Enquanto crescemos, os adultos dizem-nos muitas coisas. Umas acertadas e outras que tratamos depois em terapia e a fazer constelações familiares, mas há uma coisa que é comum a tantos deles: avisam-nos para brincarmos o que pudermos na idade adequada porque depois a vida é para ser levada a sério, “Brinca agora enquanto ainda não trabalhas”, anunciam do alto da sua negatividade tóxica e chata. Aos meus sobrinhos digo-lhes o contrário: “experimentem a alegria e brinquem como se o sol nunca se fosse deitar, mas nunca deixem de o fazer”… e peço desculpa por ser adulta.
A alegria salvou-me em tantos momentos – sobretudo quando era a criança estranha que usava botas ortopédicas e exibia uma linda careca reluzente que o cancro tinha deixado exposta – e aí, o discurso foi outro. Disseram-me para agarrar a alegria com unhas e dentes. Então e se eu a tivesse deitado fora? Se cometesse o erro de me livrar dela aquando extrapolado o prazo?
Mesmo assim, apesar de me ter feito alegre e ter encontrado no riso o motivo da minha existência também andei confusa algum tempo, sobretudo quando quis que me ouvissem porque tinha coisas importantes para dizer. Decidida a ser a mulher que se respeita, em 2014 e logo no intimidador CCB, achei que não poderia apresentar a minha Palestra de sapatilhas brancas que gritavam “mais importante do que estar aqui é o meu conforto” (mesmo que o tema fosse Cancro com Humor) porque a minha alegria não poderia colocar em risco a seriedade da mensagem, afinal, com a alegria não se brinca.
Das duas uma, ou teria de usar fato e gravata, como fazem e vestem os sérios e de acordo a minha plateia, ou então encontraria em mim a persona formal criada para a ocasião. Coloquei um vestido preto, lembrei-me do pormenor do cinto na anca para me mostrar crescida e arrisquei calçar uns sapatos de tacão alto (que deveria ter medido). Ora pois que (e podes imaginar a cena à vontade) ao entrar no CCB tropecei, ao sair do palco tropecei, ao cumprimentar a apresentadora tropecei e a mensagem ficou óbvia: a alegria é uma coisa séria porque impacta e eu não precisava de nenhuma roupa formal para o provar. Também ficou provado o meu fraco equilíbrio de pés e que a vida tem sempre o poder da piada final. Fui trilhando o meu caminho percebendo que a alegria não se disfarça, não se veste, não se esconde em regras sociais. Não há nada que transmita mais confiança do que ela. Podes estar aterrorizado(a) por estar ali mas se estiveres EM alegria, não se esquecerão de ti. Gostava que me tivessem dito mais cedo que esta, mais do que a minha marca pessoal, seria sobretudo a garantia da minha autoconfiança: “Não haverá nada exterior a ti que garanta o teu amor próprio, só a tua alegria poderá ter esse poder. Com cabelo, sem cabelo, com sapato fino, sem sapato fino”. Quem me dera que me tivessem dito antes de cair à porta do CCB – mas se assim fosse, convenhamos, não teria tanta graça.