Margarida Balseiro Lopes: “Temos de construir políticas que ajudem a resolver os principais obstáculos que os jovens têm”

O último painel da Forbes Annual Summit de 2025 colocou Margarida Balseiro Lopes, ministra da Cultura, Juventude e Desporto, a responder a perguntas de três jovens: Maria Francisca Gama, João Maria Botelho e Joana Gentil Martins, três nomeados na lista 30 Under 30 da Forbes Portugal. Cada um dos jovens fez duas questões à ministra…
ebenhack/AP
Margarida Balseiro Lopes, ministra da Cultura, Juventude e Desporto, foi entrevistada por três nomeados da lista 30 Under 30 durante a Forbes Annual Summit de 2025.
Forbes Annual Summit Líderes

O último painel da Forbes Annual Summit de 2025 colocou Margarida Balseiro Lopes, ministra da Cultura, Juventude e Desporto, a responder a perguntas de três jovens: Maria Francisca Gama, João Maria Botelho e Joana Gentil Martins, três nomeados na lista 30 Under 30 da Forbes Portugal.

Cada um dos jovens fez duas questões à ministra sobre as suas áreas e os temas que mais interessam e preocupam os jovens hoje em dia. Veja aqui todos os temas abordados.

Visibilidade para autores portugueses

A escritora Maria Francisca Gama começa por destacar a enorme diferença entre o espaço dado a autores lusófonos e a autores estrangeiros nas livrarias, sendo que aos primeiros geralmente resta apenas uma estante, e finaliza propondo a implementação da obrigatoriedade de 30% de presença para autores lusófonos. Um pouco à semelhança com o que acontece na rádio.

“Nós precisamos de aumentar os hábitos de leitura das pessoas em Portugal, com especial atenção junto das crianças e jovens. O Estado, que não deve definir o que é cultura, tem, contudo, a obrigação de apoiar áreas da cultura que considera que são prioritárias. Quando falamos do livro, é obviamente uma área que consideramos prioritária”, afirmou Margarida Balseiro Lopes, destacando iniciativa como a criação de bolsas literárias e a já confirmada segunda edição do cheque livro.

“O que é que nós retirámos da primeira edição [cheque livro]: lê-se poucos livros de autores portugueses. No top 10 dos livros mais vendidos da primeira edição não há nenhum autor português. Nós devemos procurar estimular o interesse por autores portugueses. Nesta segunda edição vamos procurar divulgar mais a medida e promover autores portugueses. Ter quotas em livrarias, não acho que o caminho deva ser necessariamente por aí, o que podemos fazer é dar visibilidade aos nossos autores”, disse.

Participação dos jovens na tomada de decisões

João Maria Botelho destacou o interesse das gerações mais jovens sobre a área da sustentabilidade, mas olha para a sua participação de uma forma consultiva e não muito ativa ou de tomada de decisão. Como é que isso poderia mudar?

“Eu fui ministra aos 34 anos, isso só aconteceu porque houve um primeiro ministro que achou que era razoável entregar essa missão a alguém tão novo. Portanto, acho que estes sinais dão-se assim: dar oportunidade a que os jovens possam demonstrar e dar provas daquilo que querem fazer. Na mesma forma, quando escolhi equipas, procurei dar oportunidade a que jovens possam desenhar políticas públicas. Em segundo lugar, parece-me essencial que essas políticas vão de encontro a problemas concretos. Temos de construir políticas que ajudem a resolver os principais obstáculos que os jovens têm, em especial no início da vida”, afirmou, destacando políticas como o IRS jovem, com um impacto superior a 700 milhões de euros.

“E há uma terceira dimensão, que tem a ver com a forma como nós comunicamos. De mostrar que a política não é uma coisa distante e que aquilo que nós estamos a decidir é verdadeiramente importante, mas primeiro os jovens têm de saber aquilo que eu estou a decidir”, continua.

Aumento da ansiedade e depressão entre os jovens

Joana Gentil Martins optou por abordar o tema da saúde mental, ligado à sua profissão como psicóloga, e começou por destacar o aumento da ansiedade e depressão entre os jovens. Junto da ministra, procurou saber que medidas estão a ser pensadas para combater isto mesmo, usando, por exemplo, a cultura ou o desporto como ferramenta.

“Nós identificámos o tema da saúde mental como uma das maiores preocupações dos jovens, muito também do que aconteceu em 2020/2021 [pandemia]. Também nos apercebemos que as respostas que existiam eram muito frágeis, ou percebemos que haviam jovens em instituições de ensino superior que esperavam entre seis a oito meses para a primeira consulta, fora as outras. Nós criámos uma medida, que é o cheque psicólogo, e tivemos em 2025 cerca de 30 mil consultas, mas, e nas políticas públicas é essencial avaliar, o que é que o primeiro ano desta medida nos mostrou? Há muitos jovens que não estão em instituições de ensino superior que queriam ter acesso à medida e o processo estava muito burocrático e, por isso, mais difícil”, disse.

A solução passará pela passagem destas medidas para gestão do Instituto Português do Desporto e Juventude, deixando de depender das instituições de ensino superior, para automatizar e acelerar o processo. Tudo isto será integrado no programa “Cuida-te”, já presente em 10 distritos.

Nesta resposta Margarida Balseiro Lopes revelou que na próxima semana será anunciada uma medida, que não revelou, que vem reforçar os serviços educativos para permitir que os jovens criem cedo uma relação afetiva com a cultura.

Machismo nos prémios literários

A segunda pergunta de Maria Francisca veio acompanhada de uma sugestão: a criação de um prémio literário exclusivamente para mulheres. É que olhando para a lista de vencedores dos prémios literários em Portugal, os homens estão em grande maioria.

“Eu acho que é um bom desafio que nós podemos lançar. Não acho que deva ser o Governo a fazer a avaliação e a entrega desse tipo de prémios, mas é claramente um desafio que podemos lançar ao setor privado. Sem grande dificuldade, podemos tornar esse sonho em realidade”, disse.

Fuga de talentos

João Maria Botelho partilhou a experiência de ver diversos familiares e amigos a sair do país por não conseguirem ter cá a qualidade de vida que um salário mais alto no estrangeiro lhes vai permitir ter. Como é assistir a tudo isto tentando passar, ao mesmo tempo, a ideia de que Portugal vale a pena?

“Esse é o meu principal propósito na área da juventude. Não apenas evitar que os jovens saiam, que é mais fácil do que depois convence-los a regressar, mas também criar políticas para que os jovens possam regressar a Portugal. É importante ter noção de duas coisas: nós podemos ter políticas dirigidas, como a questão do IRS jovem, e a segunda dimensão é que precisamos de ter salários mais altos, precisamos mesmo de pagar melhor”, afirmou.

“Só discordo de uma coisa que disse: há muitos jovens que saem ressentidos, porque sentem que o país não lhes ofereceu as oportunidades para poderem ficar. Eu aprendi a lidar com a imigração jovem quando um dos meus irmãos imigrou”, contou.

Cuidar da saúde mental

A última questão foi feita por Joana, que perguntou a Margarida Balseiro Lopes como cuida da sua saúde mental.

“É ser apaixonada em tudo o que faço. Naturalmente que eu trabalho muito, mas eu gosto muito daquilo que faço e tento sempre no meu dia-a-dia olhar para essa dimensão. Porque muitas vezes esqueço-me que estou a trabalhar e estou a tirar muita satisfação naquilo que estou a fazer. Tenho a preocupação de ir ao teatro, ir a uma exposição, ler um livro. Agora também faz parte da minha responsabilidade. Eu estou a trabalhar, mas tenho a felicidade de estar em áreas que ajudam a conjugar as duas coisas, sem deixar a família para trás”, concluiu.

Mais Artigos