Com três fábricas na zona do Porto, a marca 100% portuguesa de mobiliário premium Laskasas inaugurou uma loja em Londres, numa das zonas mais dinâmicas em termos de design e decoração de Londres, no Chelsea Design Centre.
Em entrevista à Forbes, Celso Lascasas, CEO da empresa refere que a estratégia de crescimento da firma passa pelo reforço da internacionalização.
Nesse domínio, o plano está focado nos EUA, onde há intenção de abrir uma primeira loja, com um parceiro americano, ainda no primeiro trimestre de 2023. O local escolhido é a cidade de Nova Iorque.
A pandemia teve impacto no volume de faturação da Laskasas e tiveram que fazer algum tipo de ajustes? Qual é a situação atual?
Celso Lascasas (CL): A pandemia teve impacto de forma transversal em todos os segmentos da economia nacional e claro que não ficámos de fora. Tomámos a decisão de parar a produção durante um período de tempo, pois a nossa principal preocupação foi a saúde e o bem-estar dos nossos colaboradores e suas famílias. As lojas também estiveram encerradas durante 4/5 semanas em 2020.
Tendo em conta o panorama que se vivia, fizemos a previsão de uma quebra de 30-35% na faturação anual de 2021. Essa quebra verificou-se, de facto, no primeiro semestre do ano, mas terminámos o ano com uma subida de 14%, comparativamente a 2020. Podemos até dizer que os anos 2020 e 2021 acabaram por se revelar os nossos melhores anos. Claro que este resultado se deve a alguns aspetos e mudanças que tornámos reais e acelerámos neste período, com destaque para a loja online, um projeto já em curso, mas que se tornou uma prioridade no contexto da pandemia. Fizemos um claro investimento neste canal e em abril/maio de 2020, alcançámos valores incríveis.
A faturação de 2020 foi de 23M€ e a faturação em 2021 foi de 27M€. A loja online, um projeto já em curso, tornou-se uma prioridade no contexto da pandemia.
A Laskasas está prestes a fazer vinte anos: qual é a estratégia para o crescimento da empresa que está a ser seguida atualmente?
CL: Pretende-se que a estratégia da marca se mantenha alinhada com o que temos feito e trabalhado até aqui, sempre no sentido de gerar qualidade e crescimento em Portugal e além-fronteiras. Em termos nacionais, a nossa aposta continua forte na qualidade, na personalização, na escolha dos bons materiais e excelente mão de obra. Internacionalmente, a nossa ambição é crescer para novas geografias estratégicas, que nos permitam levar o trabalho de Portugal além-fronteiras, reforçando um posicionamento que se pretende premium, junto de novos públicos. Os 20 anos assinalam, efetivamente, um marco, que deixa para trás uma história de trabalho e de persistência e abre, no futuro, oportunidades para mais 20 anos de sucesso. É com este princípio em mente que queremos avançar para mais uma década.
“A nossa ambição é crescer para novas geografias estratégicas, reforçando um posicionamento que se pretende premium, junto de novos públicos”
A marca está presente em quantos países? Que países são esses?
CL: Estamos presentes em vários países do mundo. Em 2019 inaugurámos a primeira loja internacional, em Marbella (Espanha). Seguiram-se Luanda (Angola), Punta Cana (República Dominicana) e, mais recentemente, Londres (Inglaterra), num dos bairros mais estratégicos para as áreas do design e decoração – Chelsea Design Centre, localizado na zona de Cremorne Estate. Além de todas as lojas, contamos com o apoio de diversos parceiros por todo o mundo, tal como designers e gabinetes de arquitetura.
Qual a razão da escolha da República Dominicana, um destino aparentemente menos óbvio para uma empresa de mobiliário portuguesa?
CL: Começámos a perceber que havia procura pela nossa marca neste mercado. Essa procura, que acreditamos resultar maioritariamente da qualidade dos nossos produtos, traduziu-se em clientes regulares e fidelizados à Laskasas. Foi essa procura e fidelização que levou à abertura de uma loja em Punta Cana.
A exportação representa que percentagem das receitas da Laskasas? Essa percentagem tem crescido ou tem-se mantido estável?
CL: Atualmente, a Laskasas exporta para mais de 55 países, com vários parceiros e showrooms em todo o mundo. Dos seus principais mercados internacionais, podemos destacar o Reino Unido, o Médio Oriente, França, Espanha e até os Estados Unidos.
Em 2021 a exportação representou cerca de sete milhões de euros para a marca.
Qual o vosso principal mercado exportador?
CL: Em 2021 a exportação representou cerca de sete milhões de euros para a marca, tendo sido Médio Oriente o principal país de exportação (cerca de 5%).
Sendo a Laskasas uma marca portuguesa, Angola é o único país da CPLP em que estão presentes: porque razão?
CL: A Laskasas entrou no mercado angolano há seis anos e, na altura, foi feita uma análise a todos os países da CPLP e este revelou-se aquele que apresentava melhores condições para abraçar a marca. Inclusive, tal como o caso de Punta Cana, a necessidade surgiu precisamente pelo crescimento da procura e pela quantidade de clientes fidelizados que começámos a ter nesta geografia.
Qual a estratégia para os restantes países da CPLP? Está pensada a entrada noutros países de língua oficial portuguesa?
CL: Para já não. Neste momento, o plano de internacionalização da Laskasas está focado nos EUA, um mercado que acreditamos ter muito potencial.
“O plano de internacionalização da Laskasas está focado nos EUA, um mercado que acreditamos ter muito potencial”
Chegaram recentemente a Inglaterra. Qual o motivo da escolha de Inglaterra?
CL: Inglaterra, em particular, a cidade de Londres é uma geografia bastante dinâmica no que respeita às áreas da arte/cultura, design e decoração. Quisemos, por isso, inaugurar uma loja Laskasas numa das zonas mais relevantes de Londres, mostrando a nossa marca 100% portuguesa em locais estratégicos onde sabemos que cada peça será seguramente valorizada.
A loja de Londres é, maioritariamente, direcionada ao segmento B2B, e foca, acima de tudo, nos materiais e nos acabamentos, para que os clientes locais possam percecionar a qualidade dos produtos e personalizá-los em loja, com o apoio da nossa equipa. Termos a nossa nova coleção presente numa das capitais europeias mais agitadas em termos empresariais e culturais é também uma forma de reforçarmos o nosso posicionamento e os nossos valores de marca junto de outros públicos. Esperamos que o nosso trabalho desperte a curiosidade de todos os profissionais e fãs de decoração e design que, diariamente, se movem pelo Chelsea Design Centre.
Quais os objetivos da entrada em Inglaterra? De que forma é que a marca estará presente: através de uma loja? O vosso plano prevê mais aberturas em Londres?
CL: Para já não temos mais aberturas em Londres planeadas. A abertura no Chelsea Design Centre é recente e, portanto, ainda temos um longo caminho pela frente. Antes de traçarmos novas aberturas, queremos consolidar a marca com este primeiro showroom.
Qual o investimento feito para lançar a marca em Londres?
CL: Falamos de um investimento de 375.000 GBP, aproximadamente 400.000€.
O posicionamento que a marca tem no Reino Unido será no sentido de oferecer produtos premium, dado que a loja situar-se-á na zona de Chelsea?
CL: Em qualquer parte do mundo, o nosso propósito é acrescentar valor pela qualidade e pela capacidade de dar a melhor resposta às necessidades e gostos de cada público internacional. Quando apostamos num determinado mercado, apostamos numa oferta singular, de qualidade, capaz de igualar ou até ultrapassar os standards que esse mercado nos apresenta. Sabemos que a zona de Chelsea é conhecida por atrair marcas e pessoas com reconhecido talento artístico, aliciando naturalmente públicos que procuram também este tipo de posicionamentos. Assim, acreditamos que a nossa oferta vai ao encontro deste target, oferecendo uma mais valia significativa e mostrando uma oferta 100% portuguesa ao lado de grandes insígnias internacionais.
“A nossa oferta [na zona de Chelsea] mostra uma oferta 100% portuguesa ao lado de grandes insígnias internacionais.”
Que tipo de produtos fazem parte do portefólio da Laskasas em Inglaterra?
CL: A loja de Londres é a primeira internacional na qual estão disponíveis artigos da Nova Coleção’22, estão em destaque algumas das peças como a Base de TV Norman, o Carrinho de Chá Pitt e a Estante Biel, entre outros ícones da marca como o Sofá Wellington ou o Cadeirão Ambrose. A nova coleção oferece uma combinação ímpar de materiais, que vão desde as madeiras naturais, com veios marcados, aos tecidos mais macios e graciosos. Os metais são, também, uma das mais fortes apostas deste catálogo, aliando cores clássicas aos mármores encantadores.
A recetividade em Londres está dentro das expectativas que tinham traçadas? Abaixo ou acima?
CL: A loja de Londres é ainda muito recente, mas de uma forma geral podemos afirmar que a recetividade tem sido muito boa. Por outro lado, o Reino Unido é também o nosso segundo melhor mercado em termos de exportação, por isso as expectativas eram elevadas e estávamos a contar com essa recetividade positiva.
Estão a lançar-se em Londres quando o Reino Unido saiu da União Europeia. Não estão em contraciclo nesse investimento?
CL: O Reino Unido foi, desde 2019, o nosso melhor mercado internacional. Foi ultrapassado em 2021 pelo Médio Oriente, mas os indicadores que este mercado nos continua a dar são muito positivos, pelo que nada nos faz atualmente tirar conclusões relacionadas com a saída do país da União Europeia.
“O Reino Unido foi, desde 2019, o nosso melhor mercado internacional. Foi ultrapassado em 2021 pelo Médio Oriente”
O fabrico português, ainda com muitas fases de produção hand made, é o principal argumento que apresentam lá fora? Que outros?
CL: Não será o único, mas numa altura em que os processos estão cada vez mais mecanizados, começamos a perceber que há uma valorização do processo manual, pois humaniza o trabalho das marcas, tornando-o naturalmente mais especial. Em particular na Laskasas, contamos com uma equipa especializada, muito qualificada, para assegurar que todos os nossos produtos são desenvolvidos com a precisão e o cuidado necessários para oferecer o nível de qualidade superior, que nunca abdicamos.
A internacionalização passa também pela abertura de fábricas noutros países?
CL: É uma decisão que depende dos mercados para onde optarmos por ir, ou seja, se determinado mercado tem características e especificidades que obrigam à criação de peças particulares, diferentes em dimensão ou forma, daquelas que produzimos em Portugal, então poderemos equacionar a necessidade de criar uma unidade de produção nesse mercado. Neste momento ainda não aconteceu, mas é uma possibilidade real, que está em cima da mesa, se o negócio assim o exigir.
Em termos de internacionalização desta marca 100% portuguesa, quais são os próximos mercados que serão explorados?
CL: Temos intenção de abrir a nossa primeira loja, com um parceiro americano, ainda no primeiro trimestre de 2023. O local escolhido é a cidade de Nova Iorque e já estamos a trabalhar nesse sentido. Atualmente, vendemos para lá em dois diferentes espaços, mas queremos alavancar o negócio e sabemos que este será um grande passo. Estamos a estudar uma possível abertura de loja por isso de momento estamos a procurar conhecer os interesses, necessidades e particularidades deste mercado e dos seus públicos. Assim podemos avaliar o nível de desafio ao qual temos de dar resposta. Será para nós um passo muito estratégico.
O setor hoteleiro ainda tem uma expressão reduzida no vosso volume de faturação? O que está pensado para dinamizar mais este canal?
CL: Sim, o setor hoteleiro representa 7% da nossa faturação, mas o foco continua a estar nos projetos residenciais. É neste segmento que temos, e que queremos continuar a ter, uma presença mais forte.
Em termos de fábricas, quantas unidades têm neste momento e onde? Está previsto algum investimento em Portugal ao nível industrial?
CL: Atualmente, temos três unidades industriais com mais de 450 funcionários e de 27.000 metros quadrados. Em termos industriais, a Laskasas produz mobiliário e artigos de decoração para o lar, a Domkapa está especializada em estofos e a Serralux no fabrico de mobiliário em metal (inox, aço, cobre, latão e ferro forjado).
Para já não temos prevista a abertura de mais nenhuma unidade fabril em Portugal. No entanto, num futuro muito próximo, o Pólo que serve, atualmente, de produção à Laskasas terá de ser alargado porque o espaço começa a ser escasso. Ainda não sabemos qual a área que terá de ser acrescentada à existente, mas seguramente haverá esta expansão.