Em 2021, no Dia Internacional da Mulher o tema foi o #choosetochallenge. Neste contexto, a Federação Internacional dos Hospitais desafiou os seus membros a partilhar como estávamos a celebrar este dia e a trabalhar para desafiar as disparidades de género nas nossas organizações ou área de trabalho.
Optei por desafiar as “Mulheres na Tecnologia” dentro da área da saúde. Pode parecer estranho, mas definitivamente não o é, são cada vez mais necessárias competências transversais para o alcançar uma verdadeira transformação tecnológica na sociedade, reforçando que o digital é não desumanizar e virtual não significa distante. E estas competências fazem parte de um ADN feminino.
Nesta era cada vez mais tecnológica, o facto de as mulheres parecerem superar os homens na inteligência emocional, assume uma importância crucial no capítulo da liderança. Os homens tendem a ter um melhor desempenho quando o foco está na gestão de tarefas, enquanto as mulheres tendem a ter um melhor desempenho quando o foco está na gestão das pessoas. E como se espera que a Inteligência Artificial automatize a maioria dos componentes de liderança orientados para as tarefas, podemos esperar que os melhores gestores de pessoas sejam procurados, e abrir espaço para mais mulheres em cargos de liderança. E temos a nosso favor duas forças inabaláveis: intuição e paixão. E muitas vezes na gestão de topo somos confrontados com situações que exigem resposta imediata e em que o bom senso e a intuição são as ferramentas de que dispomos naquele momento.
Foram precisamente as características pessoais de empatia, proximidade, rapidez nas tomadas de decisão, reconhecimento, suporte emocional, liderança pelo exemplo, que fizeram com que as Instituições experienciassem de forma diferente a pandemia e se adaptassem melhor, ou pior, pela capacidade de motivar as suas pessoas e equipas e capacidade de continuar a fazer acontecer, mesmo em cenários exigentes e adversos como este.
Felizmente em Portugal, são várias as empresas neste setor que são atualmente lideradas por mulheres de excelência e competentes, mas poderíamos ser muitas mais.
Em particular no meu hospital, o Santo António, mais de 52% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Temos uma mulher também na liderança dos Sistemas de Informação e ao nível do Board tenho sido eu a liderar todos os processos de mudança cultural e de transformação digital.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as mulheres representam 70% dos 43 milhões de trabalhadores no setor da indústria global da saúde. No entanto, ao nível executivo, apenas 25% dos cargos de liderança na área da saúde são ocupados por mulheres.
O mundo digital proporciona de longe um potencial muito maior para promover a igualdade de género, ser menos preconceituoso e mais inclusivo do que o mundo “tradicional” e, no entanto, o mundo digital ainda é maioritariamente liderado pelos homens. Vamos juntas afincadamente mudar isto?
Rita Veloso
Vogal Executiva do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de Santo António