Criar, lançar e fazer crescer uma marca não é tarefa fácil. As páginas da Forbes estão cheias de histórias de enorme sucesso que começaram como grandes desafios para os seus fundadores. Agora imagine: criar uma marca, fazê-la crescer, imprimir o seu nome no mercado e vê-la ser retirada das suas mãos diretamente para as de outra pessoa. Este era provavelmente o único desafio que Luís Borges não esperava.
A Call Me Gorgeous foi a primeira marca de acessórios do designer e manequim. Se ainda estivesse nas suas mãos, faria agora três anos. “A Call Me Gorgeous foi um momento muito bom. Acho que construí uma marca sólida em muito pouco tempo. A verdade é que fui convidado para a Moda Lisboa, e isso foi o meu maior desafio, sem dúvida alguma”, diz Luís à Forbes.
A questão aqui é que Luís não registou o nome da marca. “É aquela coisa de ‘vamos registar depois, não vai haver nenhum problema’”, conta. Mas houve. A determinada altura, outra empresa registou o nome Call Me Gorgeous, e Luís ficou impossibilitado de continuar o seu negócio. “Quem registou a marca, registou outras. Não é uma coisa em que digam ‘eu tenho a marca porque não existia um website ou Instagram Call Me Gorgeous’. Foi algo feito só para tentar tirar dinheiro e aproveitar-se do nome que a Call Me Gorgeous tinha”, defende.
A primeira reação foi não voltar. Por tudo o que tinha acontecido e porque considera que é muito difícil ser empresário e ter uma marca portuguesa no nosso país. “Somos pouco apoiados”, considera. Até que, e por insistência do público que continuava a querer comprar as peças, decidiu entrar no processo de reavaliar, reestruturar e retornar.
O resultado? F*CKINGORGEOUS.
“Acho que representa tudo aquilo que eu sou, estou-me um bocado f*cking para o que as pessoas falam. E também por causa dos valores da marca. A F*CKINGORGEOUS é sobre diversidade, abraçarmos todas as pessoas. Todas as pessoas se podem sentir gorgeous [lindas]”, diz.
O plano
Decido o conceito, a reconstrução foi, então, o seguinte passo. Começou em maio deste ano e acabou por se tornar uma continuação da Call Me Gorgeous. Os mesmos valores, algumas das mesmas peças, como os famosos ‘B’, a mesma coleção que iria ser lançada anteriormente com os cogumelos no protagonismo.
Como não poderia deixar de ser, algumas coisas resultaram um pouco diferentes. Além do óbvio, que passa pela nova identidade visual, Luís realça a nova energia e atitude. “O f*cking veio dar-me aqui uma energia diferente. Acho que tudo o que acontece na vida não é por acaso. Perdi a Call Me, mas ganhei a F*cking, e acho que fiquei com mais força, sem dúvida alguma”, diz.
A última fase, o retornar, aconteceu associada ao marketing de influência. Não só Luís Borges tem a sua presença nas redes – com mais de 230 mil seguidores no Instagram – como também tem “a sorte de ter amigas muito boas”. A campanha de lançamento da marca foi protagonizada por Sara Sampaio, Rita Pereira, Ana Sofia Martins, Margarida Corceiro, Raquel Strada, Jéssica Silva, Bruna Gomes, Nenny e Lola Maria. Juntas, têm cerca de 19,6 milhões de seguidores apenas no Instagram.
“Todas as marcas vivem de influenciadores. Os resultados são ótimos, elas vendem, cada uma na sua área. Eu já as tinha na Call Me Gorgeous, voltaram porque para mim faz sentido manter as mesmas pessoas. Além de serem minhas amigas, eu revejo-me em muitas situações da vida delas. E, como é óbvio, elas são importantes na minha marca porque me dão resultados positivos e vendas”, afirma Luís.
No que às vendas diz respeito, cerca de 70% têm origem no online e 30% na loja física.
Por trás da estratégia de marketing está o trabalho de uma equipa em conjunto com Luís Borges. O objetivo passa por alguma ousadia e a criação de impacto. “Houve uma campanha que eu fiz na Call Me Gorgeous: Love is Love. Eram casais aos beijos, e houve uma polémica porque havia um casal de drags. Mas é isso que eu quero, criar sensações nas pessoas. Acho que, se nós tivermos uma marca e não criarmos sensações nas pessoas, não vale a pena. Se formos por aquilo que é muito seguro, a mim não me dá pica, sem dúvida alguma”, diz.
A moda
“É tão importante mostrar que Portugal é bom na moda, e temos ótimos criadores”, defende Luís.
Só que há dois problemas no panorama nacional. Por um lado, da parte do consumidor, que continua a valorizar mais aquilo que é feito lá fora. “O público português, às vezes, prefere comprar uma camisola que seja da Gucci a, se calhar, comprar um fato Luís Carvalho. Porque acha que o fato Luís Carvalho é muito caro, mas a verdade é que, se calhar, tem mais qualidade”, explica. Por outro lado, um pouco de falta de ousadia da moda em Portugal.
Se falarmos em marcas mais pequenas, é possível adicionar ainda mais problemas à lista: a falta de apoios e o pouco espaço que lhes é dado. “É difícil quando somos uma marca pequena. Muitas marcas internacionais vêm produzir cá e metem-nos um bocado para trás. É mau para nós, porque, se nós estamos em Portugal, acho que devíamos ser apoiados pelo que é português”, afirma.
E depois o lado mais pessoal: a expectativa e a pressão. Por ser uma figura pública, Luís acredita que a expectativa do público é que o sucesso e os resultados estejam garantidos, quando a realidade é que a evolução da marca tem sido passo a passo, não aconteceu de forma instantânea. Toda esta expectativa das pessoas aumenta a pressão para o designer.
“Hoje eu lido bem [com a expectativa do público], mas é sempre aquela coisa de se sentir a pressão. Acho que é bom quando sentes a pressão e não tens nada por garantido, mas ao mesmo tempo é um bocado triste quando não te dão valor e tu mereces. Acho que é mais por aí”, explica.
Mas Luís tem muitos anos disto. Um percurso longo na moda, que começou como manequim e segue agora como manequim e designer. Conhece a moda por dentro e por fora, e o desejo de continuar a trabalhá-la é maior do que qualquer problema.
“Sempre gostei muito de moda, de roupa, de coisas diferentes, de novos designers. E o meu sonho era ter uma marca, sem dúvida alguma. Se acho que a minha marca está onde eu queria que estivesse, não, eu quero mais. Quero tornar a marca internacional e não ser só uma marca de acessórios, mas ser algo lifestyle. E ter mais coisas associadas a ela: roupas, malas, velas. Que fosse um restaurante, um bar, várias coisas. Mas tenho a certeza de que, se falarmos daqui a dois ou três anos, já vamos ter mais novidades”, conclui Luís.
(Artigo publicado na edição outubro/novembro 2024 da Forbes Portugal)