O escritor peruano Mario Vargas Llosa publicou esta semana em Portugal o seu último romance, “Dedico-lhe o Meu Silêncio”, com o qual encerra a sua carreira literária como ficcionista, segundo o próprio, que admite escrever apenas mais um ensaio.
Numa nota no final da obra, Mario Vargas Llosa, de 88 anos, escreve: “Penso que já finalizei este romance. Agora gostaria de escrever um ensaio sobre Sarte [o filósofo francês Jean-Paul Sartre], que foi meu mestre quando eu era jovem. Será o último que escreverei”.
Lançado em outubro de 2023, este romance, que agora a Quetzal edita em português, teve o seu esboço terminado em Madrid, em abril de 2022, a que se juntaram correções que foram sendo feitas pelo autor até ao final desse ano.
Seguiu-se depois uma viagem ao Peru para visitar Chiclayo e Puerto Eten, dois dos cenários desta história sobre o poder redentor da música e a sua beleza.
“Se este romance é o canto do cisne de Vargas Llosa, é difícil imaginar um que fosse melhor. O sonho de reconciliação através da música”, escreveu o The Times Literary Supplement.
Dois meses após publicar este romance, Mario Vargas Llosa, que também escreve em jornais, anunciou o fim da publicação das crónicas de opinião que assinou durante 33 anos no jornal espanhol El País.
Isto não significa que pretenda parar de trabalhar, antes pelo contrário, como afirmou numa entrevista ao jornal La Vanguardia: “Nunca deixarei de trabalhar e espero ter forças para fazê-lo até o fim”.
A justificação apresentada pelo escritor peruano para pôr fim à escrita de romances é admitir que não viverá “tanto para escrever outro livro”.
“Dedico-lhe o Meu Silêncio” é o regresso do autor aos terrenos da utopia, usando a música crioula do Peru como fio condutor para unir o país em torno de uma única melodia.
Uma carreira literária com mais de 60 anos
Com este livro, o vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2010 encerra a sua longa viagem, de mais de 60 anos, pelo mundo da escrita de romances, iniciada em 1963 com “A Cidade e os Cães”.
Situada no início dos anos 1990, durante a ofensiva violenta do movimento comunista Sendero Luminoso, esta história tem como protagonista Toño Azpilcueta, especialista em Múcia crioula, que descobre um guitarrista, Lalo Molfino (personagem de “Travessuras da Menina Má”), cujo talento o faz reviver o amor pelas valsas, marineras, polcas e huainos, géneros enraizados na música popular do país.
Mas a música crioula não é apenas uma marca do país, é muito mais importante, é um elemento capaz de provocar uma revolução, quebrando preconceitos e barreiras raciais para unir todo o país.
A música, revela-se assim, naquele contexto social e político, como elo de união de uma sociedade ameaçada pelo terrorismo, para o qual o virtuosismo de Lalo Molfino se mostra decisivo.
Toño Azpilcueta decide então investigar o guitarrista para descobrir como ele se tornou um músico tão excelente, viajando pelo Peru até à sua terra natal, mergulhando nos seus mistérios, na história da sua família e nas suas relações amorosas.
“Se este romance é o canto do cisne de Vargas Llosa, é difícil imaginar um que fosse melhor. O sonho de reconciliação através da música”, escreveu o The Times Literary Supplement.
Sobre este romance, disse o jornal The Guardian tratar-se de “uma carta de amor ao Peru e à música crioula, a mistura única de valsas europeias com influências afro-peruanas e andinas”.
Mario Vargas Llosa foi agraciado com perto de uma centena de prémios e distinções ao longo de toda a sua carreira, desde o Prémio Leopoldo Alas, em 1959. Entre os principais contam-se o Prémio Príncipe das Astúrias, em 1986, o Prémio Planeta, em 1993, e o Prémio Cervantes, em 1994, além do Prémio Nobel, em 2010.
Destacou-se no meio literário com obras como “A Casa Verde”, “Conversa n’A Catedral”, A Guerra do Fim do Mundo”, “Quem Matou Palomino Molero?”, “O Falador”, “A Festa do Chibo” e “O Paraíso na Outra Esquina”, entre muitos outros títulos.
Lusa