A agenda oficial da visita do Presidente do Brasil, Lula da Silva, a Portugal arrancou esta manhã com um encontro com o Chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém.
Depois na conferência de imprensa os dois governantes enalteceram a relação de irmandade que existe entre os dois países, mas não deixaram de realçar a necessidade de reforçar os laços e relançar as relações bilaterais que sofreram um interregno nos últimos sete anos.
O Chefe de Estado português deu as boas-vindas ao casal Presidencial “a esta pátria que tanto deve a centenas de milhares de irmãos brasileiros” que, nas suas contas, estão a caminho das cerca de 300 mil pessoas.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que esta presença de Lula da Silva e da comitiva na Cimeira luso-brasileira serve para “tratar a situação dos nossos Estados, dos nossos povos, desses irmãos brasileiros em Portugal e dos nossos compatriotas no Brasil”. Para o governante português, a realização desta cimeira luso-brasileira terá a missão também de lançar as bases para se construir o futuro da cooperação na área “cientifica, na inovação na criatividade, na tecnologia, no digital, na energia, na educação, na economia.
Sem esquecer os laços de mais de 200 anos entre as duas nações, Marcelo Rebelo de Sousa alertou que “é tempo de futuro, de olhar para a frente, de alargar mais e mais horizontes”. É esse o significado primeiro e decisivo da vossa visita”. E concluiu o discurso esperando que “o mundo de afetos de 200 anos seja forte do que o menos bom que fizemos no passado”.
Impulsionar a cooperação
Antes de chegar a Portugal, a vinda do Presidente Lula da Silva esteve envolta em polémica não só pela possibilidade de discursar na sessão solene do 49º aniversário do 25 de Abril, assim como pelas declarações que fez sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Alheio às polémicas, Lula da Silva preferiu destacar o prazer que sente sempre quando “me reúno com os meus amigos portugueses”. E lembrou que esta é a primeira visita de Estado deste seu terceiro mandato, sendo que “retribuo a gentileza do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa em comparecer na cerimónia da minha posse”.
O governante brasileiro destacou ainda que esta visita ganha um cunho especial, já que dita “o relançamento do nosso diálogo bilateral”. No encontro que manteve com Marcelo Rebelo de Sousa refere que houve oportunidade de discutir novas “iniciativas para melhorar” as relações económicas e comerciais e “para dinamizar as atividades culturais e de cooperação educacional”.
Face ao atual volume de trocas comerciais entre os dois países que referiu atingirem os seis mil milhões de reais, Lula da Silva assumiu que “Portugal e o Brasil têm um potencial enorme extraordinário para dobrar o nosso fluxo de comércio exterior”. Em seguida deixou o repto para que os dois países sejam “mais ousados e desaforados” e que “discutam mais, conversem mais e projetem perspetivas de futuro”. Isto porque considera que “muitas vezes pecamos porque conversamos pouco. Muitas vezes pecamos porque pensamos que, como somos amigos não precisamos de conversar”. “Mas nós precisamos de conversar porque o papel de um Presidente da República é abrir a porta, mas quem sabe fazer negócios e quem tem competência para fazer negócios são os empresários. Portanto, nós temos de juntá-los em todas as nossas reuniões para que os nossos negócios possam crescer”, defendeu.
Sem esquecer a comunidade brasileira que vive em Portugal, o governante sublinhou que “se é verdade que Portugal descobriu o Brasil em 1500, também é verdade que no século XXI, os brasileiros descobriram Portugal. Em nenhum outro momento na história, houve tantos brasileiros em Portugal como agora”. E destacou que não são os brasileiros pobres que estão a vir trabalhar em território português há “muita gente rica, muita classe média alta e profissionais liberais em Portugal”.
Terceira via para a paz
Confrontado pelos jornalistas sobre as recentes declarações sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o Presidente do Brasil começou por dizer que não pretende “agradar ninguém, eu quero é construir uma forma de colocar os dois à mesa”. E sublinhou que há que encontrar um “grupo de pessoas que esteja disposto a falar da paz e não de guerra”, até porque na II Guerra Mundial conseguiu-se o diálogo. Face ao facto consumado da guerra, Lula da Silva disse que “quero é escolher uma terceira via que é da construção da paz”, sendo que enquanto não houver essa via pacifica não irá visitar nenhum dos países.
Quanto às comemorações do 25 de Abril, o Chefe de Estado brasileiro não se mostrou melindrado com a polémica em torno da sua presença na Assembleia da República e garantiu que a agenda da visita já estava definida há muito tempo. Assim, irá discursar na sessão de homenagem que lhe é dirigida e segue depois para Madrid onde terá, entre outros encontros, um almoço com o Rei de Espanha, Filipe VI.