Se a cara dele não lhe é estranha, provavelmente foi uma das pessoas que viram a série Buying Beverly Hills na Netflix ou já seguiam o reality The Real Housewives of Beverly Hills. Mas não é a televisão que traz Mauricio Umansky a Portugal, é o negócio que fundou em 2011: a The Agency.
Antes mesmo de a The Agency Portugal ser anunciada, Ayres Neto, o líder do projeto no país, tinha as expetativas bem delineadas. No final do primeiro mês, esperava contar com 200 milhões de euros em angariações, um valor que subiria para os 500 milhões ao fim do primeiro ano. Mas um mês foi tudo o que o projeto precisou para superar as previsões iniciais.
“De um ponto de vista financeiro, eles já ultrapassaram os objetivos, estão a fazer um trabalho incrível. O Ayres estava a dizer-me que estão perto dos 2000 milhões de euros, acho que é espantoso. É extraordinário para um período tão curto”, diz Mauricio em entrevista exclusiva à Forbes.
A empresa fechou o primeiro mês com 1000 milhões de euros em angariações, mas realmente já aponta para os 2000 milhões até ao mês de maio. No total são 600 imóveis em carteira com um valor médio de 1,6 milhões de euros. O rápido crescimento permitiu-lhes ainda juntar uma equipa com 45 consultores de 12 nacionalidades.
Impactado com estes números, Mauricio Umansky não quis perder a oportunidade de visitar Portugal, para onde expandiu o seu negócio graças ao crescente interesse dos norte-americanos.
“Estamos a tentar criar uma rede em todo o mundo de pessoas realmente boas. Todos me perguntam: ‘Como é que escolhem onde abrem?’ Número um, com base nas pessoas, isso é o mais importante. O número dois é o mercado. Uma das coisas que estão a acontecer em Portugal é que estamos a ver muitos americanos a vir para aqui, vocês têm sido muito abertos e amigáveis, e estamos a começar a ver muitos dos nossos clientes a vir. O que queremos fazer é servir os nossos clientes numa base global”, afirma.
Lisboa é o destino mais conhecido do outro lado do oceano, mas o Algarve também não escapa à popularidade. Com a The Agency no país, o fundador espera ser capaz de dar a conhecer mais locais aos seus clientes.
Conhecimento contra os obstáculos
Antes de Mauricio fundar o projeto, era um dos corretores imobiliários de maior sucesso nos EUA. A certa altura, o Wall Street Journal reconheceu-o como o agente n.º 3 no país e o líder na Califórnia. Aos que agora fazem o mesmo trabalho em nome da sua agência, o empresário deixa três conselhos:
“Conhecimento, as coisas básicas e simplesmente fazer.”
“Penso que ter uma compreensão tremenda do que se está a vender é provavelmente o mais importante, eu começaria pelo conhecimento. Em segundo lugar, trata-se de serviço, hospitalidade e de fazer as coisas básicas. A vida é uma coisa muito simples, e, se a conseguirmos manter simples, podemos ir muito mais longe do que se complicarmos. A razão pela qual não fazemos coisas espantosas é porque o cérebro humano se engana a si próprio, nós próprios colocamos barreiras. Basta simplificar a vida e agir, irá sempre mais longe do que se questionar todas as decisões que toma”, diz.
Mas estes e outros agentes terão de fazer tudo isto numa altura mais desafiadora. Apesar de os números da The Agency não o indicarem, o mundo está a viver um momento menos positivo a nível económico. A inflação insiste em fazer-se presente, e os bancos começam a enfrentar muitas dificuldades. “Trata-se de uma inflação global, parece definitivamente que o globo está a tentar abrandar. Penso que vamos assistir a tempos um pouco mais difíceis por causa disso, obviamente com taxas de juro mais elevadas, o Banco Central Europeu tem vindo a aumentar bastante as taxas de juro”, afirma.
Mas como é que se lidera um negócio desta dimensão em tempos tão desafiadores?
“Temos de ser responsáveis e inteligentes, o bom da The Agency é que não temos nenhuma dívida, não sou um grande crente em dívidas. É preciso um orçamento equilibrado, o que todos os governos têm dificuldade em fazer, se todos tratassem os seus países como empresas, seria muito mais fácil gerir um bom governo. Mas a partir da perspetiva da The Agency, temos de orçamentar para a época. Este não é o momento de tirar dinheiro da mesa, este é o momento em que vamos colocar tudo de volta no negócio, todos os cêntimos, colocá-los de volta pelo crescimento”, defende.
Algo que certamente ajuda este negócio, seja em que altura for, é a série da Netflix a que está associado: Buying Beverly Hills. “Sempre que se tem publicidade, marketing e reconhecimento da marca, ajuda. É isso que todos nós nos esforçamos por conseguir”, diz Mauricio, realçando que, ainda assim, a empresa já era um sucesso antes de chegarem à televisão.
O que está na base do sucesso desta série, e o que a diferencia de todas as outras que abordam o mesmo mercado, são, segundo o fundador da The Agency, as pessoas. “Eu, as minhas filhas e toda a possibilidade ou não possibilidade de sucessão. Há uma relação de negócios e uma relação familiar, o que é bastante interessante”, afirma. Além disso, a cultura da empresa, nunca escondendo que as coisas nem sempre são fáceis ou glamorosas.
“Queríamos criar um programa que permitisse à audiência ver o que realmente se passa lá dentro. E quem sabe, se continuarmos a ser bem-sucedidos e as pessoas continuarem a ver, se daqui a alguns anos poderemos estar a assistir à série Buying Portugal”, sugere.
Por agora trata-se de aproveitar este sucesso no dia a dia da empresa: “Precisamos de que as pessoas e a agência entreguem um alto nível de qualidade. Eu digo sempre que somos tão bons quanto o nosso elo mais fraco, por isso precisamos de ter a certeza de que todos estão a prestar um serviço de alta qualidade”, diz.
Nova aposta
“Eu espero que as pessoas gostem, espero ser capaz de ensinar algumas grandes lições, que é realmente o que estamos a tentar fazer”, diz Mauricio sobre o seu novo projeto. No meio de uma agenda bastante preenchida, o fundador da The Agency conseguiu encontrar tempo para escrever um livro.
Com The Dealmaker, Umansky não pretende assumir o papel de professor, mas, sim, partilhar a sua história e as lições que foi aprendendo pelo caminho. Foram esses aprendizados que tornaram a sua vida “mais preenchida e melhor”, e é isso que espera que aconteça com todos os que escolham ler este livro.
Sem desvendar muito do que escreveu, Mauricio mencionou algumas das suas dicas para atingir o sucesso. Primeiro, a necessidade de equilíbrio. “Há apenas 24 horas no dia, não há 25 horas, se conseguirem encontrar uma hora extra, avisem-me, eu vou investir na vossa empresa. Todos devemos dormir oito horas, temos de trabalhar oito horas e depois há oito horas para nos divertirmos. Como? É com os seus amigos? Com a sua família? Com os seus filhos? A sua mulher? Sozinho? Como é que divide esse tempo para ter esse equilíbrio?” E em segundo, a importância de valorizar o cêntimo e não o euro. “Divido tudo em segmentos muito pequenos, por isso vivo a minha vida pelo valor do cêntimo, que é como sou capaz de gerir um orçamento equilibrado. E digo-vos a mesma coisa: há 100 cêntimos num euro, não há 102. É a mesma coisa com o minuto, há 60 segundos num minuto, como é que se usa esse tempo?”, questiona.
Artigo publicado na edição de abril/maio 2023 da Forbes Portugal.