Fundada em 2012, a TrueClinic começou por gerir sinistros na área da saúde, mas rapidamente alargou a sua atuação para soluções personalizadas de bem-estar, saúde ocupacional e medicina desportiva. Hoje, o grupo liderado por Miguel Gouveia de Brito trabalha com algumas das maiores seguradoras e empresas do país e prepara-se para dar um salto tecnológico com a TrueHub – uma aplicação pioneira que promete democratizar o acesso à saúde e aumentar a literacia da população.
Em entrevista à Forbes Portugal, o CEO revela como a aposta em tecnologia, inteligência artificial e equipas clínicas especializadas está a transformar a experiência de quem precisa de cuidados de saúde.
Quando fundou a TrueClinic, em 2012, quais foram as necessidades concretas a que queria responder?
A TrueClinic nasce com o objetivo de responder à necessidade de controlar custos de saúde na reparação do dano corporal resultante de acidentes desportivos. Em simultâneo, traçamos logo como objetivo sermos um gestor de saúde mais vasto, que desenvolve soluções de saúde personalizadas e inovadoras.
Num mercado tão competitivo, qual considera ter sido o momento-chave que levou a que a TrueClinic tenha passado a “convencer” grandes empresas e seguradoras?
Não diria um momento em específico, acho que foi uma evolução contínua e estrategicamente pensada. Acho que a nossa postura no mercado, a nossa cultura organizacioanal e a mais-valia dos nossos Recursos Humanos.
O Grupo TrueClinic atua em áreas como gestão de sinistros, soluções personalizadas de saúde, bem-estar corporate, medicina desportiva. emergência pré-hospitalar e saúde ocupacional. Qual é destas, a área que representa a maior fatia do vosso negócio?
A gestão de sinistros é a área com maior peso no nosso volume de negócios, e tendo crescido de forma sustentável, mas é um mercado volátil. As que têm crescido mais são a saúde ocupacional e as soluções personalizadas de saúde e corporate.
Como é que, na prática, prestam os vossos serviços, dado que têm um corpo clínico próprio, mas também acordos com o setor privado de saúde?
A TrueClinic, ou antes o grupo TrueClinic, visto ter empresas especializadas em áreas distintas da saúde e que implicam formas de atuação diferentes, tem um callcenter técnico, altamente especializado, constituído por profissionais de saúde experientes e ferramentas digitais exclusivas, que se articulam com as nossas equipas médicas, de enfermagem, de psicologia, e outras áreas clínicas, recorrendo aos nossos parceiros exteriores sempre que exista necessidade. É neste trinómio que se encontra a chave do nosso serviço, sustentado por uma plataforma única e muito adaptada às exigências dos nossos clientes.
O Grupo TrueClinic está direcionada para clientes empresariais. Pode nomear alguns dos vossos principais clientes?
Temos vários clientes de grande dimensão, felizmente, começando pela Fidelidade, a AIG, a Caravela, a União da Misericórdias Portuguesas, a FPF, a Liga Portugal, várias Associações Desportivas, a Eurest, a Teleperformance, o Grupo Pinto Leite, a JSC, a Cercivar, a Petlandia, a Crowe, a Randstad, a Leader, a Egor, a Fraunhofer, entre muitos outros, todos eles muito importantes para nós e que são a razão da nossa existência.
Que volume de negócios e quantos clientes o Grupo TrueClinic gere atualmente?
O volume de negócios acumulado em 2024, ficou perto dos treze milhões e meio de euros. Temos mais de 2.000 clientes diretos e 700.000 indiretos, a quem prestamos serviços.
O vosso objetivo é crescer para que patamar, em número de clientes?
Mais do que em número de clientes, o nosso objetivo é melhorar o bem-estar dos nossos clientes e a literacia da população portuguesa. Apesar disso acreditamos que podemos ultrapassar os 30.000 clientes diretos, muito em consequência da app TrueHub, nos próximos 2 anos. Indiretos, esperamos chegar a0 1.000.000.
O lançamento da App TrueHub é apresentado como um passo pioneiro na digitalização da gestão de saúde em Portugal. Em termos práticos, em que consiste e o que distingue esta aplicação das restantes soluções no mercado?
Primeiro desconheço a existência de uma app de saúde generalista em Portugal e mesmo internacionalmente são escassas. Eu diria que basta percecionar os objetivos desta app, para perceber a sua diferenciação. Com a TrueHub, pretende-se simplificar todo o processo de acesso à saúde por parte dos portugueses, mas, em simultâneo, facultar uma variedade de ferramentas, tutoriais, questionários e aplicativos que apoiam o bem-estar da população. Têm também a característica de ser de acesso livre e sem custos. Ou seja, melhorar a acessibilidade, democratizando o acesso, aumentando a literacia e disponibilizando ferramentas de apoio e melhoria do bem-estar, de uma forma simples, prática e de livre adesão.
Como é que a integração tecnológica pode reduzir custos, aumentar a eficiência e, simultaneamente, melhorar a experiência do utilizador final? Consegue dar-nos um exemplo prático a partir de algo que tenham implementado?
A tecnologia, desde que utilizada de forma ponderada, ética e suportada em retaguarda humana, poderá reduzir custos, pois evita tarefas de valor acrescentado nulo ou de pouco valor, diminuindo, em simultâneo, erros e melhorando a rapidez de resposta. Nós temos apostado continuamente no desenvolvimento de tecnologia e plataformas associadas à saúde. Posso dar três exemplos, a nossa plataforma de gestão de sinistro e articulação digital com todos os nossos prestadores clínicos, que permite que o nosso call center técnico tenha uma capacidade de resposta muito mais eficaz e com uma rapidez de resposta muito maior e mais dinâmica para com os nossos sinistrados, reduzindo, substancialmente, a possibilidade de erro, otimizando recursos e melhorando a comunicação na rede nacional. Uma outra integração tecnológica que desenvolvemos em articulação com um parceiro austríaco, e que adotamos na área da saúde ocupacional, é a utilização de um “tablet”, por parte das nossas equipas clínicas, que permite ligar diferentes interfaces, como eletrocardiógrafos, espirómetros, dermatoscopios, etc, e desta forma ter um report único e instantâneo de informação clínica necessária para as equipas médicas e por conseguinte, tornar as consultas mais eficazes e eficientes. Um outro ponto, importante, foi a criação de uma plataforma que faz uso da AI, para auxiliar o nosso call center técnico na triagem de processos clínicos, permitindo evitar custos desnecessários.
Qual é o papel da análise de dados e da inteligência artificial na vossa estratégia?
A AI tem um papel crescente na nossa vida quotidiana e será inevitável a sua generalização num futuro próximo. A TrueClinic há vários anos que tem vindo a desenvolver ferramentas de apoio à gestão geral e clínica, com utilização de inteligência artificial, que visam não só melhorar eficiência nos processos e otimizar recursos e tempos, mas também, e acima de tudo, que tal se reflita nas experiências vivenciadas pelos nossos clientes e, muito importante, no aumento da acessibilidade a informação e conhecimento por parte da população, População mais informada, permite decisões clínicas mais eficazes, conscientes e entendíveis.
A internacionalização é um objetivo da TrueClinic?
A TrueClinic já é consultora de algumas entidades externas ao nosso país, tanto na área da gestão clínica desportiva, como na questão geral de saúde. Nem sempre é fácil internacionalizar a área da saúde, porque são setores com características muito intrínsecas de cada país, mas temos vindo a desenvolver ferramentas que pensamos poderem ser adotadas universalmente e que estamos a fazer testes nesse sentido.
Que tendências acredita que vão marcar o futuro da saúde empresarial e da relação entre tecnologia, prevenção e bem-estar?
Já tive a oportunidade de escrever sobre este tema. Eu entendo que o futuro da saúde assentará em três vértices, tecnologia, personalização e abrangente. O que quero dizer com isto é que acredito que a tecnologia estará cada vez mais presente e será um facilitador / promotor do bem estar, ao mesmo tempo que cada individuo terá à sua disposição soluções personalizadas/individualizadas (veja-se a evolução dos tratamentos biológicos e adoção de diagnósticos com recurso a testes genéticos, etc) , mas ao mesmo tempo será necessário pensar numa só saúde (One Health), pois a nossa “casa”, é habitada por seres humanos, mas também por uma vasta diversidade animal e sustentada por uma envolvência ambiental que deve ser preservada. O equilíbrio entre saúde humana, animal e ambiental é fundamental para o equilíbrio do planeta e para prevenir o surgimento de pandemias e doenças zoonóticas.
O bem-estar individual é algo bem mais abrangente que a ausência de doença. É fundamental aumentar a literacia em saúde e fomentar praticas saudáveis, com enfoque na atividade física, mental, social e alimentar. Possibilitar à população ferramentas que a ajudem a aumentar o seu conhecimento em saúde e práticas saudáveis, e que simultaneamente incrementem a acessibilidade a cuidados de saúde, de forma ágil, rápida e em tempo útil, será pedra basilar no futuro próximo e um fator diferenciador para quem o fizer.