Desde a sua primeira aparição em 1964, Mafalda, a icónica personagem de banda desenhada criada pelo lendário cartoonista argentino Quino, conquistou gerações de leitores com a sua sagacidade, humor ácido e reflexões críticas sobre a sociedade e a política. A pequena menina de cabelos negros e fita na cabeça tornou-se um símbolo e uma porta-voz de inquietações e aspirações sempre atuais.
Agora, a perspicaz Mafalda, juntamente com os seus amigos, está pronta para saltar das páginas dos quadrinhos para o pequeno ecrã, ganhando uma nova vida numa série animada da Netflix que promete captar a essência da obra de Quino, introduzindo-a a uma nova geração.
O anúncio foi feito, no evento “Hecho en Argentina”, que decorreu no Centro Cultural San Martín, em Buenos Aires, durante o qual a Netflix desvendou várias produções argentinas que vão estrear ou estão em rodagem, centre as quais está um documentário sobre o futebolista argentino Ángel Di María, atualmente ao serviço do SL Benfica (“Angel di María: romper la pared”).
O realizador argentino vencedor de um Óscar, Juan José Campanella (pelo filme de 2009, “El secreto de sus ojos”/“O Segredo dos seus olhos”), será responsável por esta série de animação, como realizador e argumentista, ele que assume ser fã de Mafalda desde a infância.
“[Quando eu era criança] os meus pais tinham-me dito que não era para mim, que era para os adultos, que eu não ia perceber. Fui ao quiosque para o comprar. Estava a lê-lo e, rindo, havia de facto tiras que eu não entendia. Percebi que a Mafalda era para miúdos, graúdos e intermédios. Isso levou-me ao dicionário. Aprendi muitas coisas, para além de me rir muito”, recorda o realizador, que também confessa ter passado muito tempo a pensar como levar a Mafalda para a animação, para que os miúdos de hoje se riam como ele se ria na altura.
Campanella diz que o seu objetivo é “reconectar as novas gerações que não cresceram com a Mafalda” e “trazer a sua inteligência e pertinência para as crianças que estão a crescer nas plataformas digitais de hoje”.
Juntamente com o produtor Gastón Gorali e o diretor de produção Sergio Fernández, Campanella está empenhado em preservar a essência da criação de Quino. “É nosso dever preservar o humor, o timing, a ironia e as observações de Quino”.
Para Campanella, trabalhar nesta adaptação de Mafalda será mesmo “o maior desafio da minha vida”.
“Mafalda”, a eterna menina de seis anos que questiona o mundo à sua volta, com humor e ironia.
A série vai ser produzida pela Netflix e pelo estúdio de criação digital Mundoloco CGI, sediado na Argentina, não tendo ainda datas para a sua exibição.
Campanella revelou, aliás, que Quino chegou a visitar o escritório de produção da animação Mundoloco CGI, antes de morrer em 2020, e ficou encantado com a tecnologia digital: “O seu entusiasmo era o de uma criança com um brinquedo novo, fazendo dezenas de perguntas”.
A Netflix ainda não anunciou a data de estreia da série Mafalda.
Quino, cujo verdadeiro nome era Joaquín Salvador Lavado Tejón (1932-2020), concebeu Mafalda em 1964. A banda desenhada, que durou até 1973, foi traduzida do espanhol para mais de uma dúzia de línguas, incluindo português, inglês, francês, italiano, alemão e japonês.
Esta adaptação da Netflix é, assim, uma oportunidade de apresentar a personagem a um público mais vasto e uma forma de honrar o legado do criador da Mafalda, “um gigante que inspirou gerações de cartoonistas com o seu traço e muitos mais humoristas com o seu sentido de ironia e comentário mordaz”, aponta Campanella.