Lagos da Amazónia central registaram, durante a seca de 2023, “níveis excecionalmente elevados” das temperaturas diurnas da água, que ultrapassaram os 37 graus Celsius (°C), indica um estudo agora divulgado. Num comunicado sobre o estudo, a Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês) assinala que “as temperaturas extremas tiveram impactos que variaram desde o isolamento de comunidades ribeirinhas até à morte em massa de peixes e botos-cor-de-rosa (golfinhos fluviais) ameaçados de extinção”. A investigação é publicada nas vésperas do início da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP30), que decorre na cidade amazónica de Belém, no Brasil, de 10 a 21 deste mês.
A análise das medições da temperatura da água em 10 lagos da Amazónia central durante a seca de 2023 mostra que cinco deles registaram um aquecimento extremo, relatando os cientistas que a “onda de calor e seca sem precedentes” transformou os lagos da Amazónia “em bacias rasas e em ebulição”. Os níveis de água desceram para “mínimos históricos” e num caso a temperatura da água do lago atingiu mais de 40 °C.
Os ecossistemas aquáticos de todo o mundo estão a aquecer rapidamente, prevendo-se que o aquecimento continue a aumentar com as alterações climáticas.
“Embora este estudo apresente dados de 2023, em setembro e outubro de 2024 ocorreu outra seca extrema na Amazónia central com baixos níveis de água recorde e aquecimento acentuado da água dos lagos, associados a condições hidrológicas e meteorológicas semelhantes às observadas em 2023”, indicam o hidrologista Ayan Fleischmann e os seus colegas, citados no comunicado. Os cientistas, que se apoiaram em dados obtidos por satélite e em modelos hidrodinâmicos, consideram que “uma combinação de níveis de água extremamente baixos, forte aquecimento solar, ventos calmos e alta turvação da água criou as condições ideais para ondas de calor severas nos lagos da Amazónia”.
Os resultados indicam que o fator mais crítico para o aquecimento extremo, mais que a temperatura do ar, terá sido a baixa velocidade do vento. “Com pouco vento, houve menos perda de calor por evaporação e arrefecimento noturno, permitindo que os lagos ficassem progressivamente mais quentes sob a luz solar intensa e céus persistentemente limpos”.
O Lago Badajós, perto da localidade de Belo Horizonte, no estado do Amazonas, perdeu 90% da sua área.
Toda a coluna de água de dois metros (entre a superfície e o fundo) do Lago Tefé, na região do Médio Solimões, chegou aos 41 °C, “mais quente do que numa banheira de hidromassagem”. Este foi um dos lagos da região que diminuíram drasticamente durante a seca de 2024, quando perdeu 75% da sua área. O Lago Badajós, perto da localidade de Belo Horizonte, no estado do Amazonas, perdeu 90%.
O estudo mostra também que os lagos da Amazónia têm aquecido rapidamente, entre 0,3 a 0,8 °C por década nos últimos 30 anos, taxas superiores à média global. As conclusões da investigação “confirmam uma tendência preocupante de aquecimento nos lagos e rios da Amazónia, que são pouco monitorizados, e prenunciam impactos climáticos crescentes nos ecossistemas de água doce tropicais de todo o mundo”. Segundo o comunicado, os ecossistemas aquáticos de todo o mundo estão a aquecer rapidamente, prevendo-se que o aquecimento continue a aumentar com as alterações climáticas.
(Lusa)





