Durante a Web Summit, a atriz Júlia Palha, ao lado do ator Ricardo Pereira e da locutora Madalena Costa, falou sobre como usar as plataformas digitais para criar impacto na sociedade: da influência junto das gerações mais novas até à forma como se pode incentivar a uma mudança que vá contribuir para um mundo mais positivo.
No seguimento desta conversa, a Forbes falou com a atriz sobre o tema.
Consegues identificar o momento específico em que percebeste que o que publicas nas redes sociais pode influenciar alguém?
A minha plataforma sempre cresceu de uma forma bastante coerente, portanto foi fácil ir tendo essa consciência. Eu comecei a trabalhar como atriz há 10 anos, que foi mais ou menos quando as redes sociais começaram a ter o impacto que tinham, principalmente o Instagram, portanto eu fui sempre sendo relativamente consciente. Acho que quando decidi criar a minha página de textos, que é o Kindly Júlia, e comecei a receber muitas respostas às coisas que eu escrevia, que eram muito mais pessoais, é que percebi: Se nesta página onde tenho 10 mil seguidores estas coisas mais pessoais têm este impacto, nem imagino as coisas profissionais na minha página pessoal onde tenho quase 500 mil seguidores. Mas acho que é uma percepção que eu tenho diariamente, às vezes até na maneira como sem querer se diz uma coisa um bocadinho fora do sítio, que não era bem como querias ter dito, ou até nas notícias que nem sempre são tão contextualizadas, é nesses pequenos momentos que vais tendo essa perceção, mas no dia a dia não paro para pensar sobre isso.
O que é que tentas passar à tua audiência?
Acima de tudo, eu não escolhi ser uma figura pública, a minha profissão é uma profissão que está ligada a isso e que me traz visibilidade. Com a minha plataforma as pessoas conseguem perceber que eu sou bastante reservada, eu gosto de partilhar o meu trabalho, os projetos que estou a fazer e é essa a principal função das minhas redes. Mas não posso mentir que tenho uma grande atenção pelos temas da saúde mental e empoderamento feminino. Acabo por passar um bocadinho aquilo que é a minha visão disso nos meus textos e imagens que partilho, numa tentativa de fazer os jovens sentirem que não estão aqui sozinhos, que todos temos medos, todos temos ansiedades, temos receios em relação ao futuro e que está tudo certo, é só continuarmos a fazer o nosso caminho. E o lado mais do empoderamento feminino, temos que nos amar e respeitar e não podemos ser as nossas piores inimigas, as mulheres principalmente umas com as outras. É mais por aí que tento comunicar.
Alguma vez sentiste que devias falar sobre um tema, tendo em conta o teu número de seguidores, mesmo não estando confortável com ele?
Não, porque por norma não gosto de expressar opiniões que possam ser mais polémicas nas minhas redes sociais, exatamente por causa disso. Acho que todos temos direito a uma opinião e acredito que às vezes o excesso de opiniões e desinformação nas redes, como disse na minha talk com o Ricardo, cria extremismos e afastamentos das pessoas, quando o diálogo às vezes pode estar no centro. Não é preciso tu estares a defender um lado ou outro, tu podes concordar com algumas coisas de um lado e podes concordar com algumas coisas de outro. Às vezes para evitar más interpretações ou conflitos acabo por não dar tanto a minha opinião no que diz respeito a assuntos que eu sei que são mais polémicos, quer políticos, económicos, sociais. Ainda estou a tentar perceber o meu caminho, mas tenho um bocadinho de medo do excesso de vozes, às vezes mal informadas, que há hoje em dia na internet.
É difícil gerir a linha entre a Júlia que tem as suas próprias opiniões e a Júlia que é atriz e que tem influência?
O público que me acompanha já percebeu que este também é o meu registo, não sou a voz mais ativa, mas quando alguma coisa me marca de facto, faço questão de comunicar. Tenho feito essa gestão o mais equilibrada que consigo, mas sempre genuína e autêntica, que acho que é mesmo o mais importante. Acho que se não tentares fingir, se não fingires que um tema te importa só porque agora está na moda toda a gente partilhar um certo tema… Eu não vou partilhar porque está toda a gente a partilhar, eu só vou partilhar se me interessar. Tu seres essa pessoa coerente e autêntica é que faz com que os públicos fiquem, gostem e acompanhem a tua carreira e não uma fase, um trabalho específico que estás a fazer. Eu quero construir uma carreira, quero que as pessoas saibam quem é a Júlia Palha e que a acompanhem até ao fim da sua carreira.
A plataforma que se escolhe para comunicar tem alguma influência?
Eu disse ao Ricardo ali na nossa conversa que uma das coisas mais importantes é nós não sermos resistentes e nos adaptarmos, mas a verdade é que as plataformas são todas muito diferentes e há zonas onde as pessoas estão mais confortáveis. Se calhar uma pessoa que está mais confortável na escrita vai-se defender mais no Twitter, uma pessoa que esteja mais confortável com a exposição, vídeo, conversa está mais confortável no TikTok. Eu confesso que o Instagram é a área onde estou mais confortável, porque acredito que há uma exposição mais contida. No TikTok a exposição é mais real, é mais ao minuto, e com esse tipo de exposição eu não estou tão confortável. Mas é uma coisa natural, não é uma coisa que eu decidi ‘agora estou mais presente no Instagram’, não, é onde me sinto mais confortável e como eu quero ser autêntica fico na zona onde estou confortável.
Que dica deixas a outras pessoas com seguidores no digital para que o impacto delas seja o mais positivo possível?
Como disse, somos tantas vozes com poder e com número hoje em dia que não precisamos de estar todos atrás de todas as causas. Acho que se as pessoas forem autênticas, se emanciparem e usarem a sua voz para causas que lhes dizem algo de forma mais pessoal, acaba por ter um impacto muito mais significativo e verdadeiro. Acho que é dizer às pessoas que não têm obrigação de ter um impacto, que não têm obrigação de ter uma voz, que não têm obrigação de defender causa nenhuma, porque aquilo que nós somos nas redes depois pode não ter nada a ver com o que nós somos no nosso dia-a-dia. Eu posso não partilhar nada sobre uma certa instituição e doar dinheiro para ela todos os meses. Esta necessidade de mostrar e não de ser, como dizia o Ricardo na talk, que as redes sociais vieram implementar, não precisamos de provar nada. É seres, estares presentes e defenderes as causas que realmente te importam. Mas sim, claro que se alguma coisa mexe contigo e tens uma voz, deves usá-la.