Quando em março de 2020 a pandemia paralisou o país, Diogo Valente e Tiago Rebelo, na altura com 21 anos, tinham uma empresa de eventos que viu a sua faturação cair abruptamente. Como fechar portas não era uma solução, deram a volta à crise e criaram a Swee – uma marca de gelados nacional, vegan, com -90% de açúcares que quer tornar o estilo de vida saudável acessível ao consumidor. Hoje, com menos de um ano de projeto no mercado, já estão em mais de 500 pontos de venda e já marcam presença na grande distribuição.
A marca desta startup de food-tech obteve já a certificação vegan V-Label e venceu o “From Start-to-Table” da Startup Lisboa.
A Swee começou em agosto de 2020 e lançou os seus produtos para o mercado em julho de 2021. “Este primeiro ano de projeto serviu para não só desenvolver a receita e alcançar a inovação que pretendíamos: criar soluções gulosas que fossem simultaneamente vegan e saudáveis, mas também para montar uma supply chain sólida e coesa. Isto permitiu desde o início ser ambiciosos e procurar entrar para a grande distribuição com a certeza de que estaríamos preparados para competir no canal”, referem os responsáveis.
Uma história de criatividade
Sendo dois jovens de 23 anos e com recursos limitados, a criatividade foi essencial para muitos dos primeiros passos da Swee. “Não tínhamos os recursos que muitas das grandes empresas de retalho têm e tivemos de ser criativos. Para a escolha do design de embalagem, por exemplo, como não podíamos fazer focus groups, imprimimos autocolantes em amostras e fomos para o supermercado de mochila às costas colocar os copos de gelado nos lineares e ver a reação dos consumidores. Sempre que alguém pegava num copo, abordávamos as pessoas e recolhíamos o seu feedback, sendo que, caso algum repositor perguntasse o que fazíamos ali, éramos estudantes de design a fazer um trabalho para a faculdade. Não vemos a falta de recursos como uma limitação. Abordamos sempre as iniciativas que queremos fazer como se um problema matemático se tratasse: existem várias formas de chegar a uma solução, sendo que a via corporativa é uma delas, mas existem muitas outras. A somar a isso, sabemos que mesmo quando não conseguimos alcançar os objetivos a que nos propomos, esta atitude permite-nos estar muito mais perto desse objetivo do que simplesmente assumir que não se consegue porque não há recursos”, recorda Diogo Valente.
Entrevistamos Diogo Valente, 24 anos, e Tiago Rebelo, 23 anos, os dois fundadores da Swee.
Qual a explicação para o nome Swee?
Diogo Valente (DV): A Swee é uma marca que pretende tornar o vegan e o saudável uma escolha e não uma obrigação dietética. Queremos a mudança para um mundo onde o leite, os ovos e o açúcar não fazem parte da equação da felicidade e ser saudável seja sinonimo de ser guloso. Sempre nos preocupámos em que os nossos produtos – para além de todos os claims saudáveis e veganos que atingimos – mantivessem o caráter indulgente inerente à nossa categoria e foi precisamente daí que nasceu o nome Swee. Partindo da tradução direta de “doce” para o Inglês, “Sweet”, o nome Swee remete precisamente para uma experiência gulosa, onde rapidamente associamos ao açúcar, mas sem a utilização do mesmo nos nossos produtos.
Por que é que se lembraram dos gelados (e não de outro produto)? Já tinham alguma experiência ou contactos na área?
Tiago Rebelo (TR): Por natureza somos muito “gulosos” e acreditamos que ninguém quer ser saudável a comer meramente fruta. As pessoas cada vez mais procuram uma solução que seja indulgente, mas que, ao mesmo tempo, não comprometa a sua saúde e os gelados são normalmente os sweet cravings onde isso mais acontece. Percebemos que é uma dor dos consumidores sacrificar o prazer pela saúde e que existe uma grande oportunidade em criar soluções a partir dos snacks preferidos dos portugueses, mas numa versão sem culpa e foi precisamente essa a inovação a que nos propusemos e tem-se revelado uma boa aposta.
Sempre tivemos ligados à área do estilo de vida saudável e como conhecemos a indústria por dentro, bem como muito bem os players que atuam no seu espectro, já tínhamos um conhecimento vasto do crescimento, potencial e da fase de vida em que o mercado se encontrava. Tudo isso ajudou, porque foi apenas aplicá-lo à realidade de uma marca de produto.
Atualmente, estão presentes em quantos pontos de venda?
DV: Estamos atualmente em mais de 500 pontos de venda e prevemos terminar 2022 acima dos 1.000 pontos de venda.
Quais são esses pontos?
TR: Desde o início do projeto que quisemos garantir conveniência ao consumidor na aquisição dos nossos produtos e a nossa estratégia comercial passa por colocar Swee não só na grande distribuição onde já nos encontramos em insígnias como o El Corte Inglès e brevemente Auchan, mas também apostar fortemente no digital, onde temos várias lojas na Uber Eats e presença nos supermercados digitais como a Getir. Temos ainda uma cobertura forte em lojas de proximidade como é o caso do Intermarché, Amanhecer e Meu Super e contamos estar presentes ainda este mês em bombas de gasolina através da rede Repsol.
“A nossa estratégia comercial passa por colocar a Swee não só na grande distribuição, onde já nos encontramos, mas também apostar fortemente no digital”
Em termos de grande distribuição, quais são as empresas com as quais fizeram acordos?
DV: Neste momento contamos com acordos com o El Corte Inglès, Sonae (através da insígnia Meu Super), Jerónimo Martins, Auchan e Spar. O Supercor e o Meu Super foram os primeiros acordos e até agora o balanço tem sido muito positivo. Realizámos um teste no Pingo Doce durante o mês de abril e contamos ser inseridos na rede de lojas Auchan no mês de junho 2022.
Estão presentes em todos os Pingo Doces? Qual é o acordo que têm?
TR: A inserção no Pingo Doce sempre foi uma ambição nossa não só pelo prestígio e o que representa para a marca, mas também porque é uma excelente oportunidade de percebermos o comportamento das nossas referências a nível nacional e em grande escala. Testámos, através de uma ação In & Out, o produto este mês de abril em mais de 200 lojas do Pingo Doce através de uma ação de folheto para percebermos na prática a aceitação do produto e definirmos uma estratégia em conjunto. Estamos atualmente na fase de análise dos resultados, ainda é cedo para retirar conclusões, e estamos otimistas em relação à parceria.
Como é que conseguiram “convencer” o Pingo Doce a vender os vossos gelados?
DV: Em primeiro lugar, acreditamos que a marca e o posicionamento que demos à Swee são vencedores e que falam por si. Em segundo lugar, honestamente fizemos uma análise detalhada, neste caso, do linear dos gelados do Pingo Doce, assim como do consumidor-tipo das suas lojas e demonstrámos a oportunidade e o valor em complementar a gama atual deles com uma solução como a nossa. Fizemos o exercício de nos colocar nos pés do gestor de categoria, o que se revelou ser uma ótima abordagem.
Em termos de lojas digitais, quais os canais em que podemos encontrar os gelados Swee?
TR: Atualmente contamos com cobertura nas cidades de Lisboa (através da Uber Eats, Getir e Bairro), assim como na cidade do Porto (através da Uber Eats). Pretendemos continuar a crescer com os nossos parceiros e a participar ativamente na sua expansão. Prevemos ainda entrarmos para outros centros urbanos muito interessantes como Braga, Guimarães e Setúbal já este verão, através de lojas próprias na Uber Eats.
“Prevemos ainda entrar noutros centros urbanos muito interessantes como Braga, Guimarães e Setúbal já este verão”
Que tipo de gelados são os vossos – que características têm?
DV: Os gelados na sua grande maioria podem ser divididos em dois grandes segmentos: italianos e americanos. O italiano foca-se muito na cremosidade recorrendo ao açúcar e ao controlo do ponto de congelação, enquanto o americano procura a indulgência e, por isso, tende a recorrer à gordura (tipicamente nata).
A Swee caracteriza-se por um gelado indulgente, rico e com textura, procurando oferecer toda a experiência sem qualquer tipo de culpa.
Que produtos encontraram para substituir o leite, os ovos e o açúcar?
TR: Essa é de facto uma questão muito relevante porque ainda hoje estamos a testar várias opções no mercado para perceber como aproximar o mais possível da sensação de comer um gelado com leite, ovos e açúcar. Atualmente, a nossa escolha para substituir o leite é a aveia, no caso dos ovos e do açúcar optámos pelo Coco e pela Stevia. No entanto, no que toca à fórmula, nós temos uma abordagem muito indutiva: estamos sempre a testar ingredientes novos e a perceber na prática – mais do que na teoria – como é que impacta o sabor do gelado, porque no fundo é isso que interessa.
“A nossa escolha para substituir o leite é a aveia, no caso dos ovos e do açúcar optámos pelo Coco e pela Stevia”
Onde é que os vossos gelados estão a ser produzidos?
DV: A Swee é uma marca 100% nacional, criada por dois jovens portugueses e que trabalha atualmente apenas com produtores nacionais um pouco espalhados por todo o país.
Qual o volume das vendas que têm tido?
TR: Para Food Start-Ups como a Swee, o primeiro ano é sempre muito interessante. Existem todas as questões associadas à abordagem comercial, o marketing no ponto de venda e a escassez de recursos humanos para alavancar a operação. A somar a isso, toda a crise no setor logístico, das matérias primas e as alterações decorrentes do teletrabalho, fez com que todo este ano tivesse sido desafiante.
Ainda assim, estamos muito entusiasmados para o primeiro verão completo da Swee, onde acreditamos que conseguiremos fechar o ano com um volume de vendas perto dos €300.000.
“Acreditamos que conseguiremos fechar o ano com um volume de vendas perto dos €300.000”
Quais são os sabores que produzem?
DV: Atualmente temos no mercado duas referências: Chocolate com Brownies e Caramelo com Brownies. Vamos lançar já em junho o nosso gelado de Oreo e contamos ainda lançar mais uma referência este ano, cujo sabor ainda não temos 100% fechado.
Qual o que tem mais saída?
TR: Após 10 meses de atividade, as conclusões que retiramos são bastante interessantes.
A nossa referência de caramelo intriga bastante o consumidor positivamente e acaba por ser a que mais facilmente é adquirida para experimentação. Contudo, a referência de chocolate regista uma taxa de repetição e uma fidelização do consumidor muito acima do expectável. Temos registado uma tendência de crescimento da referência de chocolate nas nossas encomendas e acreditamos que o split andará à volta dos 60% chocolate e 40% caramelo.
Qual a vossa expectativa para este ano e previsão para próximos anos?
DV: Enquanto startup, especialmente na fase de vida onde estamos, todos os dias acordamos num mundo novo com uma visão diferente da vida. A juntar a isso, o facto de sermos jovens faz com que queiramos reunir todas as condições para que a ambição de fazer mais e melhor se torne uma realidade.
A nossa expectativa para este ano é garantir conveniência em todo o território nacional, entrar para grande distribuição e atacar os quatro principais segmentos do nosso produto – Bombas, Retalho, Delivery, Q-Commerce.
Em relação à previsão para os próximos anos, para além da consolidação da operação em Portugal e da abertura “passo-a-passo” do mercado externo, o grande objetivo passa por superar o desafio de construir uma marca em Portugal.
“Queremos atacar os quatro principais segmentos do nosso produto – Bombas, Retalho, Delivery, Q-Commerce”
Quais são os próximos passos que pensam dar?
TR: Aumentar a equipa para otimizar processos e permitir atacar mais frentes, continuar a apostar na inovação e no desenvolvimento de produto e construir a marca Swee.
Preveem ir ao mercado captar financiamento? Se sim, qual o propósito e quando?
DV: Os últimos 10 meses de atividade serviram para provar o conceito e oportunidade que estamos a explorar. A somar a isto, o facto de estarmos a experienciar um crescimento interessante com a abertura de novos pontos de venda diariamente, faz com que seja crucial começarmos a pensar no futuro da marca e procurar potenciá-la em todas as suas vertentes. A procura por financiamento servirá não só para assegurar capacidade de fornecimento a todos os nossos clientes com um serviço exímio a que os temos habituado, mas também apostar fortemente na internacionalização, inovação, quer através de novos formatos e sabores “fora da caixa”, assim como na vertente do marketing para nos posicionarmos como o delicioso gelado sem culpa preferido dos portugueses. Estamos confiantes do trajeto que temos delineado para a Swee e estamos prontos para colocar a Swee em todas as casas dos portugueses e dos mercados internacionais que pretendemos entrar.
Querem exportar? Referem Espanha e Reino Unido. Em que fase estão esses contactos?
TR: O vegan em alguns países da Europa – como Espanha e Reino Unido – tem uma tração muito maior o que, por si só, facilita a entrada nos lineares, mas aquilo que é realmente motivo de interesse é que apesar da procura e da oferta ser maior nesses países, uma análise detalhada dá para perceber que ainda há uma insatisfação grande da procura em relação à oferta atual nos lineares. Isto faz com que, visto que temos as condições técnicas e logísticas para tal, a nossa ambição leva-nos a querer abrir esses mercados.
Quando calculam que podem chegar a esses países?
TR: Atualmente, estamos numa fase de prospeção, mas já temos alguns contactos feitos e em bom desenvolvimento. Teremos novidades para 2023.