O antigo primeiro-ministro italiano Mario Draghi criticou hoje a lentidão e inércia da União Europeia (UE) no que respeita à competitividade, apelando a uma nova dinâmica para que sejam obtidos resultados “em meses, não anos”. “As empresas e os cidadãos […] manifestam uma frustração crescente, estão desiludidos com a lentidão com que a UE atua”, referiu Draghi, intervindo numa conferência de alto nível para analisar o progresso da Comissão Europeia na implementação das recomendações estabelecidas no relatório por ele elaborado há um ano.
O antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) sublinhou a necessidade que a UE tem de seguir um caminho diferente, que exige “uma nova velocidade, escala e intensidade”, “obtendo resultados em meses, não em anos”. Defendendo que a opção por uma nova via de competitividade significa que os Estados-membros devem “atuar em conjunto e não fragmentar os esforços” e “concentrar os recursos onde o impacto é maior”.
Draghi defende que acordo UE-Mercosul pode aliviar de tarifas dos EUA
O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi considerou hoje que o acordo com o Mercosul pode aliviar os exportadores europeus face às tarifas aduaneiras de 15% impostas pelos Estados Unidos. Discursando na conferência de alto nível sobre “Um ano após o Relatório Draghi” sobre a competitividade da União Europeia (UE), Draghi referiu que “o acordo Mercosul com a América Latina [Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai] pode oferecer algum alívio aos exportadores”.
Considerando que “a Europa começou a reagir” face à concorrência dos EUA e da China, quer com acordos comerciais, quer com novos projetos estratégicos para minerais críticos, o também antigo primeiro-ministro italiano sublinhou, no entanto, que a diversificação para fora do mercado norte-americano “é irrealista a curto prazo”.
Os Estados Unidos, lembrou, “absorvem cerca de três quartos do défice global da balança de transações correntes”. A China, por outro lado, tornou-se “um concorrente ainda mais forte, tanto em mercados terceiros como, à medida que as pautas aduaneiras dos EUA desviam os fluxos, no interior do mercado interno” da UE. “Desde dezembro do ano passado, o excedente comercial da China com a UE aumentou quase 20%”, lembrou Draghi.
O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi considerou hoje que o acordo com o Mercosul pode aliviar os exportadores europeus face às tarifas aduaneiras de 15% impostas pelos Estados Unidos.
O antigo líder do BCE destacou ainda que a capacidade de reação da Europa é limitada pelas suas dependências, “mesmo quando o nosso peso económico é considerável”. No seu relatório publicado em setembro de 2024 e encomendado um ano antes, Mario Draghi estimou em 800 mil milhões de euros as necessidades anuais de investimento adicional na UE face aos concorrentes China e Estados Unidos, o equivalente a mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) comunitário e acima do Plano Marshall.
O antigo presidente do Banco Central Europeu propôs, para tal, uma emissão regular de dívida comum na UE, como aconteceu para fazer face à crise da covid-19, um investimento maciço em defesa e uma nova estratégia industrial comunitária. O relatório Draghi definiu três prioridades para a Europa: resolver o défice de inovação em tecnologias avançadas, traçar uma via de descarbonização que apoie o crescimento, e reforçar a segurança económica. A UE fechou em dezembro de 2024 um acordo com os países do Mercosul, que está em processo de ratificação.
(Lusa)