O grupo musical brasileiro “Menos é Mais” surgiu em 2016, em Brasília, e começou por fazer “covers” de faixas de sucesso de outros cantores. Em 2021, lançou “Plano Piloto”, o primeiro álbum com músicas próprias. Desde então, a banda de pagode, um género originário do samba que tem uma infindável legião de fãs no Brasil, já atingiu um número de seguidores assinalável: 4,1 milhões no YouTube, 8,3 milhões no Spotify e 2,7 milhões no Instagram.
Aproveitando a sua terceira vinda a Portugal em trabalho, “Menos é Mais” conversou com a Forbes a propósito do sucesso que tem tido no Brasil e que começa a chegar com mais força a outros mercados, como EUA e Portugal.
Duzão, 27 anos, Gustavo Goes, 30 anos, Paulinho Félix, 31 anos, e Ramon Alvarenga, 34 anos, são os membros de “Menos é Mais”.
Duzão (vocalista) e os percussionistas Gustavo Goes, Paulinho Félix e Ramon Alvarenga são o quarteto de “Menos é Mais”.
Começaram em 2016 e conseguiram um nível muito alto no Brasil. Como é que planearam o vosso trajeto?
Gustavo Goes: O caminho de um músico, de um artista que quer consolidar-se, principalmente no Brasil, que é uma terra que tem muito talento, assim como Portugal, que é uma terra que respira música, enfrenta a mesma dificuldade de um jogador de futebol: consagrar-se. No início, nós batalhamos muito para ter espaço e lugares que aceitassem “Menos é Mais” e quisessem ouvir o nosso som. E aos poucos fomos conquistando esses lugares e, ao mesmo tempo, conseguindo virar a chave de um amante da música para alguém que realmente vivia da música com “Menos é mais”. O Paulinho [Félix] e o Ramon [Alvarenga] vieram de uma caminhada um pouco mais longa no mundo da música, já estavam há quinze anos a batalhar, então quando o “Menos é Mais” ‘virou’ foi o momento em que começamos a colocar os nossos vídeos na internet e o que reverberava na internet também fez com que a ‘galera’ gostasse mais dos pagodes. Começamos a ter também mais espaço, portanto.
“No início, batalhamos muito para ter espaço e lugares que quisessem ouvir o nosso som”
A Internet ajudou-vos a saírem do anonimato e se tornarem mais conhecidos?
Gustavo Goes: Com certeza. Nós viemos de Brasília que é capital do Brasil e onde se toca todo o tipo de música, mas, ao mesmo tempo, Brasília não exportava os artistas de pagode porque tradicionalmente o eixo Rio de Janeiro/São Paulo é que tem mais essa veia de estar sempre aparecendo um artista novo. Pelo que nós viemos de fora do eixo Rio/São Paulo. Então, foi através da internet que fomos encontrar esse caminho porque em Brasília não havia uma rádio que tocasse maioritariamente pagode, não havia artista de pagode que nos pudesse estender a mão e puxar-nos, não havia grandes empresários. Fomos, então, nós próprios encontrando o nosso caminho.
“Foi através da internet que encontramos o nosso caminho”
O passo a seguir foi apostar nas redes sociais. Tinham alguém entre vocês que tenha começado a gerir as redes sociais? Como trabalharam essa vertente para poderem cativar fãs?
Gustavo Goes: Eu ficava mais nessa parte de marketing, mas na verdade era um combinado geral. Nós entendíamos que tínhamos de nos fazer presente, estar à frente de vídeos, de iniciativas para colocar também a nossa música na internet. Então foi uma espécie de um combinado geral. Para “Menos é Mais” acontecer, precisámos de, a toda hora, nos estar a desafiar. Deixávamos de ganhar dinheiro nos pagodes como merecíamos para investir em áudio visuais; também deixávamos de ter aquele tempo que poderíamos ter a meio da semana para estar a divulgar o nosso pagode. Foi, portanto, um combinado geral, pois nós precisávamos de nos mostrar e precisávamos de trabalhar além do palco. “Menos é Mais” é um grupo que tem uma preocupação, não só com a música, mas também com a nossa imagem, a nossa comunicação, com as pessoas que gostam do nosso pagode. Entendemos que realmente para se fazer música não podíamos só pensar em música.
“Temos uma preocupação, não só com a música, mas também com a nossa imagem”
O que vocês oferecem não é só música e pagode. É também toda a comunicação, num pacote. Como é que idealizaram isso?
Gustavo Goes: Uma coisa bem legal que a gente fez na cidade de Brasília foi tirar um pouco aquele estigma e imagem de artista intocável, inacessível, que não falava com os fãs. Nós sempre, depois da atuação musical, descíamos para falar e cumprimentar todo o mundo. Sempre fomos muito acessíveis. Isso vem da essência do “Menos é mais”, de estar nos mesmos lugares que os seus fãs estão, então acho que o “Menos é Mais” conseguiu, não só com essa filosofia, mas também transmitindo isso, conectando com as pessoas, mostrando que realmente essa era a nossa essência: fazer com que outras pessoas também olhassem para nós e se identificassem connosco. A partir do momento que se coloca um vídeo na internet, as pessoas vão se identificar tanto pela música, como pelo ambiente em que aquele vídeo foi gravado, como ainda pelas pessoas que estão ali, pelo carisma do Duzão [vocalista do grupo] que foi também fundamental para conseguirmos alcançar os lugares que alcançamos, então é uma soma de fatores. Não é só música; é música também.
O nome “Menos é Mais” reflete a ideia do grupo, de que não é preciso muita coisa para fazer um bom pagode.
O ser acessível é importante para vocês e para os fãs?
Gustavo Goes: Sim. Nós também somos a prova viva disso. Nós conhecemos muita gente ao longo desse caminho. Ao nível de artistas, houve pessoas que conhecemos em relação às quais ficámos mais fãs ainda, quando conhecemos pessoalmente, houve pessoas das quais ficámos menos fãs. Penso que a mesma coisa acontece com quem gosta do nosso pagode hoje: vai haver pessoas que nos vão conhecer pessoalmente e váo gostar mais ainda.
Ao começarem a crescer e considerando que são também uma empresa, sentiram a necessidade de começar a ter mais gente a apoiar-vos na gestão da carreira. Como foi a escolha desse staff?
Gustavo Goes: Acho que sempre conseguimos escolher bem essas pessoas que vão estar do nosso lado. Prova disso é que viemos para Portugal com uma equipa gigantesca, pessoas super competentes que estão aqui connosco. Tivemos um momento ali no começo da pandemia, que vimos que já tínhamos alcançado um patamar muito grande e que para continuarmos em cima ou chegar a voos mais altos precisávamos de estar junto não só com a gravadora [produtora, n.d.r.], mas também com o escritório. Então, aumentámos ainda mais esse corpo do “Menos é mais”. Graças a Deus, todas essas pessoas foram escolhidas bem a dedo, são pessoas que partilham dos mesmos valores que nós, pelo que “Menos é Mais” ficou maior e mais forte; não ficou aquela associação de termos ficado com pessoas por interesse ou por coisas que não sejam exclusivamente a nossa personalidade, os nossos valores, a nossa música.
“O nosso staff é composto por pessoas que partilham dos mesmos valores que nós”.
O vosso staff acaba por ser uma família, ou pelo menos um grupo de amigos à vossa volta. Isso descansa-vos para poderem estar mais focados nas vossas atuações?
Gustavo Goes: Com certeza. Acho que o “Menos é mais” tornou o que se tornou, não só pela energia dos quatro que estão aqui hoje, mas por muita gente que fez e fazem muito pelo “Menos é mais”. Temos muitas pessoas que para que isto tudo aconteça trabalham todo o dia; enquanto estamos aqui em Portugal, há pessoas em Brasília e no Brasil a preocupar-se e a cuidar do nosso som. É importante termos mais pessoas assim à nossa volta.
O que é que vocês agora estão a idealizar como próximos passos?
Paulinho Félix: Quem trabalha com música sabe que é uma coisa que não tem limites. Recentemente lançámos o último trabalho e começámos recentemente a projetar outros trabalhos também. Acredito que nesse próximo ano teremos muitas coisas legais.
Ramon Alvarenga: Sobre até onde podermos chegar, não sabemos. Temos referências como o “Sorriso Maroto” que é um grupo com muitos anos e não se vê metido em polémicas e é um grupo em que nós nos espelhamos muito, com uma carreira muito consolidada; acho que chegar a esse patamar era bom e vamos trabalhar muito para isso mesmo.
Gustavo Goes: Seria até mentira da minha parte, se eu falasse que um dia eu imaginava que íamos fazer um show em Portugal perante oito mil pessoas [no Meo Arena, no dia 25 de maio último, no espetáculo “Brasil Vibes”, n.d.r.]; eu não sonhava com isso, só que ao mesmo tempo tivemos sempre essa garra do trabalho, do dia a dia, de fazer as coisas acontecer, de conseguir imaginar um projeto e realmente tirar do papel e fazer algo grandioso. Penso que a partir disso, a partir do que fazemos, que é música, vamos conseguir ainda mais coisas, e atuar em cidades onde ainda não fomos, tocar para uma quantidade de pessoas para as quais nunca tocámos. Então, acho que é muito legal.
“Seria mentira da minha parte, se eu falasse que um dia eu imaginava que íamos fazer um show em Portugal perante oito mil pessoas”
Como é que foi a decisão de virem para Portugal?
Paulinho Félix: A decisão foi um processo natural que aconteceu [primeira atuação da banda em Portugal foi em 2020, n.d.r.]. No ano passado a “Lapada Dela” [com o cantor Matheus Fernandes] foi tocada e atingimos o 13º lugar no Spotify, tocamos no Big Brother Portugal também, em 2022 tocámos no Campo Pequeno num show para cinco mil pessoas. Acho que foi um processo natural, assim, não foi uma coisa estrategicamente pensada, aconteceu naturalmente, graças a Deus conseguimos vir para cá. Estamos a agora regressar. É o nosso terceiro ano aqui e esperamos voltar mais vezes. Continuar a construir a carreira aqui em Portugal, pois é bom demais!
Gustavo Goes: Nós vamos onde o público nos quiser! As pessoas querem pagode, nós aparecemos!
E o resto da Europa, está nos vossos horizontes? Portugal tem a facilidade da língua, ao contrário dos outros países europeus que não falam português…
Gustavo Goes: Sabemos da limitação que o samba e o pagode podem ter por conta do idioma. Também poderá haver dificuldade em entrar nalguns países que tradicionalmente têm algumas barreiras em relação a consumir músicas de fora, mas isso não é o caso de Portugal. Aliás, o que eu acho mais incrível de Portugal é ter muitas pessoas que ‘curtem’ músicas de fora. No Brasil por exemplo, você não tem essa abertura tão grande. Então, eu não vou referir nenhum país em específico para onde pudéssemos ir, mas eu acho que onde tiver gente que realmente goste de pagode, onde formos bem recebidos, queremos estar aí, até porque nós amamos viajar, conhecer novos locais, outras culturas. Se conseguirmos fazer isso, levando o nosso pagode e a nossa alegria, acho que o nosso propósito está muito bem defendido.
“Esperamos voltar mais vezes a Portugal. Continuar a construir a carreira aqui em Portugal, é bom demais!”
Nos vossos espetáculos é comum cantarem com outros artistas e nos vossos trabalhos têm colaborações com outros músicos. Em Portugal, isso vai acontecer?
Gustavo Goes: Em relação aos nossos espetáculos em Portugal, não vamos ter esse privilégio agora. Não temos nada programado para já, mas queríamos muito. Nós no Brasil, juntamos muitos amigos da música que tocam connosco, por exemplo, no “Churrasquinho”, que é um evento nosso no qual tocamos mais de quatro horas, e onde contamos com muitas participações. Apesar de não termos nada programado nesse sentido nesta nossa vinda a Portugal, pretendemos estar junto com os artistas portugueses. Da última vez, conhecemos o David Carreira. Queremos estar junto das pessoas que também levam a alegria, que também vibram a nossa energia. Nós achamos que música é infinito. Assim, não queremos ficar só naquela caixinha fechada do pagode. Queremos estar junto de outros géneros, outras culturas.
“Não queremos ficar naquela caixinha fechada do pagode. Queremos estar junto de outros géneros”
Estamos muito felizes de estar aqui em Portugal. É uma realização dupla estar aqui, tanto em termos pessoais, trazendo as famílias, ficando alguns dias aqui ‘curtindo’, conhecendo essa cultura incrível que é a portuguesa, mas também é uma realização gigantesca como músico e artista, porque nunca imaginamos que fossemos tão longe, com o nosso som, e levar a alegria para as pessoas.
Enquanto criadores de música, há momentos em que sentem crise de inspiração?
Duzão: Esse negócio da criação é complicado. Há momentos em que não sai nada também. Nós, no nosso “DVD Confia” fizemos um campo musical, em que fomos para um estúdio, durante vários dias. Chamámos vários compositores, divididos em salas e em cada dia tínhamos mais de 10 músicos para ouvir. Esse foi o primeiro momento que eu tive de composição, de participar e ser gravado também.
Ramon Alvarenga: O primeiro campo musical que fizemos deu origem a 8 músicas novas num DVD.
Duzão: Foram autores renomados que seguimos que fizeram músicas para o “Menos é mais”. Foi uma experiência bem legal.
Gustavo Goes: Foi um caso de um processo de inspiração que tem a transpiração de estar ali muito tempo no estúdio, pensando, de estar organizando vários dias para fazer isso. Há momentos assim, em que a cabeça já está ‘fritando’, muito cansada. Eu acho que entre nós, quem tem mais propriedade para falar, é o Duzão, que é quem mais músicas compôs.
Que conselhos dão aos talentos jovens que gostavam de ser artistas musicais, tendo por base a vossa experiência?
Duzão: Acho que hoje está muito mais fácil começar. Agarra-se num telefone, conecta-se com o violão, pode gravar-se uma voz e tocar. Acho que a rapaziada pode aproveitar esse momento. Com a ajuda da tecnologia, consegue-se fazer muito com pouco. Estudar bastante e ter prazer no que se faz são outros conselhos.
Gustavo Goes: Eu acho que é isso mesmo. O “Menos é Mais” ficou conhecido como um grupo de Brasília e eu acho que se fosse noutro século, sem a atual tecnologia, talvez nós não conseguiríamos isso com tanta velocidade. Outro aspeto: é importante o trabalho diário ao mesmo tempo e entender que, se um artista se quer lançar, também tem que pensar que é um produto que está se lançar no mercado e trabalhar para isso, trabalhar todo o dia, porque não é só música. É importante compor a letra mais bonita, mas é importante que essa letra chega ao máximo de pessoas, então tem todo um trabalho por trás além só da parte artística, então, acho que é isso que as pessoas têm que sempre estar de olho aberto, assim.
“Se um artista se quer lançar, tem que pensar que é um produto que está se lançar no mercado e trabalhar para isso, trabalhar o dia todo”.
Como fazem a gestão do tempo para conseguirem compor e andar em digressões?
Paulinho Félix: No Brasil, nós não paramos, estamos sempre na estrada, pelo que também é aí que trabalhamos em novas composições. Aos fins-de-semana tocamos e é a nossa vertente de artista que atua, durante a semana compomos e é a nossa vertente de compositor.
Gustavo Goes: É o plantio e a colheita [risos].
Pelo meio, têm de alimentar os fãs com novos materiais. São vocês próprios que fazem a gestão das redes sociais?
Gustavo Goes: Isso é feito por um staff, mas tem toda a nossa orientação. Num escritório do “Menos é mais”, que funciona em Brasília, reunimo-nos a meio da semana com a equipa e isso é legal também, porque acaba com essa distância, entre uma equipa e um artista. E aproveitamos esse momento para nos reconectarmos, pois o nosso início foi assim, de sentar à mesa e pensar. Nós não queremos perder isso nunca.
Qual é a rede social mais importante para o grupo e em que estão mais presentes?
Gustavo Goes: Sempre foi uma aliança entre o YouTube e o Instagram. Do Instagram para o YouTube e vice-versa, e deu certo, assim.
Qual foi o segredo para conseguirem que esses vossos sonhos se concretizassem?
Paulinho Félix: Penso que foi mais a junção dos nossos sonhos. E o momento também de nos podermos encontrar e podermos mostrar a nossa verdade para o mundo inteiro. Eu acho que isso foi o maior segredo, do “Menos é mais”. E o gosto do público, claro.