José Luís Castro é CEO do Grupo Sotecnisol, um grupo com mais de 50 anos de existência e que ultrapassou os 50 milhões de euros de faturação em 2022, tendo uma presença física estável em Espanha, Angola, Moçambique e Argélia, entre outros mercados, através de um conjunto de empresas que atuam numa variedade de setores, como construção, ambiente, energia, água e agroindústria.
José Luís Castro assumiu a posição de administrador do Grupo Sotecnisol, empresa de família, com 26 anos de idade, num momento crítico e desafiante. Nesta entrevista, o responsável da empresa, agora com 57 anos, fala das medidas implementadas para reverter a situação, dos próximos planos para reforçar o crescimento da Sotecnisol, olhando ainda para o seu percurso de empreendedor – já fundou mais de 17 empresas.
Assumir a posição de administrador do grupo Sotecnisol aos 26 anos é uma conquista notável. Como é que aconteceu e quais foram as dificuldades que enfrentou naquela época?
José Luís Castro: Dentro das empresas familiares, mais importante do que os cargos que ocupamos é o que fazemos pelas pessoas e pelos negócios. A Sotecnisol tinha uma equipa fantástica que me apoiou a 100% quando assumi o cargo. Nessa altura, assumi a responsabilidade e empenhei-me ao máximo para que, em conjunto com toda a equipa, pudéssemos fazer um verdadeiro “turn around”. Acredito que tenhamos conseguido com sucesso.
O grupo Sotecnisol tem uma presença internacional. Espanha, Angola, Moçambique e Argélia são países onde estão. A expansão vai continuar? Quais os próximos países para onde pensam levar os vossos produtos e serviços?
Para além dos países mencionados, já desenvolvemos trabalhos em Cabo Verde, Marrocos, Costa do Marfim e Mali. Recentemente constituímos empresas na Noruega e França e reforçamos a presença em Espanha, onde abrimos uma nova delegação, em Barcelona. Nos próximos anos, pretendemos acrescentar novas linhas de negócio e geografias. Por exemplo, França é um mercado que nos interessa bastante e estamos, de momento, a negociar grandes projetos e a criar a equipa de gestão.
“Nos próximos anos, pretendemos acrescentar novas linhas de negócio e geografias. Por exemplo, França é um mercado que nos interessa”
Quais são os princípios de liderança que considera essenciais para o sucesso de um grupo empresarial diversificado como o Sotecnisol?
Somos um grupo de engenharia muito focado em ser altamente especializado nos serviços que prestamos. Acredito que a diferenciação é característica chave em qualquer área de negócio e temos conseguido destacar-nos graças à nossa complementaridade e capacidade de criar valor adicional aos nossos clientes, ao terem um parceiro com diversos e valiosos recursos internos que dá mais garantias de boa execução, dentro dos prazos. Para que tudo isto seja possível, é necessário ter equipas de excelência, com elevada autonomia e capacidade de decisão, alinhadas e motivadas.
“A diferenciação é característica chave em qualquer área de negócio”
Quando assumiu o cargo, o grupo atravessava um momento complicado. O que fez para tentar reverter a situação crítica que o grupo Sotecnisol enfrentava?
Em 1992, o mercado da construção estava a passar um momento muito conturbado, com muitas das maiores construtoras a falir em resultado da contração do mercado e da grande alavancagem. Foi necessário reduzir a estrutura para nos preparamos para atacar o mercado no momento certo com um conjunto de vantagens competitivas que, entretanto, construímos. Foi possível suplantar a grande concorrência que tínhamos na altura que acabou por sucumbir mais tarde. Reforçámos a estrutura financeira e o compromisso de pagar pontualmente aos nossos fornecedores, e implementámos uma diversificação na atividade através da criação de novas áreas de negócio.
Ainda se recorda da sua primeira medida?
As medidas mais relevantes que tomámos estiveram relacionadas com a reformulação completa do método de orçamentação dos trabalhos que executávamos, com a mudança dos processos de compra e com reforço do relacionamento com os fornecedores. Estes três procedimentos, que à partida parecem simples mas não são, foram, sem dúvida, o pontapé de arranque para uma nova era da Sotecnisol. Neste momento, estamos de olhos postos no futuro sem esquecer as origens do Grupo e a qualidade do serviço que prestamos.
“É necessário ter equipas de excelência, com elevada autonomia e capacidade de decisão, alinhadas e motivadas”
Ao longo da sua carreira de empresário, fundou mais de 17 empresas. Pode dar-nos exemplos daquelas que mais o enchem de orgulho?
Os maiores desafios estavam em Angola e Moçambique, pois eu não tinha qualquer experiência de África. Comecei a ir a Angola muito pouco tempo antes de constituirmos aí a empresa em 2011, seguiu-se Moçambique em 2013 em parceria com o Grupo Entreposto. Outro grande desafio prende-se com a constituição de empresas com atividades que nada tinham a ver com o nosso negócio inicial, nomeadamente a área da energia, ambiente, água, AVAC [Aquecimento, Ventilação e Ar Condicionado], eletricidade, trabalho temporário e mais recentemente, a mobilidade elétrica.
Pode partilhar algumas lições aprendidas ao longo desse seu processo empreendedor?
Não nos prendermos aos insucessos e aprender com os erros são das principais lições. A minha primeira aquisição de uma empresa não correu bem e eu fiquei demasiado tempo sem repetir o processo, foi um erro. Aprendi que temos de contratar os melhores e que a pior coisa que pode acontecer a uma empresa é ter pessoas insatisfeitas.
“A pior coisa que pode acontecer a uma empresa é ter pessoas insatisfeitas”
O Grupo Sotecnisol tem uma presença em diferentes setores. Qual permanece como o “setor-estrela” do grupo?
Depende muito se olhamos mais para o passado ou para o futuro já que, do meu ponto de vista, interesso-me mais pelo que vamos criar, mantendo sempre a excelência. Os desafios da digitalização, da inteligência artificial, a transição energética e a criação de “smart cities” são os nossos principais desafios que nos motivam realmente.
O Grupo atua em setores como os da construção e energia. Mas tem também uma empresa, a Sá Morais Castro, que produz azeite. É um setor que destoa no portfólio. Como é que esta diversificação se alinha com a visão do grupo?
A Sá Morais Castro existe há mais de 20 anos, mas a minha família sempre esteve ligada à agricultura transmontana e à olivicultura. Atualmente, a empresa é a maior produtora de azeite do norte de Portugal, explorando um total de 650 hectares, dos quais 420 são de olival. Estamos muito confiantes com os investimentos que temos vindo a fazer e continuamos comprometidos em crescer, a produzir um azeite premium, recorrendo a práticas cada vez mais sustentáveis no sentido de uma agricultura regenerativa e aspiramos contribuir para o desenvolvimento da região de Trás-os-Montes, a qual detém um notável potencial.
A recente aquisição da Evolut.green para entrar no segmento de mobilidade elétrica é uma mudança estratégica?
A mobilidade elétrica insere-se na estratégia atual, e queremos estar presentes na transição energética para um mundo mais sustentável e mais equilibrado. Com a evolução dos sistemas de carregamento, o Grupo Sotecnisol pretende ser um player de referência a nível nacional na transição energética, criar mais comunidades de energia renovável, massificando a geração distribuída (UPAC) e instalando baterias.
“Temos a ambição de aumentar a oferta de carregadores para veículos elétricos”
Quais são os planos e os objetivos para esse novo investimento na mobilidade elétrica?
Temos a ambição de aumentar a oferta de carregadores para veículos elétricos, com a missão de colmatar situações em que a procura de energia é superior à capacidade de resposta das atuais infraestruturas, nomeadamente através do uso de armazenamento de energia em baterias.
Como pensam alcançar esses objetivos: que projetos têm para a Evolut.green?
Neste momento, estamos a reforçar as equipas, a aumentar o portefólio e a construir uma oferta agregada, para oferecer ao mercado um conjunto de soluções e serviços que satisfaça as necessidades e acompanhem o crescimento do mercado.
Que próximos investimentos vai o grupo Sotecnisol fazer?
Estamos a estudar várias oportunidades de investimento por aquisição, mas privilegiamos o crescimento orgânico. Vamos apresentar em breve o nosso modelo de negócio no âmbito das “smart cities” e continuaremos empenhados em criar valências que reforcem sinergias e melhorem a competitividade. Desde o momento em que assumi o Grupo, tenho a missão de o ver crescer de forma sustentada e com propósito. Esta tem sido uma longa caminhada que ainda tem muito por percorrer.
“Estamos a estudar várias oportunidades de investimento por aquisição”