. Nesta fábrica encontram-se empregados três ex-guerrilheiros da Renamo que estão a integrar-se na vida normal e estão cada vez mais a ter assistência por parte do distrito para que se estabeleçam de forma definitiva na vila”, disse ainda.
Parque da Gorongosa perde 100 hectares de floresta anualmente
A população do Parque Nacional da Gorongosa tem vindo a cortar anualmente, segundo dados oficiais, mais de 100 hectares de floresta tropical, e a plantação e produção de café é vista como uma atividade alternativa para estas famílias. Um total de 5.989 hectares de floresta tropical desapareceu em 44 anos na Serra da Gorongosa porque a terra é necessária para cultivar alimentos e produtos que se vendam no mercado, sendo as árvores utilizadas para fazer carvão, o principal e mais acessível combustível.
O parque quer inverter este cenário com a cultura de café, a mesma planta com a qual quer acautelar um futuro de clima incerto e guardar as águas das chuvas na serra, em vez de escorrerem com a força da erosão pela terra nua.
A experiência ambiental e social de plantar café começou há nove anos.
A área plantada pelo parque e nas hortas de 800 famílias superou, em 2022, pela primeira vez 240 hectares e prevê-se que continue a crescer, rendendo mais de 30 toneladas de café seco por temporada.
A Gorongosa foi o primeiro parque nacional de Portugal em 1960, na época colonial, tendo sido dilacerado entre 1977 e 1992 pela guerra civil que se seguiu à independência de Moçambique.
Em 2008, a fundação do milionário e filantropo norte-americano Greg Carr assinou com o Governo moçambicano um acordo de gestão do parque por 20 anos – prolongando-o por outros 25 anos em 2018 – que tem levado à sua renovação em várias frentes, com projetos sociais aliados à conservação e com o número de animais a crescer de 10.000 para mais de 102.000.
Lusa