A ideia de unir o fado, com a sua melancolia e poesia, ao rap, com a sua energia e ritmo pulsante, surgiu de um desejo mútuo de explorar novas sonoridades e quebrar barreiras musicais. O processo de criação foi desafiador, mas também gratificante, exigindo um diálogo aberto entre os artistas.
Desde o primeiro momento, Mariza e Gson, um dos membros dos Wet Bed Gang, partilharam um desejo mútuo de explorar novas fronteiras musicais. A ideia de colaborar surgiu naturalmente, alimentada pelo respeito mútuo e uma afinidade pela inovação. “Ambos admiramos o trabalho um do outro e estávamos curiosos para ver o que poderíamos criar juntos”, revela Mariza à FORBES.
O processo de criação, segundo a fadista, foi “fascinante e desafiador”, exigindo um equilíbrio delicado entre a essência do fado e a força do rap. “Procurámos encontrar um ponto de encontro onde ambos os estilos pudessem coexistir sem perder a sua identidade”, explica.
Para Gson, um dos rostos dos Wet Bed Gang, a colaboração com Mariza representou um encontro com uma figura icónica da música portuguesa. “O que me inspirou em colaborar com a Mariza não foi o facto de ela ser uma artista reconhecida internacionalmente, mas sim o que ela traz para casa, o facto de ser uma artista familiar para os portugueses”, confidencia o rapper. Trabalhar com uma voz tão consagrada gerou um “medo saudável” em Gson, mas também o impulsionou a dar o seu melhor. “É um medo saudável que se transforma em responsabilidade e, por consequência, em mérito”, afirma.
Diálogo entre tradição e modernidade
A gravação do dueto foi uma experiência memorável para ambos os artistas. Mariza recorda o momento em que perceberam que tinham criado algo único: “após a finalização do tema percebermos que tínhamos algo único nas mãos”. Para Gson, um momento especial foi a criação da letra da canção: “disse uma frase que eu honestamente nem sabia bem o que é que significava, ‘a minha entrega é suja não erudita’, e só depois disso é que percebi que fazia todo o sentido”.
O processo de fusão entre o fado e o rap foi, segundo Mariza, “fascinante e desafiador”. Procuraram encontrar um equilíbrio onde ambos os estilos pudessem coexistir sem perder a sua essência. “Foi um processo de muita experimentação e diálogo aberto, mas fluiu de uma forma muito natural”, destaca a fadista.
Uma das maiores surpresas para Mariza foi a capacidade de Gson de interpretar melodias de forma emotiva, algo que considerava característico do fado. “A verdade é que a filosofia e alicerces onde assenta o fado não estão assim tão distantes do rap”, sustenta a fadista.
União e inovação
Quanto à mensagem específica transmitida por esta colaboração, Mariza expressa o desejo de mostrar que a música é um idioma. Com “Desamor”, Mariza e Gson pretendem transmitir uma mensagem de união e superação de barreiras. “Queremos mostrar que a música é um idioma universal que transcende fronteiras e preconceitos”, declara Mariza. Através da fusão do fado e do rap, os artistas esperam inspirar o público a abrir a mente para novas formas de expressão musical.
Com este dueto inovador, Mariza e Gson esperam despertar a curiosidade do público e abrir caminho para novas formas de expressão musical. “Espero que o público receba esta colaboração com mente aberta e principalmente com muita curiosidade”, expressa Mariza. Acima de tudo, os artistas desejam que o público se identifique com a mensagem da canção e se inspire para explorar a sua própria criatividade.
A dupla está, acima de tudo, confiante de que o público irá receber a colaboração com entusiasmo. “Acredito que este dueto tem o potencial de unir pessoas de diferentes origens e gostos musicais”, complementa Gson. “Acreditamos que é possível inovar dentro de géneros tão ricos e históricos, abrindo caminho para novas formas de expressão musical”, sustenta o rapper.
A incontornável herança africana
Tanto Mariza quanto Gson têm ascendência africana, e essa herança cultural influenciou a abordagem da parceria. As raízes africanas trouxeram uma profundidade e ressonância à música, enriquecendo-a com elementos culturais ricos e autênticos.
“A nossa herança africana enriqueceu esta colaboração”, reconhece Gson. Essa herança cultural, garante Mariza, “trouxe uma camada adicional de profundidade e ressonância cultural que influenciou não só a música que criamos, mas também a maneira como trabalhamos juntos”.
O rapper faz, ainda, questão de enfatizar o papel desempenhado pelo produtor João Pedro Ruela que, segundo ele, foi o catalisador desta parceria. “Já havia imensa eletricidade para trabalhar, mas o disjuntor para a combustão acontecer foi exatamente o Ruela”, conta.
Ao unirem-se neste projeto, Mariza e Gson lançam um desafio à nova geração de artistas portugueses, especialmente àqueles com ascendência africana. “O meu conselho é para todos os jovens fazerem música com essa propriedade, de que não estás limitado a nenhum território, zona, etnia, raça”, aconselha Gson. A mensagem é clara: a música não tem fronteiras, e todos têm o direito de se expressar através dela.
Ambos os artistas estão ansiosos para ver como o público irá interpretar esta colaboração única. Este dueto é mais do que apenas uma canção; é uma celebração da diversidade, da criatividade e do poder da música.