Os jornalistas cumprem esta quinta-feira uma greve de 24 horas. É uma greve histórica, já que é a segunda paralisação em 42 anos. A primeira foi em 1982.
O Sindicato dos Jornalistas (SJ) destaca o facto de o jornalismo ser uma profissão bastante precária, com salários baixos que se confronta com inúmeras dificuldades.
“A precariedade é muito mais alta do que na generalidade dos outros setores, os salários são cada vez mais baixos e não temos progressões de carreira reiteradamente nos últimos 20 anos”, diz o presidente do SJ.
Para Luís Simões, o exercício do jornalismo degradou-se “de uma forma incrível”, com salários que “são mínimos” e uma “exigência para os jornalistas” que “é máxima”.
Luís Filipe Simões, em declarações à Renascença, declara que “hoje o jornalista tem de escrever, trabalhar a imagem e editar ao mesmo tempo. É tudo mais complexo e os salários em vez de subirem, descem”.
A última vez que tinha havido uma greve geral de jornalistas foi em 1982.
Esta paralisação não assenta, no entanto, apenas em exigências laborais, mas também no facto de o jornalismo neste momento em Portugal não ter quaisquer apoios.
O presidente do SJ afirma que a greve é um momento para o poder político e a sociedade olhar para o jornalismo e “passar das palavras aos atos. Não basta dizer que o jornalismo é um pilar da democracia. Temos que perceber que o momento é de emergência. Ou salvamos o jornalismo ou corremos sérios riscos a desinformação ganhar”.
O caderno reivindicativo da greve refere que as atuais condições são “um entrave ao próprio direito dos cidadãos de serem informados livremente”.
Um inquérito realizado no ano passado (Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal) concluiu que um terço da classe recebe entre 701 e 1000 euros líquidos por mês.
A profissão de jornalista é uma das profissões mais exposta à exaustão, aponta o Sindicato dos jornalistas, com base num inquérito efetuado.
O inquérito mostra ainda que 15% dos jornalistas dizem ser alvo de assédio moral; quase metade tem níveis elevados de esgotamento, com 38% a declararem ter problemas mentais decorrentes da profissão; e 48% sentem-se inseguros com a sua situação laboral.
Em termos de jornalistas freelancers, “por um artigo de investigação que demora meses, há jornais a pagarem 225 euros brutos, dos quais cerca de 40% são para impostos. Na área da Cultura, onde o regime freelancing impera, são 50 euros brutos por um texto de 2000 caracteres, que dá trabalho a pesquisar, a pensar e a escrever. A qualidade sai prejudicada e todos nós perdemos”, denuncia um grupo de 238 jornalistas subscritores de uma carta aberta.
“A precariedade é uma violência social e limita a nossa liberdade pessoal e profissional”, afirmam os jornalistas.
O Inquérito Nacional às Condições de Vida e de Trabalho dos Jornalistas em Portugal, estudo realizado por investigadores do Observatório para as Condições de Vida e Trabalho, da Universidade Nova de Lisboa, refere a existência de ambientes de trabalho tóxicos e identifica uma profissão marcada por sobrecarga laboral, degradação da qualidade do trabalho, dificuldade de conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, salários baixos e precariedade.
Números a destacar no estudo
- 48% do universo inquirido apresenta níveis elevados de esgotamento;
- 18% apresentam níveis de exaustão emocional que variam entre um nível muito elevado e extremamente elevado;
- 38% apercebem-se de problemas mentais decorrentes do próprio trabalho jornalístico;
- 15,1% declaram ser alvo de assédio moral, e a maioria destes (93%) declara ser alvo desse assédio por parte das chefias e/ou patrões, sendo uma parte (7%) por colegas
- Cerca de 50% dos jornalistas que responderam ao inquérito trabalham mais de 40 horas por semana e aproximadamente metade trabalha mais de dez horas semanais em períodos noturnos;
- Um terço dos respondentes considera que há um “desequilíbrio ruinoso” entre a vida pessoal e a profissional;
Sobre o perfil dos jornalistas:
- 52% são casados ou vivem em união de facto, 33% são solteiros, 14% são divorciados;
- A média de filhos é de 1,04, abaixo da média nacional de 1,38 filhos por mulher;
- 40% não têm filhos, 26% têm um filho, 27% tem dois filhos;
- 36% dão conta de que o salário auferido condiciona na prática profissional;
- 80% dos respondentes possui formação superior: 20% com bacharelato ou licenciatura pós-Bolonha; 34% com licenciatura pré-Bolonha, 11% com pós-graduação e especialização; 14% com mestrado integrado, 2% com doutoramento e 19% com ensino secundário. 7% estavam, na altura do inquérito, a estudar;
- Sobre a formação complementar, 59% dizem não ter tido, 12% sim, por iniciativa da empresa, e 29% por iniciativa própria;
Sobre precariedade e desafios nas redações:
- 54% estão inquietos com a precarização da produção jornalística atual;
- 82% dizem que o ritmo de trabalho transformou as rotinas produtivas;
- 49% admitem ter vivido situações de censura ou autocensura;
- 52% foram bloqueados no acesso às fontes por autoridades do Estado, mercado ou sociedade civil;
- 42% foram confrontados com problemas éticos por causa do trabalho;
- 48% sentem-se inseguros com a sua situação precária;
- 62% não encontram apoio na resolução de questões éticas das rotinas laborais;
- 1225 euros é a remuneração média líquida dos jornalistas respondentes no ativo.
Além da greve, haverá concentrações de jornalistas ao longo desta quinta-feira em vários pontos do país: em Coimbra, pelas 9h00; no Porto, na praça Humberto Delgado, pelas 12h00; , o mesmo acontecendo à mesma hora em Ponta Delgada, no Jardim Antero de Quental, pelas 12h; em Lisboa, no Largo do Camões, pelas 18h00, em que também se faz um apelo à sociedade civil para estar presente.