A BMcar Aliados foi distinguida num dos maiores programas mundiais de prémios de arquitetura, ao receber uma menção especial na categoria de Architecture +Branding dos Architizer A+ Awards.
A reformulação deste concessionário BMW, localizado na zona histórica da avenida dos Aliados, no Porto, obrigou a que a equipa de arquitetura procurasse dar uma outra personalidade ao espaço, já que o que ali havia não era “uma base de trabalho inspiradora”, afirma o arquiteto José Martinez, CEO e Fundador do Atelier Central Arquitectos, responsável por este projeto.
Pedro Rodrigues, CEO da BMcar, refere que o trabalho feito “reforça um posicionamento de venda de produtos que privilegiam a exclusividade num segmento alto” e José Martinez acrescenta que há pessoas “que entram na BMcar Aliados, apenas para sentir o espaço e ver os candeeiros Artichoke Copper do Louis Poulsen, e não unicamente por causa dos carros em exposição”.
“Desenho contemporâneo numa zona sensível da cidade”,
diz José Martinez, CEO e Fundador do Atelier Central arquitectos
Foi a primeira vez que desenhou um concessionário de automóveis?
José Martinez: Em 1990 começámos a trabalhar para a General Motors, um dos maiores grupos mundiais do setor automóvel, como responsáveis pela implementação do programa de imagem e funcionalidade da Opel em Portugal. A profunda especialização em branding e design corporativo acabou por vir a reforçar a presença do Atelier Central num mercado tão concorrido como o do setor automóvel e os concessionários começaram a confiar-nos os projetos de licenciamento e de execução das suas instalações.
O primeiro projeto que desenhámos, desde a fase de estudo de imagem até ao projeto de execução e acompanhamento da obra, foi para um concessionário da Opel em Castelo Branco – Luís Domingos e Irmãos. Instalações que ainda hoje se mantêm atuais e a funcionar, com um desenho muito sintético que resultava da interseção de um volume oficinal em chapa galvanizada ondulada com um volume de alvenaria rebocada e pintada de branco que integrava a área comercial.
Onde foi buscar inspiração para se envolver e para criar o espaço?
O Conceito da “Ultimate Drive Luxury Store”, que acolhe os mundos BMW e MINI, foi cuidadosamente pensado e desenhado pelo Atelier Central e nasceu de uma incrível cumplicidade com a BMcar que, ao longo de todo o processo sempre incentivou a investigação e acompanhou o risco de determinadas opções de projeto.
Referenciado a esta área histórica do Porto, a Avenida dos Aliados, o projeto assume a consciência de estar a intervir numa zona sensível da cidade, inspira-se nas pré-existências, reinterpreta-as com uma materialidade e um desenho contemporâneo.
Quais foram as principais considerações arquitetónicas que teve em mente ao projetar o espaço de um concessionário de automóveis, atendendo às necessidades práticas específicas que tem um ambiente de venda de automóveis?
Normalmente estes projetos estão muito condicionados pelos programas de imagem e funcionalidade das marcas e pela inerente repetição programática.
Mas sempre acreditámos que, mesmo com este condicionalismo, é possível desenhar projetos sérios, coerentes, únicos e com uma grande exigência ao nível dos critérios de qualidade. Desejava-se conceber um espaço multifuncional, flexível, que podia receber inúmeros acontecimentos ou eventos para além do objetivo primordial de expor automóveis. Como qualquer outro projeto que desenvolvemos no atelier, esta remodelação foi assumida como um grande desafio e exigiu tempo de reflexão, de investigação, de concepção e de desenho, tendo sido essencial todo o tempo que a BMcar nos concedeu. Recordo-me que por diversas vezes nos telefonaram a questionar se já tínhamos chegado a uma ideia forte para o espaço, mas nunca nos pressionaram com prazos!
Quais foram os elementos de design que incorporou no projeto para fazer com que viesse a ser premiado?
Difícil definir quais serão as regras ou os pressupostos a seguir nos projetos para a conquista deste tipo de prémios. Mas sinceramente, nunca, ao longo do desenvolvimento de um projeto, estamos preocupados ou concentrados nestes reconhecimentos.
Encontramos motivação essencialmente no entusiasmo dos clientes com as ideias que vamos partilhando e trabalhando em conjunto. Mas obviamente que ficamos felizes por saber que o nosso trabalho é reconhecido, nomeadamente por quem também nós reconhecemos valor.
O microcimento é o material de construção que escolheu de forma predominante para o projeto. Qual o motivo?
Este projeto partiu de uma ideia forte que estrutura toda a intervenção. Na fase de esquiço testámos diversas hipóteses e chegámos a um desenho espontâneo, coerente, baseado num gesto único, que não pretende apenas evidenciar os veículos expostos, mas sobretudo despertar e sublinhar todas as experiências associadas. Imaginou-se um espaço em que a fronteira entre paredes, tetos e pavimento fosse diluída através de uma mesma materialidade, mas sempre marcado pelos ritmos de planos sólidos que, entre planos curvos fluidos, definem saliências e reentrâncias onde são criadas plataformas de exposição de acessórios. O revestimento em microcimento, pela sua expressão, textura e resistência, pareceu-nos ser a opção mais coerente para criar esta sensação de um único involucro que envolve os veículos em exposição enaltecendo-os por contraste. A cor creme desta argamassa, num diálogo próximo com os caixilhos dourados existentes, confere uma sensação de acolhimento e conforto transportando-nos para um ambiente quase familiar.
Quais foram os principais desafios que enfrentou durante o processo de projeto e como os superou?
A pré-existência caracterizava-se por um espaço exíguo, percorrido longitudinalmente por uma viga invertida em betão e com uma escada metálica banal, pré-fabricada, em caracol, a unir os dois pisos. Definitivamente, não encontrámos uma base de trabalho inspiradora!
Mas no processo de esquiço e conceção tentámos dar uma determinada unidade a todo o conjunto, agarrando todos estes elementos dispersos através dos planos curvos que passaram a delimitar o espaço. Mas quando temos uma ideia forte para um projeto, há que ter uma enorme sensibilidade para que, ao longo do processo de desenho, pormenorização, integração das instalações técnicas e materialização, se consiga evidenciar, sublinhar e não destruir, desvirtuar ou dissolver o conceito. Esta quase obsessão do Atelier, obriga a um controlo rigoroso das inúmeras equipas envolvidas no processo desde as dos projetos das especialidades até às de preparação de obra e construção. É crucial que todos estejam cientes da sua responsabilidade e se sintam contagiados pelo entusiasmo transmitido pela equipa de projeto e cliente.
Quais são os aspetos do projeto que considera mais satisfatórios ou de que se orgulha mais?
Para ser sincero, quando encerramos uma obra, reflito mais sobre os aspetos negativos do que os positivos, consciente de que esta reflexão nos faz sofrer, mas sobretudo aprender, aperfeiçoar e evoluir. Terminada a construção entra-se num novo tempo que já não nos pertence. É o tempo de outros sentirem, desfrutarem e viverem os espaços que idealizámos.
Mas obviamente que ficamos orgulhosos quando alguém, entusiasticamente, partilha connosco as suas experiências, vivências, histórias ou reflexões em relação às obras que idealizámos, como foi o caso da BMcar, que nos confidenciou que tem havido indivíduos que entram na BMcar Aliados, apenas para sentir o espaço e ver os candeeiros Artichoke Copper do Louis Poulsen, e não unicamente por causa dos carros em exposição.
“Investimento foi superior a 350 mil euros”,
revela Pedro Rodrigues, CEO da BMcar
A BMcar Aliados assume-se como uma concept store de luxo, com o objetivo de proporcionar uma experiência de marca distinta e autêntica. Por que motivo sentiram necessidade de tornar este espaço mais exclusivo?
Pedro Rodrigues: A BMcar Aliados insere-se numa estratégia que visa reforçar o posicionamento da BMcar como um player do setor automóvel e, em particular, da representação das marcas do BMW Group num contexto diferenciador, único e de proximidade com os clientes. Fundamentalmente assente na valorização da experiência de compra de cada cliente.
O que é que distingue este espaço de outros da BMW, inclusive de outros que o grupo BMcar tem?
Desde logo distingue-o a estética, a atenção ao pormenor, um maior foco na experiência e interação com os clientes, bem como a localização premium numa das avenidas mais cosmopolitas de Portugal.
“Acreditamos que, ao entrar na BMcar Aliados, o cliente irá percecionar uma experiência única e sentimento de exclusividade”
Tendo a BMcar um histórico de diversos projetos inovadores e diferenciadores, sentimos a necessidade de ter a marca presente numa localização premium no centro da cidade do Porto, garantindo um espaço exclusivo e inovador, como reforço da nossa estratégia de chegarmos a um público alvo cada vez mais diversificado, mantendo um acompanhamento personalizado. Acreditamos que ao entrar na BMcar Aliados, irá percecionar uma experiência única e sentimento de exclusividade.
Qual foi o investimento feito neste espaço?
O investimento efetuado no espaço foi superior a 350.000 €
Do ponto de vista do negócio, quer do número de contratos, quer do valor dos contratos de venda de viaturas realizados, encontram diferenças, após a intervenção arquitetónica feita? Ou seja, o investimento feito induziu já a uma alteração na faturação ou no tipo de veículos adquiridos pelos clientes, por exemplo?
O conceito da BMcar Aliados reforça um posicionamento de venda de produtos que privilegiam a exclusividade num segmento alto e de elevada inovação.
O vosso cliente-tipo deste stand sofreu algumas alterações, após a sua transformação?
O cliente tipo da BMcar Aliados está focado numa experiência de compra disruptiva e diferenciadora.
Vão exportar este modelo de concept store para outros espaços?
É nossa intenção exportar o conceito da BMcar Aliados para outras finalidades que permitam acrescentar valor na relação com os nossos clientes.