Luísa Oliveira, ou Luisinha como é conhecida no digital, começou no mundo da moda, mas foi através das redes socias que se tornou um nome mais conhecido do público. Hoje concilia o trabalho como modelo e criadora de conteúdo com um mestrado em Fashion and Luxury Management, em Roma, o segundo plano para uma carreira que a apaixona, mas que sabe ser um pouco incerta.
Os frutos do seu esforço estão à vista de todos, principalmente através do seu crescimento nas redes sociais. “Há números muito maiores, mas sei que o meu número de seguidores, o engagement e todas essas estatísticas já são números grandes, e é difícil imaginar e ter noção da quantidade de pessoas”, conta à FORBES.
No final daquele que considera ser o melhor ano da sua carreira, a FORBES falou com Luísa Oliveira sobre a sua experiência na moda e nas redes sociais, e sobre os planos que traçou para que os próximos anos sejam também eles os melhores da sua carreira.
Como é que chegaste à moda e em que momento percebeste que querias seguir esta área?
Comecei quando era muito pequenina, com quatro ou cinco anos. A minha mãe trabalhava em relações públicas e organizava eventos e eu comecei por fazer desfiles para marcas de roupa de criança e adorava. Depois não voltei a pensar nisso, mas toda a vida o meu pai andou com uma câmara fotográfica atrás e eu adorava. A minha irmã não achava tanta piada, gostava se fosse vídeo, mas eu adorava tirar fotografias. Por volta dos 15 anos comecei a fazer trabalhos pequeninos para lojas locais no Porto e depois quando comecei a tirar a licenciatura (Gestão de Marketing) decidi inscrever-me numa agência, outra agência que tive no Porto. Mas não era a minha prioridade, queria acabar o curso acima de tudo, simplesmente gostava de tirar fotografias e parecia-me na altura uma boa forma para ir juntando algum dinheiro. Assim que terminei o curso decidi não tirar logo o mestrado e foi na altura que entrei na Central Models, em 2021, e decidi dedicar-me só à moda e ao digital, para ver no que dava, arriscar. O ano de 2022 correu muito bem nesse aspeto, no entanto ainda tinha vontade de tirar mestrado, então inscrevi-me num mestrado em Roma (Fashion and Luxury Management), que termino em abril.
Porque é que foi importante para ti continuar os estudos?
O meu curso foi em Gestão de Marketing e o mestrado em Fashion Management, é uma mistura do meu curso com a área que eu trabalho hoje. É uma área que não é só a parte experiencial, mas a parte que está por trás, os estudos de mercado, os estudos de produto, até os estudos do próprio consumidor são coisas que sempre me chamaram muito à atenção. E por esta carreira ser um bocadinho incerta e mais efémera que as outras carreiras normais, acho que é importante ter um plano B que me sinta confortável, que seja uma área que gosto, para um dia mais tarde vir a exercer.
Qual é o papel do Instagram na tua carreira?
A minha paixão sempre foi a parte da moda, o digital honestamente veio como um complemento. Eu gosto pela parte em que posso puxar pela minha criatividade, posso mostrar um bocadinho mais de mim. Na moda muitas das vezes o trabalho é mais restrito e na parte digital conseguimos envolver um bocadinho mais da nossa opinião e das nossas ideias. O digital acompanha muito bem esta área porque hoje em dia tudo acontece no digital, mesmo o que não seja digital depois acaba por ter uma dimensão online. Eu uso as plataformas para poder divulgar, para conseguir alcançar o maior número de pessoas possível.
A determinada altura existia a separação entre modelos que existiram antes e depois das redes sociais, com uma conotação mais negativa para o segundo grupo. Ainda é uma realidade?
Sim, penso que sim. De facto, há uma diferença entre modelos de Instagram e criadoras de conteúdo e modelos de passarela ou de editoriais. Eu própria já passei por algum tipo de comentários menos agradáveis, do género: “é só tirar fotografias, é só chegar lá sorrir e ir embora”. Não é. Acho que é importante referir que o trabalho da criadora de conteúdo é extremamente exigente, são horas e horas de trabalho que não se vê depois no resultado, aquilo que está por trás, a criação das campanhas, as ideias, o facto de ter de gravar vezes e vezes, enviar para aprovação, voltar a receber. É todo um processo, como qualquer trabalho dito normal exige. As pessoas continuam a achar que é uma coisa fácil, mas é uma ilusão porque requer muito trabalho, é um trabalho como os outros e tem de ter o devido valor.
Quais são os trabalhos mais marcantes que fizeste até hoje?
Este ano foi muito importante para mim, foi o melhor até agora a nível profissional. Trabalhei com muitas marcas internacionais, com a Elisabetta Franchi, outra marca com quem viajo muito é a Suspicious Antwerp. A Calzedonia e Intimissimi, este ano fui a cara da campanha nacional da Calzedonia, foi uma coisa que gostava muito e fiquei muito feliz quando tive essa oportunidade. A Dyson, outra marca internacional, a Yves Saint Laurent, uma marca de referência no mundo da moda, acho que desde sempre que me imaginava a trabalhar com uma marca desta dimensão e deste reconhecimento portanto assim que pude assinar um contrato anual com eles foi muito importante para mim. A Kérastase, a Clinique, são tudo marcas muito especiais para mim e trabalhar com elas durante este ano foi muito importante.
Trabalhas com mais marcas nacionais ou internacionais?
Penso que nacionais, no entanto tenho várias marcas internacionais com quem trabalho, nomeadamente marcas com quem tenho contratos anuais. E o objetivo é esse, é expandir para o internacional.
Traçaste algum plano para que isso aconteça?
Acho importante ter isso como foco, ter esse objetivo em mente e ser comunicado em equipa. A equipa sabe que é esse o meu interesse e portanto também procura mais trabalhos nessa direção, assim como eu se calhar ao aceitar ou recusar parcerias tenho sempre isso em mente. É uma questão de organização em equipa e de trabalharmos para isso, mas um dia de cada vez.
Ainda fazes trabalhos que não envolvam as redes sociais ou já todos os contratos passam por lá?
Continuo a fazer trabalhos que não envolvem as redes sociais, no entanto quando eu gosto do trabalho inevitavelmente acabo por partilhá-lo. Não é obrigatório, não está em contrato, simplesmente se eu gostar do trabalho e se gostar dos resultados depois gosto de partilhar.
Quanto pode custar um post no teu Instagram?
A questão dos valores não acho que seja a questão mais relevante e eu normalmente prefiro não partilhar porque acho que é uma coisa que é melhor ficar em privado, aliás são poucas as pessoas que sabem os valores que eu pratico, mas por opção própria. Acho que a parte mais relevante é aquilo que conseguimos através dos posts, o alcance, a influência que um post ou um story conseguem ter.
É impressionante, às vezes só quem está por dentro é que percebe a quantidade de pessoas a que um post ou um story conseguem chegar hoje em dia.
Qual é a dimensão desse alcance?
Neste momento, numa fase normal o alcance varia entre as 600 e as 900 mil pessoas, já cheguei a ter 2 milhões de pessoas a visitar a página e estou muito contente com este crescimento, foi um crescimento rápido. É um alcance que não dá muito bem para imaginar, é muita gente, mas o objetivo é continuar a crescer. Além do alcance, a parte do engagement é uma parte muito gratificante porque vemos o nosso trabalho a ter efetivamente resultados.
Tens regras para as tuas contas no digital?
Regras não tenho. Todos os temas são temas diferentes, gosto de me seguir por cada situação. Há fases da minha vida em que me sinto mais exposta e que prefiro guardar a minha vida privada para mim, ou há fases em que me apetece partilhar ou coisas que me incomodam ou coisas que eu admiro, acho que vai muito de encontro ao tipo de situação, com a circunstância em si e como eu me sinto na altura.
Quando se trata do teu conteúdo, o que não está ligado a nenhum contrato, é um conteúdo cuidado ou é mais orgânico e não pensas muito nisso?
Eu gosto quando somos mais orgânicos, acho que quanto mais natural melhor, não só para mim porque me sinto bem a fazê-lo, mas pelo feedback que tenho. No entanto, há sempre algum cuidado a ter e eu gosto de publicar coisas direitinhas, com algum esforço. É uma questão de equilíbrio ente o cuidar e a parte orgânica, por isso é que eu agora criei o canal de transmissão no Instagram, acho que é uma coisa que tem resultado muito bem e dá para partilhar as coisas o mais orgânico possível, sem ter aquela estética que eu publico nos stories e nos posts.
Tu mencionaste que o teu crescimento nas redes sociais foi rápido, como é que foi lidar com isso?
Acho que foi um bocadinho um choque porque uma pessoa não está habituada e é uma coisa diferente que não só afeta a nível profissional, mas também pessoal inevitavelmente. Porque as redes sociais são plataformas com as quais lidamos diariamente e a nossa vida está muito exposta lá. O conselho que eu dou, e aquilo que me ajudou na altura, está relacionado com o suporte à minha volta. Tinha sempre a minha agência a salvaguardar-me, a dar-me conselhos sobre o que publicar ou não, como lidar quando saíam certas coisas, assim como a minha família, os meus amigos. A minha irmã [Beatriz Barosa] já está neste mundo mais mediático há mais anos, o facto de eu ir observado e percebendo como as coisas funcionam também foi uma ajuda. Acho que o importante é manter sempre os pés na terra, porque muitas das vezes estes crescimentos rápidos podem-nos levar a deslumbrar. Não acho que tenha sido o meu caso, mas acho perfeitamente possível por aquilo que experienciei, e acho que o importante é sermos fiéis a quem somos, com os valores no sítio e continuarmos a ser nós próprios. Nunca dá para agradar a toda a gente, nunca dá para toda a gente gostar de nós ou fazermos de propósito para uma pessoa gostar, isso não é possível. Somos todos humanos, o melhor é sermos nós próprios.
O que gostavas que as pessoas soubessem sobre o trabalho nas redes sociais?
Quanto mais as pessoas tiverem a noção que é um trabalho que deve ser igualmente valorizado e respeitado como todos os outros e que requer esforço e dedicação, melhor. Acho que isso também parte um bocadinho de nós, mostrarmos através das redes sociais como é que funciona. Tenho muita gente a perguntar como é que funciona e sempre que tenho oportunidade explico o processo por trás daquilo que se vê.
Quais são os teus planos para o próximo ano?
O meu objetivo principal é expandir a carreira da moda e do digital a nível internacional, esse é o grande objetivo. Para isso uma das coisas que eu gostaria de fazer era manter as tais parcerias que eu falei, porque cada marca das que eu falei são áreas diferentes. Manter essas parcerias anuais, fortificar as relações com essas marcas que eu tanto gosto de trabalhar, continuar a viajar. Este ano estive presente no Coachella com a Parfois, a Salsa e a Casetify, e no próximo ano vou voltar. O objetivo é conseguir ir a esse tipo de festivais de dimensões mundiais e conseguir levar marcas maiores para trabalhar. Eu entrei agora numa agência em Barcelona também, portanto conciliar agências pelo mundo fora, campanhas internacionais. Entretanto, vai ter de ser uma coisa de cada vez porque eu agora entrei no “Dança com as Estrelas”, que me vai ocupar os primeiros meses do ano, portanto estou focada nesse desafio e as coisas depois vão surgindo com a mentalidade certa.
Entrares num programa de televisão em Portugal está também relacionado com esse objetivo de aumentar a visibilidade, faz parte do plano?
Eu dancei durante alguns anos, quando recebi o convite foi uma coisa que me entusiasmou porque é uma experiência diferente das que já tive. Já fui à televisão, mas coisas esporádicas, e agora aparecer em horário nobre, num programa na TVI, um canal nacional de renome, todos os fins de semana, tem algum peso e isso vai-se refletir nas redes sociais, na visibilidade, no crescimento. É um complemento também muito bom ao meu trabalho e acho que só vai ter resultados positivos.
Que sonho tens por cumprir?
São vários. Eu sou uma pessoa que sonha acordada, tenho muitos objetivos relacionados com esta minha carreira, mas um deles seria fazer uma campanha global por exemplo de um perfume. Ser a cara de um perfume, ser a cara de campanhas de marcas de alta-costura, a minha cara estar nos painéis de Nova Iorque.