Na conferência Doing Business Angola, a experiência dos grupos empresariais foi tema de conversa entre três grandes nomes do mercado. Numa conversa moderada por Nilza Rodrigues, diretora da Forbes Portugal e Forbes África Lusófona, José Carlos Pinto Nogueira, CFO da Mota-Engil, esteve acompanhado por Diogo Caldas, CEO da Refriango, e Rui Miguel Nabeiro, CEO do grupo Nabeiro-Delta Cafés.
A Mota-Engil nasceu em Angola e permanece no país até aos dias de hoje. Foi em 2000 que Manuel António da Mota deu os primeiros passos no projeto que se viria a espalhar por 23 países, divididos entre a Europa, África e América Latina. Neste cenário, o primeiro desafio é fácil de identificar: Como é que a empresa garante a longevidade desta ligação?
“A história de Angola é a história das nossas vidas”, garantiu o CFO. “A nossa história nasce em Angola e costumamos dizer que a primeira internacionalização foi para Portugal. A nossa história de sucesso prende-se com um engajamento a todos os níveis, com a sociedade, com a cultura, com o país. Angola, tal como todos os outros mercados, se for cuidada, respeitada, se houver um investimento sério, é um mercado muito interessante”.
Os desafios que a Europa enfrenta e Angola não enfrenta são uma das provas dessa atratividade do mercado. “Quais são os grandes desafios da velha Europa? Crise da mão de obra, crise energética, necessidade de terreno para se desenvolver atividade. África em geral, Angola em particular cumpre os três. Angola é um país de grandes oportunidades e um país de futuro”, disse José Carlos.
Ainda assim, os constrangimentos existem. O facto de estar presente em Angola há vários anos levou o grupo Mota-Engil a passar por diversos momentos do país no que à capacitação do capital humano diz respeito.
“As empresas de hoje não são mais do que duas coisas: pessoas e a marca que essas pessoas construíram. O tema do capital humano numa empresa com 45 mil colaboradores como é o grupo Mota-Engil, entre os quais cerca de 8 mil estão em Angola, é fundamental para a gestão de uma companhia que está em permanente crescimento”, realça o CFO.
O grupo optou por encontrar uma solução interna, apostando na formação dos seus colaboradores. O bom funcionamento do projeto leva agora os funcionários do grupo em Angola e ficarem responsáveis por ajudar na preparação da entrada do grupo em novas geografias.
“Angola, hoje, posiciona-se no grupo como um fornecedor de capital humano para outros mercados. Temos gente de casa das mais diversas funções que vão fazer a abertura de novos mercados porque têm o ADN da empresa. Respondemos [ao constrangimento] criando internamente essa resposta”, afirmou.
A kwanza pode ser vista como outro constrangimento, tendo em conta a oscilação cambial. Optar pelos recursos locais tem sido a resposta da Mota-Engil. “96% dos nossos quadros hoje são locais, temos toda a frota de equipamentos local, os grandes consumíveis e muitos dos artigos complementares para a própria construção são produzidos nas nossas áreas industriais. Nós dependemos muito pouco de importações, esse é que é o verdadeiro investimento”, disse.
Para os negócios que estejam agora a planear entrar em Angola, empresas com a longevidade da Mota-Engil no país podem ter um papel importante nesse processo.
“Há um conjunto de players com esta longevidade com quem pode ser útil estabelecer parcerias na entrada no país para não cometer erros nas primeiras interações. Há um ditado popular que diz: Quem tem tenda que a entenda, se não que a venda. Tem de se cuidar dos negócios, investir, estar, desenvolver, ciar para se ter o devido retorno. A oportunidade está lá, o resto é trabalho”, concluiu.