A Galp e a Northvolt chegaram a um acordo para a criação de uma joint venture, que terá o nome “Aurora”, para o desenvolvimento de uma cadeia de valor integrada de baterias de lítio.
A apresentação deste acordo foi dada a conhecer esta terça-feira em Lisboa, pelos responsáveis das duas empresas num evento que contou ainda com a presença do Ministro do Ambiente.
Capacidade de produção anual estimada: até 35 mil toneladas de hidróxido de lítio destinado à produção de baterias.
Esta joint-venture pretende, assim, “estabelecer a maior e mais sustentável unidade integrada de conversão de lítio da Europa”, desenvolvendo em Portugal uma unidade com uma capacidade de produção anual inicial de até 35.000 toneladas de hidróxido de lítio destinado à produção de baterias.
O hidróxido de lítio é um material crítico na indústria de fabrico de baterias de ião lítio, que se espera que cresça mais de dez vezes até ao final da década.
A fábrica em questão utilizará um processo de conversão comprovado, aproveitando as recentes melhorias de processos e tecnologias para aumentar a sustentabilidade e eficiência. Além disso, a joint-venture ambiciona utilizar energia verde no processo de conversão, minimizando assim, ou até evitando, a dependência do gás natural como acontece na abordagem convencional.
Operações comerciais em 2026
A joint venture está atualmente a realizar estudos técnicos e económicos e a analisar as várias possíveis localizações, de norte a sul do país, para a unidade.
A decisão final de investimento ainda não ocorreu, mas a joint-venture prevê que as operações se iniciem até ao final de 2025 e que as operações comerciais tenham início em 2026.
Com base em projetos semelhantes, a instalação poderá representar um investimento estimado de cerca de 700 milhões de euros e criará 1.500 empregos diretos e indiretos.
A joint-venture está também a explorar as opções adequadas de financiamento no âmbito da transição energética, de modo a reforçar o desenvolvimento do projeto.
A matéria-prima para a produção desta fábrica será concentrado de espodumena, para o fornecimento do qual Galp e Northvolt preveem estabelecer parcerias com fornecedores que garantam um abastecimento de elevada qualidade.
De onde virá a matéria-prima?
Certo é que os volumes necessários de concentrado de espodumena para servir esta futura fábrica exigirão que a matéria-prima venha não apenas de Portugal, mas também do estrangeiro. Canadá é um dos locais que se perfila como preferenciais para a joint-venture captar a matéria-prima – por causa das garantias de cariz ambiental dadas por esta nação; Brasil e Austrália são outras origens em cima da mesa.
A estimativa de Galp e Northvolt é que a unidade fabril seja capaz de produzir hidróxido de lítio suficiente para a produção de 50 GWh de baterias por ano, o que seria o suficiente para montar em 700 mil veículos elétricos.
Ao abrigo do acordo, a NorthVolt garantirá um consumo de até 50% da capacidade da unidade para utilização no seu próprio fabrico de baterias, designadamente na sua fábrica localizada em Skelleftea, Suécia.
“Os parceiros da joint-venture estão comprometidos com a aplicação dos mais elevados padrões de sustentabilidade, nomeadamente na extração e concentração de espodumena, no processamento de hidróxido de lítio, bem como em todos os processos relacionados. Os parceiros estão confiantes de que a Península Ibérica possui recursos que podem ser extraídos com uma baixa pegada de emissão de gases de efeito de estufa, utilizando os mais elevados padrões de proteção do ambiente e dos direitos humanos, em conformidade com as melhores práticas da indústria e políticas ambientais, assegurando assim um valor sustentável a longo prazo para todas as partes interessadas”, afirma a Galp em comunicado.
Denominada Aurora e com uma participação de 50/50 da Galp e dos suecos da Northvolt, a joint venture estudo neste momento a possível localização para o projeto em Portugal.
A energética portuguesa justifica a sua participação na joint-venture “Aurora” como fazendo parte da sua estratégia de desenvolver novos negócios alinhados com a transição energética, “tirando partido das suas competências industriais e da sua presença regional como uma empresa integrada de energia, e um dos maiores produtores de energia solar na Península Ibérica. Os projetos devem enquadrar-se no plano de descarbonização adotado pela Galp, bem como nas suas diretrizes de alocação de capital, conforme anunciado no passado Capital Markets Day da Empresa”.
Para o CEO da Galp, Andy Brown, “esta é uma oportunidade única para reposicionar a Europa como líder numa indústria que será vital para reduzir as emissões globais de CO2, de acordo com as prioridades europeias e portuguesas em matéria de alterações climáticas. Para sermos bem-sucedidos neste compromisso, devemos todos trabalhar em conjunto, indústria e decisores, com um sentido de urgência, porque se não reivindicarmos este papel hoje, outros o farão”, conclui Andy Brown.
Paolo Cerruti, co-fundador e COO de Northvolt, diz que “o desenvolvimento de uma indústria europeia de fabrico de baterias proporciona uma tremenda oportunidade económica e social para a região. O alargamento da nova cadeia de valor europeia a montante para incluir as matérias-primas é de importância crítica. Esta joint-venture representa um grande investimento nesta área e posicionará a Europa não só com um caminho para o fornecimento doméstico de materiais-chave necessários no fabrico de baterias, mas também com a oportunidade de estabelecer um novo padrão de sustentabilidade no aprovisionamento de matérias-primas”.
Cerruti defende que “esta iniciativa vem complementar uma estratégia global de sourcing baseada em elevados padrões de sustentabilidade, fontes diversificadas e exposição reduzida a riscos geopolíticos”.