“As jogadoras nunca pedem igualdade salarial, o que as jogadoras pedem é o mínimo, é o básico: é ter as mesmas condições ou o mesmo acesso que o futebol masculino tem, seja a nível de departamentos médicos, de campos, roupa, material, oportunidades, seja o que for. Isso, sim, é a nossa grande luta”.
A declaração é de Tatiana Pinto, jogadora do Brighton e da seleção nacional, numa entrevista para a capa digital de julho de 2023 da Forbes Portugal. Mas poderia ser de hoje. Ou do último fim de semana. É que a luta da jogadora portuguesa continua a mesma.
No passado sábado, a equipa feminina do Sporting foi a casa do Marítimo para o jogo da 20.ª jornada. Numa altura em que Sporting (na segunda posição) e Benfica (na primeira) estão separados por apenas dois pontos na luta pelo campeonato, cada jogo é decisivo para as contas do título. Só que, desta vez, foi para fora de campo, especificamente no balneário do Estádio da Imaculada Conceição, que se voltaram todas as atenções.
Num vídeo publicado, e mais tarde eliminado, nas redes sociais, Andrea Norheim, jogadora do Sporting, mostra o balneário atribuído à equipa e escreve: “Quando o balneário parece uma prisão”. Nas imagens fica clara a deterioração do espaço, nas paredes, no chão, na falta de porta na casa de banho ou até devido à presença de uma barata morta perto dos chuveiros.
Fátima Pinto, jogadora do Sporting e da seleção nacional, foi uma das que reagiu ao sucedido e deixou claro que, apesar de as imagens terem chocado muitas das pessoas que as viram, nada disto é uma surpresa para as jogadoras: “Há anos e anos que nos equipamos em balneários como este. Não são um nem dois, mas vários. Muitas vezes sem água quente, portas, espaço. Mas ‘não fica bem’ partilhar nas redes sociais. O que não fica bem é termos condições destas”, escreveu na rede social X.
A mesma coisa que Jéssica Silva, jogadora do Benfica e da seleção nacional, contava à Forbes na capa digital de julho de 2023: “Nós ainda estamos aquém de termos um campeonato profissional. Antes de podermos ser todas profissionais, têm de ser dadas condições para a prática da modalidade, e sabemos que nem todos os clubes têm acesso às condições que por exemplo o Benfica tem. Continua a haver equipas que dividem campo com os rapazes ou têm de esperar que eles treinem para depois treinarem elas. Continua a haver equipas que só podem treinar às 21h, jogadoras que têm de sair dos trabalhos às tantas da noite para depois irem treinar. Há jogadoras que ainda se equipam em contentores”.
Marítimo responde às jogadoras
Confrontados com as imagens e as reações dos adeptos, a direção do Marítimo emitiu uma nota de esclarecimento onde pediu desculpas, mas defendeu que não se deve confundir “deterioração com limpeza, pois essa esteve sempre presente”.
“O Club Sport Marítimo pede as mais sinceras desculpas pelo facto do balneário do Estádio da Imaculada Conceição, uma infraestrutura com mais de 40 anos, não apresentar as condições ideais ou aquelas que o clube gostaria que tivesse. Antes do jogo deste sábado (27/04), entre Marítimo e Sporting, para a Liga BPI, o balneário teve uma vistoria técnica e, apesar do estado visível de deterioração, o mesmo encontrava-se em condições para receber o adversário no que concerne ao seu estado de limpeza”, lê-se no comunicado.
“A Direção do Marítimo, que está há cerca de seis meses à frente dos destinos do emblema verde-rubro, herdou este espaço nestas condições aquando da tomada de posse e, embora entenda que não reúna as condições ideais, ainda não foi possível intervir no sentido de melhorar o estado do balneário conforme desejado, porém, está empenhada em resolver este e outros assuntos. O Club Sport Marítimo através dos seus valores e ideais não se revê neste tipo de abordagem e não admite que este episódio seja encarado como ‘um ato de discriminação’”, continua.
Contactada pela Forbes Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol remeteu a sua resposta para o comunicado do clube do Funchal e optou por não acrescentar mais nada.
A Forbes Portugal contactou também o Sporting, que não respondeu até ao momento da publicação deste artigo, e o Marítimo, que não acrescenta mais ao comunicado em cima mencionado.