Quando percebeu que tinha as qualidades necessárias para ser um bom perfumista?
Desde miúdo que os cheiros e aromas me fascinavam e me marcaram. Como acontece com muitos, deixei essa paixão adormecida em prol de atividades e ocupações mais “sérias” até ao dia em que, já com a vida profissional organizada, decidi rumar a Paris para durante dois intensos anos me formar como perfumista. Aí percebi que a par do interesse, gosto e obsessão com os aromas, o mais importante era a ter a noção estética de harmonização de diferentes aromas e a capacidade de memorização do maior número possível de matérias-primas. A primeira já a tinha em mim, a segunda adquiri-a na formação.
Como conciliou a sua formação na área da comunicação e do design gráfico e a arte da perfumaria?
Curiosamente, a minha decisão em procurar formação em composição de perfumes surge da minha atividade enquanto consultor na criação e gestão de marcas, no âmbito da BLUG, onde desenvolvi uma abordagem multisensorial para marcas. Tendo a expressão olfativa um papel incontornável na territorialização de uma marca, decidi que nesse layer tinha que ser eu a pôr a mão na massa e lá fui para Paris. Recordo-me que, quando fui pela primeira vez, tinha acabado de vender um projeto a uma grande marca nacional e, apesar de ainda não saber nada de como fazer um perfume, sabia que tinha que voltar com uma proposta vencedora. E a verdade é que no regresso, trouxe comigo a minha primeira composição, felizmente aprovada pelo cliente.
O que sentiu quando se tornou no primeiro português a pertencer à Société Française des Parfumeurs?
Foi uma consequência natural do meu percurso e formação na Cinquième Sens, em Paris. Uma escola que já formou centenas de perfumistas e onde aprendi tudo o que sei com perfumistas incríveis como a Anne-Sophie Behaghel ou Amélie Bourgeois, que hoje têm a Flair Paris. Após concluir a minha formação, a diretora da escola propôs-me para membro, com o patrocínio de mais dois membros ativos. Foi o culminar feliz de um percurso de descoberta muito especial.
Como é que desenvolve o processo de criar uma identidade olfativa para marcas e empresas? Onde se inspira?
Um perfume é uma história. Quanto melhor a história, mais fácil se torna revelá-la num aroma. O processo é o mesmo, seja para criar um perfume para uma pessoa ou para uma marca ou empresa. O primeiro passo é conhecer a pessoa, a marca ou empresa profundamente e perceber qual é a sua história e quais as características únicas que a distinguem. Passo seguinte é encontrar os melhores aromas que ajudem a traduzir olfativamente essa identidade e num equilíbrio desafiante, construir uma composição harmoniosa e alinhada com o briefing inicial. Da mesma forma que não existem duas marcas, empresas ou pessoas iguais, o aroma deve corresponder a essa uniqueness.
Qual foi, ou é, o maior projeto ou ambição da sua vida?
O maior projeto é, sem dúvida, a minha família. Num tempo em que tudo é descartável e de consumo rápido, construir e manter uma família, com as solicitações e desafios que se nos colocam constantemente no caminho, é algo que transcende qualquer conquista profissional.